Leonardo Valle
Calcular qual será a reação da cobertura vegetal da floresta amazônica com a mudança do clima ajuda a estimar o impacto do aquecimento global no Brasil. Um estudo que realizou simulações usando 14 modelos computacionais de vegetação concluiu que, dentre os diversos fatores que podem influenciar na questão, destaca-se a escassez do elemento fósforo na floresta. Sua falta impediria as árvores de reagir ao aumento de gás carbônico atmosférico associado às mudanças climáticas.
O artigo Amazon forest response to CO2 fertilization dependent on plant phosphorus acquisition (tradução livre: Resposta da floresta amazônica à fertilização com CO2 depende da aquisição de fósforo pela planta) foi publicado na revista Nature Geoscience e é assinado por um grupo de pesquisadores liderado pelo ecólogo David Lapola, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Segundo os autores, uma possibilidade é que a floresta, submetida a estresse hídrico, poderá encolher, cedendo espaço para uma vegetação típica do cerrado – processo conhecido como “savanização”.
Outra possibilidade é que as plantas podem ser capazes de superar as dificuldades impostas pela mudança climática, baseada em experimentos realizados em florestas temperadas chamado Free-Air Carbon Dioxide Enrichment (Face). A maior concentração de gás carbônico (CO2) no ar – uma das causas do aquecimento global – poderia ajudá-las a crescer sem gastar muita energia.
Para saber se essa premissa é válida também para florestas tropicais, um consórcio internacional liderado pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) planejou um experimento similar a ser realizado ao norte de Manaus.
Interpretações
No experimento de Lapola, os pesquisadores do projeto simularam, em computador, a dinâmica do fluxo de carbono, fósforo e nitrogênio sobre as árvores. Após o aumento de CO2 proporcionar um efeito positivo para as plantas, o nitrogênio escasso no solo se tornou limitante, e o carbono, abundante. A dinâmica foi influenciada pela falta de fósforo.
Dos 14 modelos matemáticos usados pelos cientistas, três consideravam apenas o ciclo de carbono e cinco também levavam em conta o nitrogênio. Outros seis incluíam o fósforo. Quando comparados uns com os outros, os resultados indicaram que a escassez de fósforo dos solos amazônicos comprometeria em cerca de 50% a capacidade das árvores de absorverem o carbono extra que estará no ar.
Com Agência Fapesp
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