Segurança, atenção às pessoas com deficiências, boa infraestrutura e professores presentes. Estes foram os principais tópicos levantados por 1551 jovens entre 15 e 19 anos ouvidos na pesquisa “Repensar o Ensino Médio”, realizada pelo movimento Todos Pela Educação. Para a coordenadora de Articulação e Mobilização do movimento, Carolina Fernandes, as percepções dos adolescentes revelam dois pontos importantes: eles não encontram na escola suportes básicos e gostariam de ser ouvidos.

“Vemos que os atributos que eles consideram mais importantes são justamente os que mais faltam”, pontua. “Esse jovem não foi ouvido durante as discussões da reforma do ensino médio, mas penso que ele ainda poderá participar durante a implantação. Repensar a etapa exige um diálogo com ele”, destaca.
Quais as necessidades desse estudante do Ensino Médio identificadas na pesquisa? 
Carolina Fernandes: O objetivo da pesquisa era trazer o que jovem vê na escola, e suas percepções ofereceram informações importantes. Esses jovens destacaram atributos como segurança, atenção com alunos deficientes e professores engajados em sala de aula. Ou seja, o aluno está reivindicando o básico  – e não o tem. Vemos que os atributos que eles consideram mais importantes são justamente os que mais faltam: boa infraestrutura, professor todos os dias na escola e mais atenção à diversidade.
Por que a segurança foi um ponto destacado? 
Carolina Fernandes: A questão da segurança tem duas frentes. A primeira é a segurança na escola , que inclui proteção contra bullying e violência escolar. Mas também a proteção contra a violência externa. Nesse sentido, é necessária uma abordagem intersetorial que envolva a secretaria de educação e a de segurança pública para compreender e sanar o problema.
Como é a relação com os professores? 
Carolina Fernandes: A pesquisa aborda o que o aluno não vê na escola atualmente e o que eles gostariam de ver. E um ponto levantado são os professores lecionando com paixão, conseguindo dar atenção a todos os alunos, sem deixar ninguém para trás. Essa insatisfação é reflexo da falta de professores contratados na escola, da baixa valorização profissional e de alunos com diferentes níveis em sala de aula.
Esse jovem vê a profissão de professor como uma opção para o seu futuro?
Carolina Fernandes: Perguntamos sobre quem gostaria de ser professor no futuro. Entre aqueles que ainda estão cursando o ensino médio (a pesquisa também ouviu recém-formados), 64,6% disseram que nunca pensaram em seguir esta profissão; 20,6% cogitaram seguir, mas desistiram. Por fim, 14,9% dizem que desejam e seguirão a carreira de professor. Os motivos que levam a desistência é que eles enxergam o professor desrespeitado na escola, desvalorizado e submetido a baixos salários. Isso afasta os adolescentes da carreira docente.
Comparando a pesquisa com as atuais diretrizes da reforma do ensino médio, o que você destacaria? 
Carolina Fernandes: Não é possível friccioná-las diretamente, já que a pesquisa não utilizou as propostas da reforma em seus parâmetros. Mas podemos destacar alguns elementos. Primeiramente, que os jovens não foram ouvidos para a reforma. As discussões aconteceram no Congresso, não nas escolas. E não é possível repensar esta etapa sem travar um diálogo com os estudantes. Esse estudante gostaria de ser ouvido, de poder participar. Afinal, é ele que está na escola no dia a dia. E a pesquisa mostra que esse aluno gostaria de ver uma escola conectada com os seus interesses, com a sua realidade externa e que o possibilite pensar num projeto de vida.
 
Esse jovem ainda poderá ser ouvido?
Carolina Fernandes: Penso que ainda há oportunidade desse jovem poder falar e ser ouvido durante a implantação da reforma. Vemos esse movimento já em algumas secretarias de educação e no terceiro setor. Esperamos que ele se consolide.
 
A pesquisa revela alunos desejando ser mais atuantes, com 43% afirmando ter participado de algum movimento social. A reforma do ensino médio garantirá mais protagonismo?  
Carolina Fernandes: A possibilidade de escolher disciplinas é uma tentativa de garantir que esse jovem seja protagonista dentro do seu percurso de aprendizagem. Mas há desafios e só conseguiremos saber o que funciona na prática, ou seja, quando a Base Nacional Comum Curricular do Ensino Médio for divulgada e quando a reforma começar a ser implantada.
 
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