Ensinar relevo e paisagens apresenta alguns desafios para os docentes de geografia. “Há a necessidade de partir de materiais concretos para que os alunos compreendam conceitos abstratos, como escala e placas tectônicas”, exemplifica a professora Camila Alves Brito. “Além disso, cada um possui facilidade em aprender com um determinado tipo de recurso. É preciso contemplar todos os estudantes e atender as suas diversas inteligências”, complementa.

Para superar esses desafios, Brito, em parceria com o educador Bruno Novaes Araújo, elaborou um percurso pedagógico diferente para ensinar o conteúdo ao oitavo ano da Escola Estadual Professora Clarice de Magalhães Castro, de São Bernardo do Campo (SP). A docente dividiu a classe em grupos, não por afinidade, mas mesclando alunos com diferentes níveis de entendimento da disciplina. “Uma prova anterior já havia me oferecido um panorama sobre os jovens que possuíam mais dificuldades e aqueles que dominavam os conteúdos”, conta.

Além disso, ela solicitou autorização da coordenação pedagógica para que os grupos de alunos utilizassem o celular nas atividades realizadas em cada estação. “Pela minha observação, 90% possuíam o aparelho e acesso à internet. A questão maior aqui foi lidar com o fato de que, para a maioria deles, o uso do dispositivo móvel se restringe às redes sociais. Foi necessário ampliar essa percepção”, relembra.

“O objetivo era que eles alcançassem o grau máximo da abstração, que é conseguir ler o mundo a partir do conteúdo que eles viram em sala de aula”, destaca a professora de geografia (crédito: arquivo pessoal)

 

As aulas começaram com perguntas que provocavam discussões, como “o que é uma montanha?”. “Os estudantes sempre me traziam questionamentos sobre como pesquisar e usar a rede de uma maneira que não configurasse cópia. Pensando nisso, fiz um complemento: aquilo que era informação e descrição mais aprofundada, pedia que eles pesquisassem na internet para ver imagens e trouxessem prints do que haviam encontrado de mais interessante para discutirmos”, revela.

Intervenção do homem

Para atingir conceitos abstratos, Brito começou o percurso didático com materiais concretos. “Primeiramente, falamos sobre o relevo da região de São Bernardo do Campo e suas paisagens, como a mata atlântica”, descreve.

“Na sequência, ampliamos do contexto local para o global e abordamos a cordilheira dos Andes, a mais próxima da nossa região. Os estudantes manipularam um globo terrestre para identificá-la e para compará-la com outras cordilheiras ao redor do mundo. Também usaram escala e se colocaram em contexto”, acrescenta.

Ao final dessa etapa, os grupo participaram de atividade gamificada com um quebra-cabeça de paisagens, que devia ser montado com tempo cronometrado. Terminado esse momento, chegou a hora de introduzir temas mais complexos e que exigiam senso crítico do aluno.

Percurso pedagógico contou com materiais concretos, como globo terrestre e quebra-cabeça de paisagens, e pesquisas via internet (crédito: arquivo pessoal)

 

“O objetivo era que eles alcançassem o grau máximo da abstração, que é conseguir ler o mundo a partir do conteúdo que eles viram em sala de aula, que aplicassem questões problematizadoras”, justifica.

Para o compartilhamento de reportagens e jogos sobre clima e atualidades, a professora utilizou a plataforma Fábrica de Aplicativos e criou um produto que permitia aos alunos compartilharem conteúdo via QR code.

“Usei como proposta um conceito do educador Aziz Nacib Ab’Sáber sobre fisiologia da paisagem. O objetivo era que o aluno entendesse o aspecto geomorfológico e climático da região; o aspecto histórico, ou seja, como essa região foi ocupada e a intervenção do homem sobre a natureza. Assim, eles começam a entender enchentes, desmoronamentos e outros fenômenos relacionados à ocupação humana, assim como aspectos sociais. Por exemplo, porque as áreas de risco são, geralmente, ocupadas pela população em situação de vulnerabilidade social”, contextualiza.

Para docentes que desejam elaborar um percurso pedagógico similar, Brito indica diversificar as atividades oferecidas e também apostar em recursos artísticos. “Caberia aqui, por exemplo, também utilizar músicas que se relacionassem com o conteúdo de relevo e paisagem. Algo que outros professores podem fazer”, recomenda.

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Crédito da imagem: Rawpixel Ltd – iStock

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