Falecida em 20 de janeiro de 1919, aos 62 anos, a educadora Anália Franco dedicou sua vida à inclusão de meninas e de crianças negras e pobres à educação.

“Ela iniciou como professora auxiliar em 1868, no período imperial, escravista e extremamente patriarcal brasileiro. Sua primeira ação educativa se voltou ao acolhimento de crianças negras abandonadas, em 1871, após a Lei do Ventre Livre”, conta a doutora em História da Educação pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Samantha Lodi-Corrêa. “Ela tinha segurança em seus atos e convicção de que a mudança da sociedade brasileira só viria com muito trabalho. Por isso, agiu”, destaca.

Confira, na íntegra, a conversa que tivemos com a Lodi-Corrêa sobre a luta e o legado de Anália Franco, 100 anos após seu falecimento:

Em qual contexto Anália Franco desenvolveu seu trabalho?

Samantha Lodi-Corrêa: Anália Franco foi uma educadora brasileira que viveu entre 1853 e 1919. Nasceu em Resende (RJ), mas teve uma atuação sócio-educacional forte na cidade de São Paulo, onde faleceu. Seu trabalho também se estendeu pelo interior e cidades de outros estados. Iniciou como professora auxiliar em 1868, no período imperial, escravista e extremamente patriarcal brasileiro. Sua primeira ação educativa se voltou ao acolhimento de crianças negras abandonadas em 1871, após a Lei do Ventre Livre. No início da República, dirigiu o periódico “Álbum das Meninas”, que funcionou como um laboratório de ideias da educadora, envolvendo de romances a críticas ao governo. Em 1901, fundou a Associação Feminina Beneficente e Instrutiva de São Paulo, com a participação exclusiva feminina, para o desenvolvimento educacional, profissional e cultural de mulheres e crianças. Nela, organizou escolas e material didático, incentivando a instrução na capital e no interior, por onde passava com seu grupo dramático-musical formado por mulheres.

Quais foram suas contribuições para a educação do país?

Lodi-Corrêa: Anália Franco aparece como uma precursora da escola maternal em nosso país, além de ter um trabalho preocupado com a autonomia de mulheres e crianças, incluindo órfãs, por meio da educação. Em seus textos, reforçava a necessidade de instrução da mulher, que ainda tinha um espaço restrito no mundo das letras e nenhuma participação política. Por meio de manuais, incentivava o ensino escolar e domiciliar para aquelas com restrições ao acesso institucional escolar. Além de se preocupar com o acesso à educação em relação ao número de vagas escolares, também estava atenta à metodologia educacional, pensando na melhor forma de aprender. Por isso, usou, na época, renomados educadores europeus, como Pestalozzi e Marie Pape-Carpantier, por exemplo.

Por que é importante, para os educadores de diferentes áreas, conhecerem o trabalho de Anália Franco?

Lodi-Corrêa: Acredito que a dedicação e a coerência em suas ações sejam uma forma de inspiração aos educadores na construção e consolidação de um país humanitário, livre, justo, que realmente coloque a igualdade plena e a fraternidade como premissas. Anália Franco fez de sua existência uma constante busca pela liberdade, por meio do que acreditava ser o caminho mais seguro: a educação do povo. Sua militância, que, para alguns, não passava de mera caridade, possuía uma preocupação maior, que era a igualdade. Ela tinha segurança em seus atos e convicção de que a mudança da sociedade brasileira só viria com muito trabalho. Por isso, agiu.

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