O desinteresse nas aulas de educação física é uma realidade presente nas escolas. “Seja quando os alunos não querem participar, ficam entretidos com as redes sociais, conversando entre si ou quando acontece uma participação menos ativa. Eles permanecem na atividade, mas não se envolvem com ela”, exemplifica a educadora física e professora da rede estadual do Paraná, Tania Mara Sanches.

Coordenador do curso de educação física da Univeritas, do Rio de Janeiro (RJ), Pedro Henrique Zubcich Caiado de Castro aponta alguns fatores que podem levar ao desinteresse do estudante pela disciplina, como condição socioeconômica da escola e do seu entorno e o trabalho pedagógico do educador.

“Há o desinteresse em virtude da repetição de conteúdos por parte do docente, como pela exclusão de gênero, ou, ainda, por condições de vida e trabalho, como jornadas laborais extenuantes do aluno”, justifica.

Segundo o pesquisador, a educação física escolar tem sido trabalhada com dois grandes enfoques: os esportes tradicionais brasileiros (como futebol, handebol, basquetebol e voleibol) e a aula visando um padrão ideal e único de movimento.

“Isso não faz parte da realidade do interesse dos discentes, tampouco respeita o rendimento esportivo que pode ser alcançado por cada um deles”, argumenta.

Castro também aponta um problema de gênero nas aulas, com a figura masculina dominando o centro e os espaço das práticas.

“O conteúdo esportivo, hegemonicamente associado à figura masculina, não tem tal relação desconstruída pelo professor, o que acaba reforçando esta lógica. Portanto, parte significativa dos alunos não se sente representada neste conteúdo e pouco a pouco vai se afastando da aula, sem que haja reversão do quadro pelo educador”, diz.

Sanches lembra que o espaço físico também é um agravante. “A escola onde trabalho não possui quadra coberta. O sol, o frio ou a chuva sempre atrapalham a aula”, revela.

No caso dos adolescentes, ainda é citado o foco das instituições de ensino no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que faz com que disciplinas que trabalham com o corpo, como educação física e artes, sejam desvalorizadas.

“É considerada, como muito se escuta, uma ‘perda de tempo’”, lamenta Castro.

Envolvendo o aluno

Contra o quadro, Sanches orienta um planejamento da aula com participação dos alunos e implementação de propostas que abordem também danças, jogos e ginásticas. “Sempre procurando ampliar o leque de opções com a intenção de incluir o maior número de estudantes, ressalta.

Castro vivenciou um desafio quando trabalhava com educação física escolar numa escola pública de ensino médio noturno, no bairro do Caju, Rio de Janeiro (RJ). “Lá, os estudantes entravam tarde e saiam mais cedo, em virtude de uma longa jornada de trabalho e, também, do tráfico presente na região”, contextualiza.

Ao contrário do que se esperava, contudo, a educação física contava com o engajamento dos alunos. Isso porque, para trabalhar atividades rítmicas, o professor apresentou três tipos de estilos: o forró, o hip-hop e o axé.

“Iniciamos o conteúdo mostrando vídeos de como cada manifestação é feita pelos povos originários e os passos básicos característicos do ritmo escolhido”, revela.

“Intercalávamos as práticas com partes teóricas, mostrando como a história daquele conteúdo se relacionava com os diferentes grupos sociais. Em grupos, os estudantes montavam coreografias a partir das vivências que tiveram”, conta.

A avaliação se deu pela interação, criatividade na elaboração e execução das apresentações de dança, parte histórica e conceitual.

“No caso das turmas que escolheram forró, tivemos, ainda, uma ida ao Centro Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas, momento em que, munidos de uma ficha de observação feita pelos professores, os alunos puderam observar, in loco, como o ritmo aprendido era curtido por diferentes grupos sociais”, diz.

“Em suma, é preciso chamar para a aula diferentes manifestações da cultura corporal, pensando nos conceitos históricos e relações sociais, com atitudes inclusivas e que respeitem as diferenças”, finaliza.

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Crédito da imagem: SerrNovik – iStock

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