Ouça também em: Ouvir no Claro Música Ouvir no Spotify Ouvir no Google Podcasts Assina RSS de Podcasts

Faça o download do podcast
Confira a transcrição do áudio

Marcelo Abud

Greta Thunberg, de 16 anos, chamou a atenção do mundo no final de setembro, ao participar da Cúpula do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU). A sueca foi convidada, juntamente com outras 15 crianças e adolescentes, para formalizar uma reclamação contra crises ambientais em cinco países, entre eles o Brasil.

Paloma Costa tem 27 anos e representa o Brasil na luta pelo desenvolvimento
sustentável (crédito: arquivo pessoal)

 

No grupo também havia duas brasileiras: Catarina Lorenzo, surfista de 12 anos, e Paloma Costa, 27, ativista ambiental, coordenadora do Grupo de Trabalho (GT) do Engajamundo e assessora do Instituto Socioambiental (ISA), entrevistada neste podcast.

Costa discursou na abertura do evento realizado às vésperas da Assembleia Geral da ONU. “Acredito que a grande vitória foi toda essa visibilidade e, agora, a obrigação que todo mundo tem sentido em colocar a gente nesses espaços. A gente chegou e não vai se calar”, afirma a recém-formada em direito na Universidade de Brasília (UnB).

Quando crianças e jovens exigem das autoridades atitudes concretas contra a crise climática estão praticando uma das máximas da chamada justiça intergeracional, explica o professor do Departamento de Filosofia e Teoria Geral do Direito da Universidade de São Paulo (USP), Eduardo Bittar, também ouvido nesta edição.

“Ao cobrarem líderes mundiais, elas estão demonstrando que o mundo adulto se acomodou, se acovardou, se despediu de seus deveres. Por isso, elas têm, sim, coerência entre a atitude de vida e luta pública”, justifica ele, mostrando que esses jovens ativistas possuem, acima de tudo, autoridade moral e política para cobrar atitudes mais amplas em prol do desenvolvimento sustentável.

Paloma ao lado de Greta, durante a abertura da Cúpula pelo Clima na ONU (crédito: arquivo pessoal)

 

No áudio, os entrevistados citam a convergência que há entre direito ambiental e desenvolvimento sustentável, conversam sobre equidade entre gerações para que se protejam os direitos das gerações futuras; e tratam da necessidade de que limites sejam respeitados, a fim de que todos usufruam de um meio ambiente ecologicamente equilibrado e saudável.

Links:
Assista ao documentário “O Amanhã é hoje”, sobre o cotidiano de brasileiros impactados pelas mudanças climáticas
Veja o discurso de Paloma Costa na abertura da Cúpula do Clima da ONU, em setembro de 2019 

Transcrição do áudio:

Trechos de falas de Paloma Costa e Eduardo Bittar:
Eduardo Bittar: “A vida deve ser preservada hoje para que haja vida amanhã.”
Paloma Costa: “Nós jovens somos sim partes de todo esse processo. É a gente que vai estar nessa posição que eles estão hoje daqui a algum tempo. Por que não a gente ser parte de toda responsabilidade agora e discutir junto?”
Eduardo Bittar: “Temos que proporcionar as mesmas condições de vida saudável que nós herdamos dos nossos ancestrais às novas gerações.”

Vinheta “Instituto Claro – Cidadania”

Música de Reynaldo Bessa de fundo 

Marcelo Abud:
Paloma Costa é uma jovem ativista ambiental, formada em direito. Eduardo Bittar, professor associado da Faculdade de Direito da USP.

Nesta edição, eles falam sobre justiça entre gerações e explicam por que devemos ouvir o recado de crianças e jovens sobre a preservação do futuro de todos.

Eduardo Bittar:
Ao cobrarem líderes mundiais, elas estão demonstrando que o mundo adulto se acomodou, se acovardou, se despediu de seus deveres. Por isso, elas têm, sim, coerência entre a atitude de vida e luta pública, força de convicções em prol do interesse de todos e um tipo de convicção desprendida de qualquer interesse particular. E elas têm, acima de tudo, autoridade moral e política pra cobrar atitudes mais amplas em prol do desenvolvimento sustentável.

Paloma Costa:
Esse pensamento atrasado de que não existe crise climática, ninguém mais cai nisso. Já está tendo essa consciência geral de que a crise não é amanhã. O amanhã é hoje, sabe? A gente mesmo fez um documentário, o Engajamundo, em parceria com o ISA e outras organizações que se chama exatamente “O Amanhã é Hoje”.

Áudio de trechos do documentário “O Amanhã é hoje”:
Depoimento de mulher: “A pior seca que eu achei foi em 2012 mesmo.”
Depoimento de homem: “Naquele momento, na incerteza de saber dos meus filhos, o prejuízo material não estava me dizendo nada…”
Depoimento de mulher: “Foi muito aterrorizante, assim, entender a velocidade e a força do mar…”
Depoimento de mulher: “Eu tive medo pelo meu filho na ressaca, medo de ter um tsunami mesmo…”
Depoimento de mulher: “Então isso me toca muito.”

Paloma Costa:
E a gente mostra, efetivamente, como a crise climática tem, sim, impactado as pessoas. E isto está acontecendo agora, isto está acontecendo hoje.

Eduardo Bittar:
As atuais gerações não podem se valer predatoriamente do mundo como se não houvesse futuro. Se tomarmos o conceito mais tradicional de justiça que nós conhecemos na área do direito, como a capacidade de dar a cada um o seu, as gerações futuras têm o direito à vida e esse é o seu das novas gerações.

Música: Rádio Táxi – Nova Geração (Wander Taffo, Lee Marcucci, Maurício Gasperini)
“Se a gente perder o medo / De dizer, de dizer / De tomar a decisão / O desejo eterno de viver / Faz nascer / Uma nova geração”

Paloma Costa:
A gente entende assim, como juventude, que tudo que a gente faz em rede tem muito mais efeito e mais força, né? Então, recentemente, a gente criou uma rede internacional de conselho da juventude, que a gente possa trabalhar assessorando mesmo diretamente os tomadores de decisão, pra que eles tomem decisões significativas, ambiciosas e eficientes, né? Que, realmente, caminhe pra esse futuro que a gente tenta construir todos os dias com as nossas mãos.

Eduardo Bittar:
Como todo movimento de conquista ou de busca por efetivação de direitos e, no caso aqui, no campo do direito ambiental, nada é simples, nada é autoexecutável ou automático. E, portanto, não é porque está previsto na legislação que será cumprido. Não é porque existe um protocolo a respeito disso, que isso será efetivado na prática. É sempre necessário movimento de luta, organização, informação, disseminação e também de pressão sobre os governos.

Paloma Costa:
Todo esse movimento de ir às ruas, que começou lá com a Greta sozinha, mas que hoje está muito maior que a Greta, que hoje revelou ativistas climáticos já há anos, que estão fazendo coisas incríveis, como por exemplo, os meninos jovens lá do Xingu, reflorestando as terras, trocando sementes. Então, acredito que a grande vitória foi mesmo, assim, toda essa visibilidade e agora é a obrigação que todo mundo tem sentido em colocar a gente nesses espaços, tipo como eu, participando da abertura do Climate Action Summit. E agora a gente chegou e a gente não vai se calar.

Eduardo Bittar:
Desde que isso seja feito de modo pacífico e por uma causa comum, de interesse de todos, quase sempre é necessário um grande símbolo de luta. E é isso que a jovem Greta Thunberg com outras lideranças jovens, como a Catarina Lorenzo e a Paloma Costa, essas duas últimas brasileiras, é isso que elas representam no momento: a síntese de uma luta em prol do futuro.

Paloma Costa:
Eu acredito que existem vários caminhos. O primeiro, que eu acredito ser o mais de enfrentamento direto, estar diante do problema e fazer alguma coisa sobre ele, é o ativismo mesmo: ir às ruas, se reunir coletivamente com outros jovens e fazer demandas que façam sentido pra sua comunidade, pro local onde você mora, pra sua cidade, pro seu país, pro mundo. Então esse eu acredito ser o primeiro passo.

Música: Ideologia (Cazuza)
“Meus inimigos estão no poder / Ideologia / Eu quero uma pra viver / Ideologia / Eu quero uma pra viver”

Paloma Costa:
Existem várias outras formas que a gente pode tá se juntando pra garantir um futuro mesmo e justo, ambientalmente. Por exemplo, na esfera política, a gente tem como atuar no congresso, participando de agências públicas, participando dos comitês de gestão, participando das reuniões, dos conselhos, trabalhando diretamente com as pessoas que estão nessas posições, mandando e-mail, marcando reunião, conversando com eles, mostrando nosso ponto de vista a nível internacional. Muito do que a gente faz dentro das conferências é conversar mesmo com os tomadores de decisão, apresentar ideias, apresentar projetos, apresentar caminhos, apresentar soluções…

Marcelo Abud:
Na justiça ambiental, um dos conceitos é o respeito à igualdade de direitos entre gerações.

Eduardo Bittar:
Esse conceito de equidade intergeracional se interliga ao de desenvolvimento sustentável, pois o desenvolvimento sustentável é o meio atual para atender as necessidades desta geração, sem comprometer as necessidades das futuras gerações. O que esse conceito traz também é a ideia de que o desenvolvimento econômico não é incompatível com a preservação do meio ambiente e que, portanto, existe a possibilidade de um desenvolvimento moderado, equilibrado, pensado, criticamente avaliado, que se vale de novas técnicas de produção, que se apoia em fontes cada vez menos poluentes, pra que o impacto disso em direção às novas gerações não seja tão danoso.

Paloma Costa:
Muitas dessas pessoas com mais de 50 anos – e eu tenho a sorte de conviver próximas a elas – foram pessoas que trabalharam a sua vida toda e seguem trabalhando pra criar uma agenda socioambiental aqui dentro do nosso país, no Brasil. E essas pessoas que ajudaram a criar essa legislação forte, que está sendo destruída, ajudaram a criar uma governança socioambiental, que tá sendo também destruída. Com essas pessoas eu acredito que o conhecimento é na base de troca, tanto a gente aprender com eles os erros, os acertos que eles tiveram no caminho, quanto eles aprenderem com a gente, como eles têm feito, do que a gente entende ser o caminho, do que a gente tem visto, do que a gente tem tentado e tem dado certo. Mas pras pessoas com mais de 50 anos, céticas, eu aconselho que eles parem um pouquinho e escutem, sabe, porque a gente está mostrando das formas mais simples, até porque a gente nem tem recursos assim, o que tá acontecendo. E como a gente tá ficando impaciente com o que tá acontecendo.

Renato Russo em show do final dos anos 1980:
“Vão construir a p… da usina nuclear num lugar que vai afundar. Então não precisa ter acidente, vai ter acidente” (pessoas ovacionam a fala do cantor)

Marcelo Abud:
Renato Russo tinha a idade de Paloma Costa quando fez esta manifestação na abertura da música Angra dos Reis, em 1987.

Música: Angra dos Reis (Renato Russo), Legião Urbana
“Quando as estrelas começarem a cair / Me diz, me diz pra onde a gente vai fugir?”

Marcelo Abud
Crianças e jovens do mundo todo cobram medidas efetivas em relação à crise ambiental. Dar ouvidos a elas é uma forma de seguir no caminho do desenvolvimento sustentável e garantir o futuro às atuais e próximas gerações.

Com apoio de produção de Daniel Grecco, Marcelo Abud para o Instituto Claro.

0 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments

Receba NossasNovidades

Receba NossasNovidades

Assine gratuitamente a nossa newsletter e receba todas as novidades sobre os projetos e ações do Instituto Claro.