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Numa viagem circunstancial à Itabira (MG), o professor aposentado de literatura da Universidade de São Paulo (USP), José Miguel Wisnik, se deparou com uma relação entre a atividade mineradora e a cidade natal de Carlos Drummond de Andrade. “A gente está acostumado a pensar no poeta como aquele que diz pertencer a uma cidade de 90% de ferro nas calçadas e 80% de ferro nas almas, envolvida de corpo e alma com o mundo ferrífero. Mas eu não tinha a dimensão de que essa atividade econômica tinha provocado no local uma devastação de grande porte”, afirma o autor do livro “Maquinação do mundo – Drummond e a mineração”.

Na obra, que é destaque deste podcast, Wisnik identifica no surgimento da Companhia Vale do Rio Doce uma questão crucial para o escritor, apegado ao provinciano lugar de origem e ao mesmo tempo marcado por um sentimento cosmopolita do vasto mundo. “Com a criação da companhia, Drummond vê o Pico do Cauê, que era um cartão postal local, virar uma cratera, desaparecer, como retrata em um de seus poemas”, exemplifica, se referindo aos versos de “Montanha pulverizada”.

Extração de hematita no Pico do Cauê, antigo cartão postal que Drummond avistava do casarão em que viveu na infância (crédito: Arquivo Público Mineiro)

 

Ao descobrir esta escrita inexplorada na produção do “poeta do cotidiano”, o autor escreveu um ensaio crítico, em que, ao associar parte da poesia drummondiana ao contexto histórico da mineração, expõe um cenário propício a desastres como os que foram registrados no Brasil nos últimos anos: Mariana (MG), em 2015, e Brumadinho (MG), em 2019. “Ao longo da vida, ele acompanha essa história de uma maneira sofrida, porque vê os danos que a mineração provoca na cidade e tenta trazer isso à tona para interferir nessa relação desigual, em que a empresa acumula lucros fantásticos e Itabira não recebe uma contrapartida”, conclui o professor.

No áudio, além da entrevista com o autor de “Maquinação do mundo”, você acompanha trechos de poemas nas vozes do próprio Drummond (“Confidência do Itabirano”), do ator Fernando Silveira (“Montanha pulverizada”) e do professor titular de literatura brasileira da USP e escritor, Alcides Villaça. Ele dá voz aos versos de “A Máquina do mundo”, considerado por Wisnik o mais representativo texto do poeta sobre a devastação gerada pela mineração mal planejada. A trilha sonora é assinada por Reynaldo Bessa, que compôs as músicas da peça “O Caminho das pedras” – espetáculo com foco na obra do poeta.

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