(crédito: divulgação)

Administrar uma cidade por um dia. Fiscalizar fronteiras. Viver como um refugiado. Essas são algumas das vivências proporcionadas por games que, cada vez mais, mostram potencial para contribuir com a aprendizagem e reflexão de temas políticos contemporâneos. “Os jogos digitais estão entre as principais mídias que predominam no século 21 e são mais do que entretenimento. Apenas recentemente começamos a discutir seu potencial educativos, como mídia de crítica social e forma de arte”, aponta a diretora do Departamento de Informação para América do Sul do Goethe-Institut São Paulo, Anja Riedeberger. Anja é organizadora da mostra itinerante “Games e Política”, que segue em São Paulo até 30 de julho de 2017 e já passou pela Indonésia, Coreia do Sul e Estados Unidos.

Os 18 games que compõem a exposição abordam temas como condições precárias de trabalho (Sunset, Phone Story), gênero (Perfect Woman, Coming Out Simulator), efeitos de conflitos bélicos (This War of Mine), refugiados (Escape from Woomera), resistência em ditaduras (Yellow Umbrella), Estado de vigilância (TouchTone e Orwell), e influência da mídia sobre a opinião pública (The Westport Independent).
 
“Jogos políticos, geralmente, são aqueles que desenvolvem a empatia. Colocam o jogador no lugar do outro, exigindo a tomada de decisões e avaliação das consequências de suas ações”, afirma a doutora em Educação Paula Carolei. “A singularidade dos jogos digitais está na capacidade de simularem processos e regras sociais, colocando os jogadores em posições nas quais podem compreender situações de maneira ativa. De forma mais veemente que outras mídias, eles possibilitam ao jogador se colocar no lugar do outro”, enfatiza. 
 
O potencial dos jogos com temáticas críticas, sociais e políticas também é um tema para quem está do outro lado da tela – os designers de game. “O objetivo desse tipo de jogo é instigar o jogador a aprofundar conhecimentos por conta própria. Nos games, os jogadores não apenas assistem ou absorvem conteúdo, mas agem e produzem conteúdo em cada jogada”, explica o game designer, Luciano Santa Brígida. Brígida é criador do jogo de cartas Deliberatório, que simula a Câmara dos Deputados. Para a aprendizagem de política, Luciano recomenda games de construção de cidades. “O jogador atua como prefeito, fazendo escolhas para redirecionar recursos e tangenciando temas como transporte e urbanismo”, opina.
 
Uso em sala de aula
Não é de hoje que política e games andam de mãos dadas. “Relatos históricos apontam que xadrez, nas suas origens, era utilizado para a resolução de conflitos”, conta o professor de Tecnologias Aplicadas à Educação da Universidade de Brasília (UnB), Gilberto Lacerda Santos. “Os jogos digitais, por sua vez, geram trilhas de aprendizagem focadas no lúdico, na curiosidade e na emoção”, aponta.
 
No mercado de games, existem jogos intitulados pedagógicos e outros com potencial educativo. Segundo Paula Carolei, ambos devem ser entendidos pelo professor como experiência e recurso. “É um recurso como o filme, porém, interativo. E por ser interativo, as ações do jogo são tão importantes quanto o seu conteúdo. Caso contrário, o aluno apenas irá responder questões conteudistas”, adverte.  “Se eu desejo trabalhar liderança, mas o jogo tem uma dinâmica reativa – o aluno respondendo perguntas –  o objetivo não será alcançado”, orienta.
 
Segundo Paula, um erro comum é escolher um jogo buscando o conteúdo exato a ser ensinado. “Não existe o jogo perfeito. Por ser um recurso, o jogo exige do professor uma estratégia pedagógica. Assim, é preciso pensar o momento de aplicar o jogo e o que será feito depois. É a redação de um texto a partir do ponto de vista do personagem? É uma roda de debates?”, questiona. “O papel do professor é estruturar essa aprendizagem, caso contrário, a vivência ficará apenas no campo emocional”, acrescenta. 
 


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