Leonardo Valle

Todas as terças-feiras, às 20h, um grupo de pessoas LGBTQ+ e simpatizantes se reúnem no Museu da Diversidade Sexual, em São Paulo (SP), para cantar. Trata-se do Coral Câmara LGBT, que há três anos agrega participantes de todos os gêneros e idades.

“A iniciativa foi criada para dar voz à comunidade por meio do canto e da arte. Ela surgiu em um momento em que nós ainda não estávamos sendo tão perseguidos e, agora, se tornou ponto de amor e de acolhimento”, resume o maestro e fundador, Ettore Verissimo.

Entre os participantes está a atriz Janna Julian, que vê na atividade uma forma de estreitar os laços da comunidade.

“É uma atividade importante pelo sentimento de pertencimento a um grupo que ela proporciona. Por mais que um coral seja feito para o outro, para fora, os coralistas sentem que podem ser eles mesmos nesse espaço. Eles se identificam e veem que não estão sozinhos”, analisa.

Para maestro Ettore Verissimo, Coral Câmara LGBT se tornou ponto de amor e de acolhimento (crédito: divulgação)

 

“Ao final, é justamente esse o princípio de um coral: várias vozes que, juntas, se tornam uma só”, destaca.

Os ensaios são gratuitos e abertos ao público. Entretanto, há cota de 50% para a comunidade LGBTQ+.

“O espaço é também social, garantindo um lugar seguro para novas amizades, combatendo depressões e todos os males psicológicos infligidos nessa população que, muitas vezes, não tem apoio nem dentro da própria família”, lamenta Veríssimo.

O repertório mescla canções de denúncia da LGBTfobia a músicas de celebração. “É uma forma de educar a sociedade. Ao final das apresentações, é comum tanto o público quando os próprios participantes se emocionarem”, declara Julian.

“Vejo como um espaço livre e democrático em prol do pertencimento e do reconhecimento dos LGBTQ+ como iguais, como comunidade, apesar do ódio que nos cerca”, acrescenta o maestro.

Resgate da autoestima 

Durante as Olimpíadas de Londres, em 2012, a população em situação de rua da cidade foi, pela primeira vez, incluída na programação oficial do evento. Na ocasião, foi criado o Coral Uma Só Voz (With One Voice), capitaneado pela ONG Streetwise Opera. Em 2016, a iniciativa foi aplicada na Biblioteca Parque Estadual do Centro, no Rio de Janeiro (RJ). Hoje, continua em atividade no Museu do Amanhã.

“Uma vez sensibilizados e tocados com o poder da arte e da música, os participantes buscam novos objetivos, voltam a se perceber como agentes de suas próprias vidas e, com isso, se responsabilizar por mudanças que queiram aprofundar”, diz o mediador social da área de relações comunitárias do Museu do Amanhã, Fábio Moraes.

Coral Uma Só Voz em apresentação no Museu do Amanhã (crédito: Guilherme Leporace)

 

“Temos vários casos de coralistas que, a partir desse contato, sentiram o desejo de se reconectar com suas famílias ou voltar ao mercado de trabalho. O maior benefício é o resgate da autoestima que potencializa a busca por novas possibilidades”, acrescenta.

O coral se reúne todas as quartas, das 10h às 16h, no Terreiro de Curiosidades do museu. Qualquer pessoa adulta pode entrar. “Preparamos uma ficha social, que deve ser preenchida pelo interessado. Caso haja vaga, a pessoa, então, inicia sua participação. As vagas são sujeitas à lotação do espaço”, orienta.

Para comunidades que desejam replicar as iniciativas, Moraes deixa algumas dicas. “Entender e acreditar no potencial de cada um e estar aberto a trocar. Apresentar novas possibilidades para além das que já conhecem, sem menosprezar as já existentes em suas vidas”, diz.

“Outra dica é deixar claro para o grupo que existem regras, preferencialmente, construídas com a participação de todos”, afirma.

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Crédito das imagens principais: Guilherme Leporace

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