O Brasil possui uma tradição de poetas contemporâneos, reconhecidos tanto no país quanto premiados em outras partes do mundo. Muitos desses autores refletem sobre temas atuais – como racismo e igualdade de gênero – e exploram a relação da poesia com outras formas de arte, como música, teatro e cinema. Com isso, podem ajudar a aproximar estudantes da educação básica desse gênero literário.
“O contato dos jovens com essas produções contemporâneas é importante por tematizar questões relevantes às suas vidas e mais próximas de suas experiências, facilitando a familiarização com esse tipo de texto e sua apreciação. Isso pode despertar o interesse pela literatura de todas as épocas”, justifica a professora do programa de pós-graduação em letras da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Ermelinda Maria Araújo Ferreira. “A leitura de poemas invade outras dimensões da nossa formação, acionando a consciência crítica, educando a sensibilidade, favorecendo a empatia, ampliando os horizontes da percepção e capacitando para a criatividade”, complementa.
Para celebrar o Dia Mundial da Poesia, comemorado hoje, 21 de março, conheça oito poetas contemporâneos por meio de obras selecionadas pela professora.
Poemas da recordação e outros movimentos
Conceição Evaristo, Editora Malê, 2016.
Nascida em uma favela de Belo Horizonte, Evaristo cursou Letras na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e estreou na literatura em 1990. Doutora em literatura comparada, ela possui obras traduzidas para o inglês. Em “poemas da recordação”, resgata temas sociais, religiosos e familiares.
Câmera lenta
Marília Garcia, Companhia das Letras, 2018.
Vencedor do Prêmio Oceanos, de 2018, o livro estabelece uma relação com o universo do cinema. Segundo Italo Moriconi, na orelha da obra, trata-se de uma “poética desbravadora, sofisticada, antenada”.
O martelo
Adelaide Ivánova, Guarupa, 2017.
Jornalista, poeta, tradutora e fotógrafa nascida em 1982, no Recife (PE), Ivánova aborda temas como violência de gênero e relação. Em 2018, “O Martelo” recebeu o Prêmio Rio de Literatura, na categoria Poesia.
Outro
Augusto de Campos, Editora Perspectiva, 2015.
Nascido em 1931, Campos é um dos principais nomes da Poesia Concreta. “Outro” é um livro de poemas-visuais cujo o título, segundo o autor, é resultado de um jogo de palavras a partir dos prefixos ingleses “in” e “out”. O “in” seria o espaço internalizado do ser humano enquanto o out se configuraria como o externo, ou “o outro”.
Pesado demais para a ventania – antologia poética
Ricardo Aleixo, Todavia, 2018.
Uma seleção que contempla a produção do poeta mineiro durante seus 25 anos de carreira. São 105 poemas divididos em seis conjuntos. A obra possui afinidade com o movimento concretista e mescla reflexão sobre a realidade social com outras formas de arte, como música e teatro.
Um útero é do tamanho de um punho
Angélica Freitas, Cosac Naify, 2012.
O livro da escritora e jornalista gaúcha reúne poemas escritos a partir de um tema central: a mulher. Nele, Freitas reflete com humor as questões de gênero. A obra venceu o prêmio de melhor livro de poesia de 2012 da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA).
Geografia íntima do deserto
Micheliny Verunschk, Landy, 2003.
Finalista do Prêmio Portugal Telecom de 2004, a obra se transformou em uma representante da poesia contemporânea brasileira. Reúne poemas escritos durante a juventude da autora, em uma atmosfera que, segundo a própria, apresenta influência romântica e de escritores como João Cabral de Melo Neto.
Livro das postagens
Carlito Azevedo, 7 Letras, 2016.
A obra é dividida em dois poemas longos: “Livro do cão” e “O livro das Postagens”, que é recortado por citações, imagens e frases. Poeta e tradutor, Azevedo, já em sua estreia na literatura, foi premiado com o Jabuti, por Collapsus Linguae (1991).
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