Analisar objetos materiais, ruínas de habitações e representações simbólicas – como a arte rupestre – é papel do arqueólogo. “A partir de vestígios, ele busca entender o modo de vida das populações, suas dinâmicas sociais, sua cultura, economia e política”, resume o doutor em arqueologia da Universidade de São Paulo (USP), Guilherme Mongeló. “O seu diferencial é que ele usa primordialmente a cultura material para construir narrativas”, acrescenta.

Para a pesquisadora responsável pelo Departamento de Arqueologia do Museu Paranaense, Claudia Inês Parellada, aproximar os alunos dessa disciplina traz ganhos para a sua formação, principalmente porque permite que eles entendam as diferentes formas como a história é registrada. “O horizonte do estudante se amplia quando ele percebe que o passado pode estar representado de diferentes formas, não apenas por fontes documentais escritas”, afirma. “É comum as fontes documentais dizerem uma coisa e, quando o arqueólogo vai a campo, percebe que as informações obtidas ali são diferentes”, conta.

Mongeló aponta que a arqueologia ajuda a trazer à tona a história de populações que não produziram ou produziram poucos documentos.

“Ela revela o lado oculto dos esquecidos. Contribui mostrando uma fase de longa duração, de mais de 20 mil anos de ocupação indígena nas Américas, de toda a época dos negros escravizados, dos camponeses analfabetos, das mulheres que não tiveram acesso à educação, entre outros”, ilustra. “Nesses casos, a história e a arqueologia podem se complementar”, acrescenta.

“As contribuições das antigas populações sobre alimentação, comportamento, alfabeto, matemática, história da arte, religião e outros aspectos da nossa vida hoje são alguns dos ganhos proporcionados pela arqueologia. Ela ajuda a entender o presente”, destaca Parellada.

Decifrando pistas

 Além da pré-história e das civilizações antigas, essa disciplina pode estudar populações de qualquer tempo. O Brasil possui 26 mil sítios arqueológicos registrados no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). A maioria deles corresponde ao período pré-colonial e são antigas ocupações indígenas. “Pensamos a história do Brasil a partir das migrações dos europeus, da colonização, mas a história indígena do Brasil é mais antiga, e acredito que esse conteúdo pode ser bastante aproveitado pelos educadores”, recomenda Mongeló. “Diferentes sociedades se desenvolveram aqui nos últimos 20 mil anos, e que dizer que o Brasil é um território virgem e muito jovem é, na verdade, uma mentira”, pondera.

O papel de ‘detetive’ do arqueólogo, que analisa diferentes vestígios para compor uma narrativa, também ajuda a desenvolver o pensamento crítico do aluno.

Atividade sobre arqueologia com alunos de uma escola da rede municipal do Rio de Janeiro (RJ) (crédito: arquivo pessoal)

 

“Uma urna mortuária indígena, por exemplo, pode dizer muito sobre a tecnologia de uma determinada época, os ritos de passagem, os aspectos estéticos valorizados por aquela sociedade, entre outros”, pontua o doutor em história e professor da rede municipal do Rio de Janeiro (RJ), Washington Kuklinski Pereira. “Objetos com referência a peixes podem demonstrar a importância do mar para a economia daquela sociedade”, exemplifica.

Pereira sugere o uso de fotos e vídeos de escavações para abordar as civilizações antigas com os alunos do 6º ano do ensino fundamental. Já no 7º ano, a arqueologia pode ser aproximada ao falar dos povos africanos e da idade média. “No 8º e no 9º ano, pode-se falar das cidades demolidas e que foram reconstruídas, Canudos e as grandes guerras”, orienta.

Ele também indica montar, com os alunos, uma oficina de pintura rupestre e reproduzir um sítio arqueológico para simular uma atividade de escavação. Nela, os objetos são escavados, limpos, separados e analisados em conjunto.

Atividade sobre arqueologia com alunos de uma escola da rede municipal do Rio de Janeiro (RJ) (crédito: arquivo pessoal)

 

“Cada grupo prepara o local para o outro”, indica.  Para complementar o conhecimento do professor sobre o tema, Mongeló recomenda o Guia Temático para Professores, produzido pelo setor Educativo do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (USP).

Além disso, pode-se usar, em aula, dois jogos eletrônicos sobre os Sambaquis (cultura pré-cabralina do litoral brasileiro) e sobre o mundo clássico europeu. Os jogos também possuem guias didáticos para professores.

Veja mais:

Como os objetos podem ensinar sobre contextos históricos?
Trabalhar com fontes históricas favorece formação do olhar crítico do aluno
História oral: método usa entrevistas para trabalhar comunicação, escuta e senso crítico

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