Leonardo Valle

Uma pesquisa da Universidade de Brasília (UnB) com médicos do Distrito Federal revelou desconhecimentos sobre a homossexualidade que podem afetar diretamente a saúde dessa população. Os pesquisadores Renata Corrêa-Ribeiro, Fabio Iglesias e Einstein Francisco Camargos traduziram o questionário norte-americano Knowledge about homosexuality (Conhecimentos sobre a homossexualidade) e o aplicaram a 224 profissionais atuantes.

Entre os resultados, 40% das pessoas não sabiam que a homossexualidade não é considerada doença – mesmo com a sua retirada do manual de transtornos mentais, da Associação Americana de Psiquiatria, em 1973. Além disso, 27% desconheciam ser impossível converter um homossexual em um heterossexual.

“Não há respaldo científico na literatura médica que indique terapias conversivas, por serem ineficazes e não terem justificativa”, reforça Corrêa-Ribeiro.

Além disso, 32% dos entrevistados achavam que pessoas se tornam homossexuais por escolha própria. “Estudos mostram que a crença da ‘escolha ou livre opção’ se associa a atitudes mais negativas em relação a essa população. A ideia aumenta o preconceito pois gera a crença que se pode deixar de ser caso queira”, lembra.

Houve ainda a percepção por 7% da amostra que os homossexuais são mais propensos a seduzir jovens garotos. “Para esse grupo, parece haver a crença da associação entre homossexualidade e pedofilia”, analisa.

Segundo a médica, o desconhecimento de profissionais de saúde sobre o tema pode gerar informações e condutas equivocadas. “Minorias sexuais e de gênero podem receber informações incorretas ou um tratamento hostil e preconceituoso”, justifica.

Automedicação e medo

Além da aplicação do questionário, os pesquisadores realizaram uma revisão da literatura médica sobre a relação de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros com o sistema de saúde. Os resultados apontaram que desconhecimento e preconceito levam essas populações a ter receio de acessar os serviços de saúde; procurá-los tardiamente ou em situações extremas; propensão a automedicação ou busca de informações sobre tratamentos em farmácias, revistas, amigos e internet; maior risco de adoecimento mental, suicídio, câncer e suscetibilidade a doenças sexualmente transmissíveis.

“Lésbicas, por exemplo, fazem menos frequentemente exames preventivos do câncer de colo do útero ou de triagem de câncer de mama”, aponta.

Em outro estudo, que avaliou o comportamento de profissionais de enfermagem em relação a pacientes com orientações sexuais distintas, foi evidenciado que esses profissionais visitavam menos pacientes homossexuais internados. As visitas também eram mais rápidas e eles recebiam menos orientações no momento da alta hospitalar.

“Todas essas especificidades médicas somadas ao desconhecimento da classe a respeito de aspectos elementares sobre a homossexualidade deixa a população LGBTI em situação de vulnerabilidade até mesmo ao buscar atendimento “, analisa.

Gênero e orientação sexual

O desconhecimento da equipe médica sobre o tema pode levar a diversos erros, como exemplifica Corrêa-Ribeiro. “Lésbicas recebem a informação errada de que não precisariam fazer coletas preventivas do câncer do colo uterino pela falsa ideia de que elas não poderiam contrair o vírus HPV ou outras doenças sexualmente transmissíveis (DST). Essa informação é equivocada, pois todas as DSTs podem ser contraídas em relações entre mulheres”, alerta.

Nos outros estudos levantados, a pesquisadora encontrou o relato de lésbicas que saíram da consulta ginecológica com uma prescrição de contraceptivo, apesar de não precisarem se prevenir de gravidez. “Algumas dessas pacientes não podem fazer ecografias transvaginais por terem hímen íntegro e, nesse momento, é comum comentários preconceituosos por parte do ultrassonografista como: é virgem nessa idade?”, ilustra.

Por fim, também se mostrou comum a confusão entre orientação sexual (gênero pelo qual a pessoa se sente atraída) e identidade de gênero (que é a aceitação ou não do sexo biológico de nascimento). No estudo de Corrêa-Ribeiro, 55% dos médicos errou a questão referente a essa diferença. “Esse desconhecimento das diferenças entre os membros do grupo LGBTI também gera muitas informações equivocadas, como a crença de que homossexuais querem mudar de sexo”.

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Crédito da imagem: AndreyPopov – iStock

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