Como professor, admiro sempre quando um colega, de qualquer nível de ensino, realiza alguma prática interessante e inovadora. Já havia apreciado a experiência de uma professora chilena que propôs a suas alunas a elaboração de memes relacionados à obra “Cem Anos de Solidão”.

Como as teorias pedagógicas modernas observam, é fundamental, para a construção do conhecimento, que o estudante externalize o que interpreta sobre algum aspecto do mundo. Essa atividade pode ser mais ou menos individualizada ou elaborada, no entanto, precisa ser socializada, discutida – eventualmente até mais desenvolvida com a colaboração de colegas e do próprio professor.

Nesse sentido, a produção de mídia pode ser válida, como parece ter sido o caso da associação entre os memes e o livro de Gabriel García Márquez. Assim, não me surpreendi com o tom positivo de recente reportagem do “The Chronicle of Higher Education” (“Have Academics Finally Found the Perfect Meme?”, 06/04/2018) sobre o uso de um meme por professores do ensino superior nos Estados Unidos. Esse meme mostra uma discussão dos dois protagonistas (pai e filho) do reality show “American Chopper”.

A matéria é divertida e o desafio que vários professores colocam aos alunos (em termos da produção de memes) é interessante: resumir, ao longo dos quadros da discussão que compõem o meme, os argumentos essenciais de dois tipos de posicionamentos no caso dos personagens desse meme. Há um gerador de memes que facilita a tarefa dos professores que desejem realizar atividades com seus alunos.

Como sempre, o que parece ser mais destacável, em termos propriamente pedagógicos, não é a habilidade técnica para produzir o artefato midiático, mas sim a possibilidade criada por algum professor (adotada ou adaptada por outros) de utilizar criativamente a mídia em prol de determinado objetivo de conhecimento. É por isso que as ocasiões em que os docentes podem compartilhar experiências, bem como pesquisar e socializar suas práticas de ensino, são importantes. A criatividade dos professores se desenvolve desse modo, assim como quando podem refletir sobre o que faz com que determinada ação pedagógica seja proveitosa. Isso é importante, principalmente, quando envolve um território “novo” como a mídia e a cultura juvenil.

Em tempo, não gostaria de concluir essas observações sobre memes e educação sem deixar de recomendar a recente dissertação de mestrado, defendida na Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, “Memes na internet: entrelaçamentos entre educomunicação, cibercultura e a “zoeira” de estudantes nas redes sociais”, de Douglas de Oliveira Calixto.

O Instituto Claro abre espaço para seus colunistas expressarem livremente suas opiniões. O conteúdo de seus artigos não necessariamente reflete o posicionamento do Instituto Claro sobre os assuntos tratados.

Autor Richard Romancini

Richard é doutor em Comunicação, pesquisador e professor do curso de pós-graduação lato-sensu em Educomunicação da ECA-USP.

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