Leonardo Valle

Uma pesquisa sobre o direito ao protesto no Brasil mostrou que 78% dos entrevistados afirmam que manifestações podem transformar o país, apresentando uma percepção favorável da sua realização. Os dados são do relatório “As restrições ao direito de protesto no Brasil”, da organização não-governamental (ONG) internacional de direitos humanos, Artigo 19.

Em contrapartida, 38% dos entrevistados concordavam com a frase “protestos e manifestações servem para criar atritos, não soluções”, 34% que estes “são mais um ato festivo do que efetivo” e 39% que essas iniciativas “mostram falta de maturidade do povo brasileiro”.

De acordo com as pessoas ouvidas, para ser eficiente um protesto precisaria gerar uma mudança positiva, deveria tratar de uma causa coletiva, próxima e espontânea; não deveria ser violento e ser apartidário. Segundo a ONG, os números “apontam para uma certa polarização a respeito da visão sobre os protestos e manifestações”.

Na fase quantitativa, foram entrevistadas 1.029 pessoas por telefone, das classes A, B, C, D e E, que responderam a um questionário de 15 minutos de duração, com uma questão aberta. Na fase qualitativa, formaram-se 6 grupos com 3 pessoas cada, eles participaram de um debate online com duração aproximada de uma hora e meia, no qual se aprofundou os tópicos e as descobertas feitas na etapa anterior.

Direito restringido

Além da pesquisa sobre as percepções da população sobre manifestações e democracia, o relatório analisou como, em um período de cinco anos a partir de junho de 2013, os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário lidaram com o direito de protesto.

De acordo com a entidade, “os elementos apresentados sugerem que o Estado brasileiro vem fortalecendo seus instrumentos para reprimir e silenciar vozes dissonantes em diferentes níveis”.

A publicação traz também recomendações aos três poderes para a garantia do direito de protesto no Brasil. Entre elas, está a orientação para que as casas legislativas rejeitem qualquer proposta de mudança da Lei nº 13.260/2016 (Lei Antiterrorismo). Entre as alterações que podem ter efeitos sociais negativos, a ONG destaca as mudanças na conceituação de terrorismo que a torne mais ampla ou imprecisa; ampliação do rol de atos materiais considerados terroristas; o aumento das penas previstas ou a instituição de novas agravantes.

Veja mais:
Ativismo artístico utiliza diferentes linguagens e promove manifestações no espaço público
Fotografias dos protestos de junho de 2013 são reunidas em banco de dados digital
Brasil é o país das Américas com menor liberdade de imprensa
Qual é a diferença entre liberdade de expressão e manifestação de ódio?

Crédito da imagem: GabrielPevide – iStock

0 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments

Talvez Você Também Goste

Notícias

Publicação gratuita orienta sobre o direito ao protesto no Brasil

ONG Artigo 19 apresenta estratégias e instrumentos jurídicos que garantem manifestações

há 3 anos
Notícias

Historiador da Unesp explica origem dos grupos antifascistas em podcast

Segundo José Adriano Fenerick, artistas como Charlie Chaplin também combateram o fascismo no plano cultural

há 4 anos
Notícias

Fotografias dos protestos de junho de 2013 são reunidas em banco de dados digital

“Grafias de junho” traz mais de 2 mil imagens de diversas formas de manifestação

há 6 anos
Notícias

Brasil registra maior queda em liberdade de expressão entre nações

Entidade internacional analisou dados de 2015 a 2018 em 161 países

há 4 anos

Receba NossasNovidades

Receba NossasNovidades

Assine gratuitamente a nossa newsletter e receba todas as novidades sobre os projetos e ações do Instituto Claro.