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Marcelo Abud

Recém-lançado, o livro “Téo & o Mini Mundo” reúne, em ordem cronológica, de 2012 até 2019, as tirinhas criadas originalmente como webcomics (série para internet) por Caetano Cury. “Eu tive a necessidade de falar mais de coisas humanas, de sensações, emoções. E aí eu tive a ideia de criar um personagem que observava o mundo dentro de um microscópio. E dentro desse mundo tudo pode acontecer”, explica o ilustrador e jornalista.

Com aspectos originados por pensamentos ligados também à psicologia e à psicanálise, a essência das tirinhas é a filosofia. Para isso, o menino Téo conta com as percepções da borboleta Eulália.

“Ela é uma reunião de tudo que eu já li e ouvi, e tenho lido e ouvido, do que faz elevar o espírito, uma junção das filosofias orientais, grega e alemã. Então, tudo que eu tenho visto de bonito, de profundo que eu tenho esbarrado durante o meu caminho, eu tento puxar alguma coisa.”

Nas imagens, feitas no processo de aquarela e depois digitalizadas, veem-se o menino na companhia dessa borboleta filosófica e um microscópio para observar o mundo. “Tive a ideia de fazer o microscópio, porque estava andando e vi uma livraria com muita gente. Aí fiquei pensando se eu desse um ‘zoom’ e visse o que cada um está lendo, será que estariam lendo alguma coisa legal?”

A proposta de Cury é gerar reflexões profundas sobre o eu e o nós, os mundos de dentro e de fora, expressas em textos simples, ritmo tranquilo e ilustrações lúdicas e delicadas.

Transcrição do áudio:

Caetano Cury:
Eu tive a necessidade de criar um personagem que fosse algo que tinha mais a ver comigo naquele momento. E aí veio a ideia de criar um personagem que falasse um pouco mais das coisas humanas, de sensações, de emoções. Só que, ao mesmo tempo, eu não queria ter um personagem fixo. E aí eu tive a ideia de criar um personagem que observava o mundo dentro de um microscópio. E dentro desse mundo tudo podia acontecer.

Eu sou Caetano Cury, autor de uma tirinha chamada “Téo e o Mini Mundo”, que foi lançada em 2012 na internet e que virou livro agora.

Vinheta: “Instituto Claro – Cidadania”

Música instrumental, de Reynaldo Bessa, de fundo

Marcelo Abud:
Na webcomic “Téo e o Mini Mundo”, um menino usa seu microscópio para fazer com que cada um de nós olhe mais para dentro de si mesmo.

Neste podcast, Caetano Cury, grava algumas audiodescrições das tirinhas com exclusividade para o Instituto Claro.

Ele revela que a base para provocar reflexões profundas em tirinhas de fácil compreensão é a filosofia.

Caetano Cury:
…que faz a gente ter essa visão um pouco mais afastada e menos apaixonada das coisas, com uma aproximação cada vez maior das coisas são em si. Se é que é possível a gente enxergar a coisa em si.

Som de rabiscos em uma prancheta

Audiodescrição – Tirinha envelhecimento

Caetano Cury:
Página 45. Mostra uma cena dentro de um círculo. O círculo remete à lente do microscópio em que o Téo fica observando as pessoas lá do alto. Então, tem uma cama com abajur, tem um lençol vermelho estendido, ocupando mais ou menos 1/3 da cama, e tem uma pessoa deitada na posição de feto sobre o travesseiro.

Na sequência, o Téo olhando pro microscópio, com a Eulália ao lado, e o Téo diz:

– O velhinho parece um feto. O que lhe afeta?

Aí a Eulália responde:

– Afeto.

Som de rabiscos em uma prancheta

Caetano Cury:
Depois da filosofia, vem um negócio chamado psicologia ou também psicanálise. Está tudo no mesmo balaio, que é tentar entender quem nós somos. Cada um com uma espécie de lente, mas todas elas olhando para o mesmo objeto que é o eu, que é quem nós somos, as pessoas individuais e como elas se comportam em grupo.

Música: “Rock Estrela” (Léo Jaime)
“Quem sou eu / E quem é você / Nesta estrada eu não sei dizer / Mas eu acredito / Que ninguém tenha vindo / Pro mundo a passeio”

Marcelo Abud:
Quem acompanha Téo em suas observações minuciosas do mundo é a borboleta Eulália, uma espécie de consciência elevada do menino.

Caetano Cury:
Há uma pequena pista que ela surgiu dentro de um estômago, mas isto também pode ser uma metáfora. A única personagem que aparece com o Téo é a borboleta. Não aparece outra figura humana, não aparece pai, não aparece mãe, irmão, amigo, nada. Apenas ela e árvores e plantas e, de repente, uma casinha numa paisagem rural. Fica aberto: ele vive em uma outra dimensão? Ele é um Deus? Porque Téo significa Deus. Ele é um Deus? Ele é um alienígena, ele é um humano da Terra e descobriu um mini mundo dentro do microscópio dele? Tudo isso fica em aberto.

Ela é uma reunião de tudo que eu já li e já ouvi, e tenho lido e ouvido, e me faz elevar o espírito, uma junção das filosofias orientais, filosofia grega e filosofia alemã. Então, tudo que há de bonito, de profundo, que eu tenho esbarrado durante o meu caminho, eu tento puxar alguma coisa para que ela tenha também esta missão de disseminar as coisas que os grandes falaram. Não exatamente ao pé da letra, mas o sentido da palavra de alguns filósofos, tentar traduzir e simplificar através da Eulália.

Música: “Borboleta” (Robertinho De Recife / Nana Vasconcelos), com Marisa Monte
“Eu sou uma borboleta pequenina e feiticeira / Ando no meio das flores procurando quem me queira”

Audiodescrição

Som de aquarela sendo pintada

Caetano Cury:
Página 87. Eulália sentada no chão. Téo também sentado no chão, olhando para o microscópio. Eulália diz: “Você passa muito tempo observando os outros nesse microscópio. Deveria olhar mais para dentro de si. Reconhecer seus medos e angústias. Enfrentar seus demônios internos. Assumir e aceitar suas fraquezas”. Aí o Téo pergunta: “Vai doer?”. E ela responde: “Vai”. Aí o Téo, que tinha ficado em pé, dá uma curvada, põe a mão pra trás das costas, olha pensativo para o chão, olha para o microscópio e senta-se de novo e continua olhando para o microscópio.

Som de aquarela sendo pintada

Caetano Cury:
Essa tirinha em si, ela pode ser uma analogia à rede social, ao celular, ao computador, essas coisas que a gente fica o tempo todo conectado… Só que tem uma diferença: quando a gente está olhando os outros pelo celular, a gente está olhando o que os outros querem que a gente veja. A gente não está vendo a realidade em si. A gente está vendo una realidade editada. No caso do microscópio ou da observação a olho nu da vida, a gente vê a realidade mesmo, a gente vê o que a gente quer. Tudo isso depende do olhar do observador.

Música: “O Quereres” (Caetano Veloso)
“Onde queres revólver, sou coqueiro / E onde queres dinheiro, sou paixão / Onde queres descanso, sou desejo / E onde sou só desejo, queres não”

Caetano Cury:
Cada um vai ler com um microscópio diferente. Cada um vai ajustar a sua lente de acordo com aquilo que está sentindo, está vivendo. Porque tem uma tirinha que o Téo pergunta para a Eulália: “E agora, o que a gente faz?”. Aí a Eulália responde: “Faz”. Isto você pode colocar numa situação de alguém que está vivendo um problema emocional, está vivendo uma falta de alguém; ou pode ser também uma questão política, alguém que está inconformado com a situação política do país: “Bom, o que que eu faço agora?”. “Bom, cada um faz a sua parte”. Agora, como isso vai ser interpretado, eu não tenho controle. Tem muita gente que fala “nossa, essa tirinha foi feita pra mim”. Quantas pessoas dizem “essa tirinha foi feita pra mim”. Mas foi feita para você, porque você viu, na tirinha, algo que você está sentindo.

Som de aquarela sendo pintada

Caetano Cury:
Na página 38, os quadrinhos não têm contorno. Então, é apenas o Téo e a Eulália duplicados, eles aparecem duas vezes pra dar o ritmo. Então, na primeira vez que eles aparecem, o Téo fala: “ Tem um cego pedindo esmola no semáforo”. E a Eulália pergunta: “E os motoristas?”. E, aí, na próxima cena, o Téo responde: “Se fazem de surdos”. E a Eulália não diz nada.

Marcelo Abud:
Caetano considera Téo uma espécie de bússola, que o ajuda a “enfrentar” o mundo.

Caetano Cury:
Como eu registrei algumas coisas muito sutis e que têm um valor ético e moral bastante elevado, eu preciso seguir aquilo ali. Porque se eu não fizer aquilo que eu estou dizendo, não vai ter sentido nenhum. Tem tirinha que fala “Estou triste porque você gritou comigo”; “Não, não porque você gritou comigo, mas porque eu gritei com você de volta”. Tem muita gente que olha isso e “nossa, isso mexeu comigo”. Mas será que o cara que faz isso também é assim? Isso que ele está descrevendo é o que ele é? É pelo menos uma tentativa de registrar um comportamento elevado e que acaba sendo uma espécie de norte para eu seguir.

Música instrumental, de Reynaldo Bessa, de fundo

Marcelo Abud:
Seguindo a filosofia da borboleta Eulália, que afirma que é preciso ajustar as lentes do microscópio para mudar o mundo para melhor, as tirinhas da série “Téo e o Mini Mundo” estão registradas em livro e continuam a gerar reflexões nas redes sociais.

Com apoio de produção de Daniel Grecco, Marcelo Abud para o Instituto Claro.

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