O forte crescimento, em escolas nos Estados Unidos, do uso de produtos (softwares) voltados à “aprendizagem personalizada” (personalized learning), faz com que John Warner (nessa postagem) aponte essa tendência como a mais recente ilusão de “bala de prata” tecnológica para resolver problemas na educação. Ele nota que há falta de evidências da eficácia dessa abordagem, indicando estudo (aqui) que mostra haver somente pequena diferença positiva na aprendizagem de leitura e Matemática de alguns grupos de estudantes que usaram essa estratégia em comparação com outros.

Uma recente matéria on-line da revista New Statesman (02/10) mostra, entretanto, já no título, como outra abordagem tecnológica, associada à anterior, pode subir ainda mais as expectativas: “Robôs professores significarão uma educação de elite para todos?”.
O título, felizmente, é mais apelativo do que a própria reportagem, que procura mostrar perspectivas de alguns gestores educacionais e pesquisadores sobre tema. É possível conhecer, assim, a experiência do software “assistente” de ensino “Jill Watson” (o nome é feminino), que é apresentado por um de seus criadores, o professor, do Instituto de Tecnologia da Georgia (EUA), Ashok Goel, em uma Conferência TED. Goel, bastante animado sobre o desenvolvimento de “Jill” (no contexto de um MOOC, significativamente, sobre Inteligência Artificial), não economiza adjetivos para falar do uso da Inteligência Artificial em Jill – que permitiu que o software interagisse, nos fóruns digitais do curso, respondendo questões rotineiras dos estudantes. O mantra da “revolução na educação” não deixa de ser entoado.
“Revolução na educação” é também o termo utilizado por outro entrevistado, o pesquisador, Anthony Seldon, autor de um livro recém-publicado, The Fourth Education Revolution: How Artificial Intelligence is Changing the Face of Learning (A Quarta Revolução da Educação: Como a Inteligência Artificial está Mudando a Face da Aprendizagem), que emprega uma retórica similar à de Goel sobre os benefícios da tecnologia. Ambos acreditam que assistentes informáticos poderão liberar o tempo dos professores para tarefas de ensino mais significativas. “Se tivéssemos computadores fazendo grande parte do trabalho de ensino repetitivo, isso significaria que os professores seriam capazes de fazer o seu trabalho muito melhor”, diz Seldon.
Os resultados concretos (bastante decepcionantes) das anunciadas revoluções educativas anteriores com base em tecnologias recomendam cautela. A matéria do New Statesman indaga se o aprendizado a partir de máquinas não prejudicaria a conexão muito humana existente entre professores e alunos. Os especialistas ouvidos dão respostas tateantes, indicando que é essa uma dimensão que precisaria ainda de muito desenvolvimento.
No momento, uma resposta mais decisiva talvez seja dada pelas fantasias de séries como Black Mirror, que mostram que a tecnologia possui efeitos colaterais. É possível lembrar também do filme Ela (Her, 2014), de Spike Jonze. Nesse caso, os beneficiados pelos sistemas informáticos são, principalmente, seus proprietários, e não os usuários.

O Instituto Claro abre espaço para seus colunistas expressarem livremente suas opiniões. O conteúdo de seus artigos não necessariamente reflete o posicionamento do Instituto Claro sobre os assuntos tratados.

Autor Richard Romancini

Richard é doutor em Comunicação, pesquisador e professor do curso de pós-graduação lato-sensu em Educomunicação da ECA-USP.

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