As aulas de educação física são um dos principais momentos em que o bullying entre os alunos pode se manifestar. A conclusão é da professora do programa de doutorado em educação física da Universidade Católica de Brasília (UCB), Carmen Campbell. O tema é debatido sistematicamente por ela e seus estudantes Arthur Ferreira, Bárbara Araújo e Gabriel Lemos, que pesquisam a temática.

“Isso acontece devido às diferenças de desempenho entre a turma e o espírito competitivo, que quando empregado de maneira negativa, predispõe a essas ações”, afirma.

Segundo o doutor em educação pela Universidade de Passo Fundo (UPF), Rodrigo José Madalóz, os tipos de bullying mais comuns nessa disciplina são a violência verbal, psicológica e moral. Em uma pesquisa publicada em 2019, ele e a educadora física Jéssica Renata Kupske Ebling mapearam as formas que o problema se manifestava entre alunos do ensino médio de uma escola pública na cidade de Missões (RS).

Contornar a situação, entretanto, passa primeiramente pelo docente, que não deve negligenciá-la. “O bullying geralmente se manifesta por meio de atitudes prepotentes e discriminatórias dos estudantes mais dotados em relação aos com menor disponibilidade motora. O papel do educador é, por um lado, não favorecer situações em que estas assimetrias ocorram, ao proporcionar atividades em que o nível de complexidade seja ajustado a todos. Por outro, é estar atento e intervir quando essas atitudes ocorrem”, aponta o professor da Universidade do Minho (Portugal), Fernando Marcelo Ornelas Melim.

De acordo com ele, o docente nunca deve ignorar as situações esperando que se resolvam por si. “Pode agir numa lógica mais de justiça restaurativa, em que o agressor deve compensar a vítima pelos seus atos, e menos punitiva”, orienta.

“Esse profissional não deve estimular somente o desenvolvimento do aspecto motor do aluno, mas também sua construção pessoal, para que o indivíduo possa interagir bem socialmente”, acrescenta Campbell.

Jogos cooperativos

A professora indica a utilização de jogos coletivos, cooperativos e atividades lúdicas para prevenir o bullying na educação física. Eles estimulam os alunos a se unirem para vencerem, juntos, determinados desafios propostos.

“Os jogadores são instruídos a cooperar e ajudar uns aos outros para atingir um objetivo comum, promovendo, assim, cooperação, integração, inclusão, aceitação, parcerias, respeito às diferenças e o desenvolvimento de vínculos afetivos e sociais”, lista.

“Coloca-se o objetivo não na competição entre grupos, mas, sim, na melhor concretização da tarefa que cada grupo pode realizar, ao rentabilizar as capacidades articuladas dos seus membros”, acrescente Melim.

Para completar, diferentes aptidões são valorizadas nos jogos cooperativos. “Geralmente, a vítima de bullying sofre por não apresentar habilidades para jogar, todavia, pode ter um excelente raciocínio lógico. Cabe ao docente estimular situações onde a turma reconheça isso e possa enaltecer diante de todos como forma de valorização de seu potencial”, conta Madalóz. “A ideia é agregar, trabalhar com o espírito de cooperação e empatia”, resume.

Outra sugestão são os esportes adaptados. “Um exemplo clássico ocorre quando, em um jogo de futebol, handebol ou basquete, a bola geralmente não é passada para aquele que não possui habilidades. O professor pode orientar que, para o gol, o arremesso ou a cesta deve passar por todos os participantes para ser validado”, ensina.

Nesses casos, o docente precisa planejar as aulas com antecedência, pois pode envolver modificação do espaço, das regras, entre outros. “Vale também construir com a turma possibilidades de jogos e situações onde todos possam participar de alguma forma, a partir do que são capazes de realizar”, ressalta.

Nas respostas da professora Carmen, colaboraram os graduandos de educação física da UCB, Arthur Pereira Franco Ferreira, Bárbara Maria Silveira de Araújo e Gabriel dos Santos Lemos

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Crédito da imagem: monkeybusinessimages – iStock

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