Leonardo Valle

Era 2013 quando a produtora executiva Alessandra Jeszensky e o fotógrafo Sandór Kiss se mudaram para a Rua Minas Gerais, em São Paulo (SP). Em frente ao seu prédio, avistavam um enorme canteiro usado como descarte de entulho e ponto de usuários de drogas. Vendo potencial na área como espaço de lazer, Jeszensky escreveu uma carta convidando os moradores dos três prédios da rua para um mutirão de limpeza em um sábado pela manhã. “Bati na porta dos outros dois edifícios e pedi aos síndicos para anexarem a carta no elevador. No dia marcado, apareceram 14 pessoas”, relembra.

Nas semanas seguintes, o grupo decidiu criar uma horta no local. Para isso, precisou iniciar um processo de recuperação do solo, que estava completamente seco. “Fizemos uma composteira e pessoas que tinham minhocário começaram a jogar o chorume embaixo das árvores. Também pedimos para a prefeitura não ensacar as folhas que eram varridas. Isso tudo fez o solo mudar completamente”, comemora.

A união com um grupo que buscava um local da cidade para homenagear o engenheiro Sérgio Salvadori fez com o que a área ganhasse, finalmente, o status legal de praça. “A área passou a existir”, destaca Alessandra.

Transformação radical

Nem tudo, entretanto, foram flores no processo de revitalização do espaço. Para tentar melhorias, como bancos, iluminação e equipamentos de exercícios, o grupo bateu na porta da subprefeitura da região. Em quatro anos, de todos os pedidos, o único atendido foi uma mureta para que a terra da praça não escorresse para a calçada. “Claro que eu acho um absurdo ficar no escuro. Gostaria de usufruir de uma praça no fim de semana, não construir uma. Mas, ainda assim, ficamos felizes por oferecer isso aos demais moradores da cidade”, confessa a produtora.

Praça Engenheiro Sérgio Salvadori, em São Paulo, que foi revitalizada por moradores do entorno

 

Os primeiros sinais de que o projeto estava dando certo surgiram quando Alessandra avistou uma senhora usando um balanço que havia sido instalado no dia anterior. Dias depois, uma universitária desceu do prédio para fazer um trabalho no banco da praça. “Um pai, que tem um filho internado no Hospital das Clínicas, deixa seu outro menino aqui brincando com seu carrinho. É emocionante ver tudo isso porque era uma área em que ninguém entrava”, aponta.

Da internet para a rua

Outro caso de sucesso de união de moradores ocorreu na Praça da Coruja, na Vila Madalena, em São Paulo. Em 2008, o grupo conseguiu a aprovação de um projeto de revitalização junto à subprefeitura. O local praça ganhou pisos drenantes, biovaletas para desacelerar a água da chuva, dois parquinhos infantis e paisagismo. Quatro anos depois, membros da comunidade do Facebook “Hortelões Urbanos” decidiram criar uma horta no espaço. Nascia a Horta das Corujas.

“A subprefeitura destinou mão de obra para ajudar na construção da cerca, e nós, civis, providenciamos o material necessário”, conta a mediadora de conflitos e participante, Madalena Buzzo.

No espaço destinado ao cultivo, foi autorizado apenas o plantio de hortaliças. “A horta precisa de manutenção diária, e esse é o maior desafio: ter voluntários disponíveis e entusiasmados”, garante Buzzo.

Para quem deseja revitalizar uma praça da sua região, Alessandra Jeszensky indica abrir um canal de comunicação na prefeitura e envolver o máximo de pessoas possível. “Assim, todos viram guardiões e se sentem responsáveis pelo local. Hoje, muitos moradores inibem gente de jogar entulho na praça, coisa que não faziam antes”, compara. “Um espaço apropriado se transforma num lugar de acolhimento e amizades. Eu diria que nos faz entender o que é ser um vizinho solidário”, acrescenta Buzzo.

Outra dica é não desistir frente às frustrações. “Por exemplo, já roubaram as madeiras da praça. Uma verba destinada ao local não foi liberada pela prefeitura. Tentamos que os ônibus que passam pela nossa rua, que estão com a rota desviada, voltassem a circular no corredor de ônibus. O jeito é ir conversando e insistindo”, aponta a produtora.

Nas fotos, Alessandra Jeszensky e Sandór Kiss. Crédito: Leonardo Valle

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