Grande parte dos ambientes escolares do país carecem de bibliotecas. É o que revelam os dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), que foram apresentados pelo coordenador-geral dos Programas do Livro do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), Lauri Cericato, em audiência pública na Câmara dos Deputados em dezembro de 2018. Das aproximadamente 180 mil escolas brasileiras, 98 mil ou 55% não possuíam o espaço ou uma única sala de leitura.

Essa era a realidade do Centro de Excelência 28 de Janeiro, escola estadual da cidade de Monte Alegre (SE). Em 2014, a biblioteca se encontrava fechada por falta de contratação de bibliotecário pelo Estado. Instituição de ensino e alunos se uniram, então, para fazer um projeto de monitoria de leitura no contraturno das aulas. Desde então, seis estudantes, escolhidos anualmente, se revezam nessa tarefa ao longo da semana, no período da manhã e da tarde.

Alunos monitores são responsáveis por organizar e fazer o empréstimo dos livros na biblioteca do Centro de Excelência 28 de Janeiro

 

“O projeto surgiu da necessidade, pois tínhamos um acervo bom, mas que os jovens não acessavam pela falta de funcionário”, lembra a coordenadora administrativa da escola, Antônia Iva Ferreira Melo.

“O então professor de português, Carlos Alexandre, pensou no projeto em que os alunos poderiam ajudar a organizar o espaço, convidar outros estudantes para visitá-lo e gerenciar o empréstimo de livros”, relembra.

Desde então, os seis monitores são escolhidos por meio de uma seleção realizada na disciplina de língua portuguesa. Em 2018, Vitória Gabrielle, do 9º ano, foi uma das selecionadas. “Sempre gostei de ler e vi esse trabalho voluntário como uma oportunidade de ajudar a cuidar de algo que é um bem comum. A biblioteca é de todos os estudantes”, explica. “A monitoria ainda convida os demais a irem ao ambiente e os incentiva a lerem mais, o que também é importante”, acrescenta.

Além dos monitores, Melo conta que a responsável por um dos alunos assumiu, em 2019, a tarefa de levantar tudo o que a biblioteca possui hoje no acervo. “A comunidade continua atuando em prol da causa”, explica.

Para a funcionária, o engajamento estudantil no projeto refletiu tanto no sentimento de pertencimento da escola como na melhora da escrita. “No primeiro caso, vemos que os livros estão sempre bem cuidados e que eles se preocupam verdadeiramente com o espaço. Já em relação à escrita, de 2014 para cá, sempre temos contos e poemas dos nossos estudantes em antologias organizadas pela secretaria de educação ou pelo estado do Sergipe”, revela.

Alunos recebendo prêmio em um concurso literário: engajamento estudantil influenciou na melhora da escrita

 

Lei descumprida

De acordo com a gerente executiva do Instituto Pró-Livro, Zoara Failla, a biblioteca escolar é fundamental para aprofundar o conhecimento dos alunos em temas diversos e promover seu protagonismo na construção do conhecimento.

“O ambiente, quando possibilita acesso a outras redes físicas ou digitais, amplia esse acesso a outras fontes de conhecimento. Quando oferece atividades integradas ao currículo, aumenta as possibilidades de conhecer e acessar informações e ensina a pesquisar”, indica.

A Lei nº 12.244/2010 preconiza a implantação de bibliotecas em todas as escolas brasileiras até o ano de 2020. Segundo o presidente do Conselho Federal de Biblioteconomia, Marcos Luiz Cavalcanti de Miranda, ela não tem conseguido atingir seus objetivos.

“Sua existência nas escolas é responsabilidade de todos nós. Contudo, cabe ao poder público e aos mantenedores das instituições privadas de ensino proverem, respectivamente, as unidades escolares da rede pública e da rede privada com bibliotecas, bibliotecários, infraestrutura adequada e acervo em consonância com o projeto pedagógico “, lista.

Miranda também ressalta sobre a importância da figura do bibliotecário na escola. “Considerando sua formação para atender às crianças e jovens, ele contribui para o desenvolvimento da pessoa, o estímulo à leitura, e o desenvolvimento de competência em informação para que os usuários dessas bibliotecas sejam sujeitos de sua formação escolar e social”, defende.

Failla indica para as escolas que não possuem o ambiente a mobilização dos professores para que os estudantes possam conhecer e visitar outros espaços de leitura da cidade ou região. “Outra alternativa é garantir acervos de leitura e outros materiais para pesquisa, mesmo que na sala de aula”, recomenda.

Para ela, projetos escolares que engajem os alunos nas bibliotecas também podem ajudar a melhorar os baixos índices de leitura da população no futuro. “Eles auxiliam na transformação da realidade identificada pela pesquisa Retratos da Leitura, na qual quase 70% dos brasileiros não frequentam bibliotecas”, aponta.

Veja mais:

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Crédito das imagens: arquivo pessoal

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