Suécia, Inglaterra, Brasil, Índia, Indonésia, Espanha e Estados Unidos. Esses foram os primeiros sete países por onde um grupo de pesquisadores brasileiros já passou em busca de iniciativas inovadoras de educação. Após uma jornada mundo afora, o projeto denominado Educ-ação vai resultar em um livro com as 12 iniciativas mais inspiradoras. A escolha está baseada principalmente no critério da diversidade.

“Acho que tem um paradigma quando falamos de educação, pois parece que a escola tem que vir junto. Mas queremos mostrar uma aquarela de cores, que o aprendizado pode estar muito além”, explica o idealizador do projeto, Eduardo Shimahara.

O lançamento do livro está previsto para o primeiro semestre de 2013. Para completar a busca, o projeto pede financiamento no Catarse (cliquei para ajudar). Aqueles que contribuírem ganharão uma edição do livro impresso. A versão online terá licença Creative Commons.

O NET Educação conversou com três dos quatro pesquisadores sobre o que já descobriram de inspirador pelos países por onde passaram. Acompanhe abaixo.

NET Educação – A ideia do livro é contar 12 iniciativas de educação espalhadas pelos cinco continentes. O que os motivou a fazer um projeto como esse?

Eduardo Shimahara – Muita gente conversa sobre educação e a ideia foi de trazer outros modelos que sejam menos tradicionais. Buscar algo que não seja massificante e tente fazer as pessoas melhorarem as versões delas mesmas. Poderei apresentar para minha filha, que tem quatro anos, um cardápio de opções.

André Gravatá – Parte de um olhar que vê a educação como algo transformador, que envolve a escola, mas vai além dela. Sempre estudei em escola pública, com alto grau de precariedade, ameaça de morte, professores que faltam sistematicamente… O que sempre me fez questionar o porquê isso está sendo oferecido para mim.

Camila Piza – O Shimahara fez uma chamada para participação nesse projeto. Eu fui esperando poder pensar sobre o significado da educação e descobrir se tem escolas além do currículo pré-selecionado, que tivessem atrás de plantar semente nos alunos, para que eles sejam pessoas mais plenas.

NET Educação – Como foi o processo de escolha das 12 iniciativas?

Shimahara – Escolhemos antes de começar a fazer as visitas, porque ao estar no local, acontece um processo longo de imersão. Não apenas lemos sobre o local. Ficamos uma semana na instituição conversando com várias pessoas. Na verdade, temos 16 escolas e vão ficar 12. O que dependerá do refinamento e de aprofundar temas.

André – Desde o início estamos pensando na diversidade, porque iniciativas diferentes podem educar as pessoas dependendo de cada um. Visitei a Team Academy, na Espanha, e a grande questão lá é ser empreendedor, como aprender isso na prática em um curso dentro de universidade.

Já no Schumacher College, uma faculdade que tem diversos cursos, a grande questão é a espiritualidade e a comunidade. A ideia é ressignificar o olhar, transformar o conceito de coletivo em vivência. Eles dividem as tarefas: um aluno pode varrer o lugar e o professor fazer o jantar.


Alunos no Schumacher College, onde espiritualidade
e comunidade ganham muita importância

NET Educação – São iniciativas formais e informais as escolhidas. Mas focaram em alguma idade específica? Em crianças ou jovens?

Shimahara – Não, apresentaremos um cardápio. Uma criança poderá ter seus desejos atendidos em uma das escolas que visitamos, assim como um jovem. A Quest Learning é uma dos Estados Unidos para crianças pequenas, baseada em aprender por meio da construção de games, da realização. Crianças com tendências tecnológicas vão se sentir atraídas certamente.

Já a Green School, na Indonésia, abarca desde jardim da infância até os maiores. Não fizemos recorte único, buscamos dentro do critério de idade também trazer uma diversidade. O mais gratificante é que não existem poucas iniciativas, são milhares, inclusive no Brasil. Um terço do livro é de iniciativas brasileiras e muita gente acha que só tem coisas bacanas fora.

André – Estamos pesquisando desde o começo do ano e conversando com pessoas. São diversas fontes para que a escolha seja bem feita.

Veja abaixo vídeo sobre o projeto Educ-ação:

https://youtube.com/watch?v=m5tIFidFz9c

NET Educação – Até agora, qual a experiência que mais chamou atenção?

Camila – Estive na North Star, que fica em Hadley, em Massachusetts, e surgiu em 1996. Não é uma escola, eles se colocam como um centro de ensino auto direcionado, pois propõe autonomia para os estudantes escolherem o que querem estudar. Dessa motivação que eles saberão guiar seus caminhos. Os co-fundadores eram diretores de escola tradicional e se preocupavam com a evasão escolar.  O lema deles é “aprender é natural e escola é opcional”. É uma alternativa ao ensino fundamental, atende de 12 a 17 anos.

As regras também são interessantes. Não obrigam ninguém a assistir aulas. Num período das 9h às 15h30 tem seis aulas. Quando se dá essa liberdade, não tem o porquê eles transgredirem. Percebi que professores e alunos estão lá porque querem. Começa-se outra relação com aprendizagem e conteúdo.

André – Todas têm características muito especiais. O Yip, na Suécia, é um projeto com cerca de 40 alunos de 19 a 25 anos. Acho que uma das grandes questões é a de lidar com o eu e com o nós, o coletivo. O processo tenta valorizar o aluno e como tenta se conectar ao mundo. Eles escolhem um tema como projeto pessoal e passam um bom tempo dos dez meses procurando o que vai ser isso, também fazem trabalho comunitário com pessoas da região.

Shimahara – A Green School é o que sempre sonhei numa escola, tem como pano de fundo o desenvolvimento sustentável, eles vão além da teoria. A prática é vivido e sentido o tempo todo. A escola é inteira de bambu, e não é precária, até ganharam prêmios de design de arquitetura. Da energia consumida, 80% é solar. Toda alimentação praticamente vem do campo deles.


Prédio principal da Green School, escola na
Indonésia construída de bambu

NET Educação – Vocês escolheram o critério da diversidade para escolher as iniciativas. Poderiam falar um pouco mais sobre isso?

Shimahara – O sistema educacional vigente, tradicional, funciona. Mas tenho certeza que não para todos. Por isso, trazer luz para modelos completamente diferentes um dos outros. Essa nossa busca é quase que um convite para a próxima pergunta: e além dessas 12, o que tem mais?

André – O critério da diversidade tem muito a ver com a liberdade, reconhecer que pessoas são diferentes e têm pensamentos diversos. Cada pessoa tem paixões e possibilitar espaços que potencializem abertura para viver isso na pratica é importante.

Camila – Quando começamos a mapear, percebemos que não queríamos ficar presos a um só modelo diferente, mas que seria interessante buscar iniciativas que tenham um propósito, que sejam singulares por isso. Crianças, adolescentes, mais velhos podem se encontrar no nosso livro. A diversidade deu conta de várias opções.


O processo da Yip, na Suécia, tenta valorizar o
aluno e como ele se conecta com o mundo

NET Educação – O que ressaltariam como ponto positivo comum em todas as escolas?

Shimahara – Talvez todas elas vem ao encontro de sonhos pessoais. Uma aula de matemática na Indonésia ensina por meio de brincadeiras, pulando corda. Para aprender geometria, tem que ir buscar no galinheiro o ovo da galinha para ver as proporções. Encontrar prazer no que está fazendo. A diversidade caminhando com autonomia e liberdade.

André – A primeira coisa que penso é isso, a autonomia. Esses espaços potencializam isso. Os percursos de aprendizagem que dão voz. Esse ponto deve estar presente, uma organização em rede. Pessoas que se sentem parte de um todo, se apropriam de um processo.

Camila – Você se expressar melhor como indivíduo, esse é o grande ponto em comum.

NET Educação – Agora, quais são os próximos passos?

Shimahara – Voltaremos aos Estados Unidos, na Quest Learning. Mas o Brasil é a grande questão agora. Basicamente serão iniciativas de São Paulo, Minas e alguma outra do Nordeste. Tem possibilidade de Acre também.

André – Ainda, vamos para países da América Latina e projetos e escolas na África.

 


Sala de aula do jardim da infância na Green School

0 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments

Talvez Você Também Goste

Notícias

5 livros para conhecer mais sobre didática

Área da ciência pedagógica ajuda o professor a desenvolver estratégias de ensino eficazes

há 4 semanas
Notícias

Veja 5 links para conhecer as histórias de rainhas africanas

Para especialista, conteúdos ajudam os alunos a resgatarem a herança cultural da África

há 4 semanas
Notícias

Confira 9 links para promover uma educação socioambiental na escola

Materiais propõem debate sobre temas como desigualdade social e desenvolvimento sustentável

há 2 meses
Notícias

Veja 7 livros com histórias em quadrinhos para ensinar sobre Primeira e Segunda Guerra

Obras trazem abordagens visuais e narrativas que atraem o interesse dos alunos sobre os conflitos

há 2 meses

Receba NossasNovidades

Receba NossasNovidades

Assine gratuitamente a nossa newsletter e receba todas as novidades sobre os projetos e ações do Instituto Claro.