Os últimos dados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) realizada em 2015 apontou que 51% dos jovens brasileiros de 15 anos amargavam níveis 1 e 2 em proficiência em leitura. A nota máxima seria 6.

Para a psicóloga da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e autora do livro “O adolescente e a internet: laços e embaraços no mundo virtual”, Cláudia Prioste, essas restrições estão diretamente relacionadas à forma como os adolescentes brasileiros fazem uso da internet atualmente  O livro é fruto da tese de doutorado de Claudia, que tentrevistou 108 estudantes de 13 e 16 anos de duas escolas no mesmo bairro de São Paulo – uma pública e outra particular. Constatou-se que as atividades preferidas dos adolescentes consistiam em frequentar as redes sociais, jogar, assistir a vídeos, visitar home pages de celebridades e de pornografia.
“A relação que o jovem estabelece com o ciberespaço depende de muitos fatores, como: facilidade de acesso, aspectos econômicos, culturais, educacionais, familiares e psicológicos. No entanto, em se tratando do Brasil, há tendências que se destacam. A nossa baixa qualidade do ensino afeta significativamente a capacidade de uso e de obtenção de benefícios por meio da internet”, diz Cláudia.
”Nossos jovens conseguem apenas ler e interpretar textos muito simples. Em minhas pesquisas, observei que os problemas educacionais contribuem para que a maior parte dos jovens usem a internet apenas para se divertir e não como forma de ampliar o universo de conhecimentos. O ciberespaço tem sido mais um ambiente de diversão do que de aprendizagem”, decreta. Confira a entrevista completa!
NET Educação – Como se dá a relação do jovem brasileiro com o ciberespaço? 

Cláudia Prioste –  Nos últimos cinco anos, o país ampliou a acessibilidade, mas as dificuldades de leitura e interpretação de texto dos adolescentes interferem no uso que eles fazem da rede. O ciberespaço tem sido mais um ambiente de diversão do que de aprendizagem.
NET Educação – Por que o potencial educativo da internet não é aproveitado pelos jovens? 
Cláudia Prioste –  Como eles estão o tempo todo buscando sensações e aventuras, educacionais aquisição de conhecimento fica de lado. Nas camadas mais pobres, a situação é ainda é pior. Há um amplo mercado de banalidades, distrações e “vícios” no ciberespaço. Com uma alfabetização precária e sem apoio para desenvolverem habilidades tecnológicas e de pesquisa, os jovens são facilmente seduzidos pelo lado “obscuro” da rede. Outro fator é falta de estrutura e de disciplinas nas escolas que promovam uma verdadeira inclusão digital.
NET Educação – Como a internet impacta na construção da personalidade do adolescente?
Cláudia Prioste – A subjetividade do adolescente é constituída pelas relações psicodinâmicas estabelecidas nos diferentes espaços onde atua. Atualmente, o jovem dedica grande parte do seu tempo às atividades nos ambientes digitais. O impacto na sua personalidade dependerá, em grande parte, do tipo de atividade e das pessoas com quem se conecta. Considerando as produções mais consumidas pelos jovens na internet, nota-se a predisposição para personalidades narcísicas, impulsivas, pouco solidárias, com baixa tolerância à frustração e dificuldade para persistir na resolução de problemas concretos.
NET Educação – A internet também reflete na formação moral?
Cláudia Prioste – Vivemos uma crise moral na sociedade, com a banalização da violência. Tanto os discursos de ódio, quanto as produções violentas oferecem um deleite aos internautas por estimularem suas pulsões primitivas. Quando um indivíduo consegue destaque por seus comentários preconceituosos nas redes sociais, ele se sente envaidecido e isso estimula outros. Assim, as atitudes racistas e discursos de ódio se propagam com facilidade. A intensiva exibição de crimes e criminosos também possui potencial contagiante. De certa forma, essas pessoas ganham “visibilidade” em meio à massa dos invisíveis. Os games violentos também podem insuflar comportamentos agressivos e intolerantes, conforme demonstrado pela American Psychology Association com base em mais de dez anos de pesquisas.
NET Educação – O potencial educativo da internet está sendo explorado pelos educadores? 
Cláudia Prioste – Não. A maioria das escolas públicas possui poucos equipamentos e a internet é precária. A segunda barreira seria a formação docente deficitária e a falta de condições para preparar e ministrar uma aula usando a internet. Há ainda o mito dos nativos digitais, que faz com que muitas escolas não se preocupem em desenvolver habilidades tecnológicas nos jovens, pois acreditam que eles desenvolvem sozinhos.
NET Educação – Como a escola pode educar os jovens para a internet?
Cláudia Prioste – É preciso desenvolver projetos educativos para o bom uso da internet. Em segundo lugar, estimular os jovens a desenvolver habilidades críticas, morais e de investigação científica e tecnológica, para que se tornem protagonistas e não apenas simples usuários.
NET Educação – As redes sociais podem ser benéficas para a formação do jovem? 
Cláudia Prioste – Elas podem ser fonte de aprendizagem, mas também de dispersão. Entre os benefícios, há a expansão do círculo de relacionamentos, sendo que alguns deles podem ser aprofundados; possibilidade de trocar conhecimentos e de aprender coisas interessantes; engajamento político e sentimento de pertencimento social.
NET Educação – E como os jovens podem driblar as distrações? 
Cláudia Prioste – Atentando-se a alguns riscos: excessivo exibicionismo e exposição da intimidade; aderência e difusão de discursos de ódio; facilidade de contato com comunidades de risco; propagação de notícias mentirosas; superficialidade nas informações; falsa crença de que estão bem informados; e excessiva distração com fofocas da vida alheia. Os “likes” viciam e as banalidades podem acabar consumindo muito tempo na vida, por isso, os jovens precisam também estar conscientes do uso com moderação e sabedoria.
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