A obra ficcional de Machado de Assis é extensa: ao todo, o Bruxo do Cosme Velho escreveu nove romances e sete volumes de contos, além das centenas de histórias publicadas na imprensa e não reunidas em livro pelo autor. Toda essa produção, antes dispersa ou em edições caras, hoje está disponível no site www.machadodeassis.net, com notas explicativas em forma de links, que ajudam o leitor a compreender citações, conhecer figuras e fatos históricos mencionados nos textos, assim como os locais do Rio de Janeiro por onde passeiam Dom Casmurro, Capitu, Brás Cubas e os demais personagens machadianos.

O projeto, liderado por Marta de Senna, da Fundação Casa de Rui Barbosa (RJ), foi iniciado em 2005, com o desenvolvimento de um software para catalogar as alusões e citações feitas por Machado em seus livros. Segundo a pesquisadora, a ideia surgiu como uma forma de lidar com o imenso universo de referências da obra machadiana. “Pensei que devia haver um jeito de indexar essas citações, de tal modo que os interessados pudessem, com um ou dois cliques, saber quem foi Massinissa, onde se deu a batalha de Solferino ou que certo poeta clássico citado não era Camões (como dizia o narrador), mas, na verdade, Bernardim Ribeiro”, conta.

Em 2008, o banco de dados foi disponibilizado na internet e atualmente conta com 4046 entradas, catalogadas de acordo com o tipo de alusão (a outros autores, por exemplo, ou a lugares e instituições), o gênero e o título das obras. E o banco não para de crescer: com a inclusão de novos campos, como palavras estrangeiras e expressões em desuso, Marta calcula que o número de registros deve chegar a 6000.

Os dados compilados durante a pesquisa serviram de base para as edições em hipertexto dos romances e, posteriormente, dos contos completos de Machado, incluindo os que só saíram na imprensa. Recentemente, a décima e última fase dos chamados Outros contos (que vai de 1892 e 1907) foi ao ar, concluindo a publicação de toda a sua obra ficcional. Esta é a primeira edição anotada da ficção completa de Machado de Assis.

O trabalho editorial foi minucioso, com pesquisas às primeiras edições dos livros e às versões revisadas pelo próprio Machado, além da elaboração de notas explicativas e textos introdutórios a cada obra. Na edição de Quincas Borba, por exemplo, há 293 notas.

O resultado foi um portal útil tanto para pesquisadores e professores quanto para alunos e leitores não especializados. “O site é voltado para pessoas interessadas em Machado de Assis de um modo geral”, explica Marta, que, entretanto, confessa ter em mente, como usuário ideal do site, “o estudante brasileiro que vive longe dos grandes centros, muitas vezes sem acesso a obras de referência, mas que, se dispuser da internet, acho que terá acesso qualificado ao universo da ficção machadiana”.

Esse desejo de tornar a obra de Machado cada vez mais acessível foi o que a motivou a disponibilizar o banco de dados e as edições anotadas na internet (o site também hospeda a revista Machado de Assis em Linha, a única exclusivamente dedicada à obra machadiana). O meio eletrônico é mais inclusivo, “tem potencial para atingir um número virtualmente infinito de pessoas”, diz a pesquisadora. Além disso, ele dá mais liberdade, pois permite que o trabalho seja atualizado e aperfeiçoado constantemente.

Após dez anos de trabalho – com uma equipe que contou com nove bolsistas de Iniciação Científica, um programador e uma webdesigner – e todos os desafios enfrentados durante o projeto, Marta de Senna cita as mensagens dos visitantes do site como uma das recompensas. “Esses e-mails vêm de professores, mas vêm de alunos também. E às vezes profissionais liberais, de formação diversa, também me acham e escrevem dando depoimentos até comoventes”.

Ela também pretende viajar para apresentar seu portal machadiano a mais pessoas. “Eu costumo dizer que tenho um sonho de consumo que é ir a todos os estados brasileiros para falar desse site, divulgá-lo, torná-lo mais conhecido. Por enquanto só fui ao Rio Grande do Sul, a São Paulo, a Minas Gerais e ao Ceará. Mas tenho esperança de ir a outros estados…”, conta.

Você já conhece o portal? Que tal navegar pela obra do nosso maior escritor com um belo guia de viagem? Visite www.machadodeassis.net.

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