Poesia, música, teatro, dança, grafite, roda de leitura, produção de informação e estudo de direitos humanos. As atividades fazem parte do cotidiano do coletivo T’amo Vivo, composto por jovens de 17 a 22 anos, moradores do Jardim Ibirapuera, localizado na periferia da zona sul de São Paulo (SP). Os dez garotos e três garotas que compõe o grupo têm como objetivo fomentar cultura na região pobre da cidade e para isso, se reúnem toda semana na ONG Bloco do Beco.

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“O sistema não traz lazer nenhum para nós, nenhum! O Estado, o governo. Você pode ver que na quebrada não tem lazer. Você tem que pagar para ir pro ‘rolê’, e longe daqui. Por isso juntar para fazer isso. Um lazer que a gente tem não só para a gente, mas para a comunidade onde moramos”, conta uma das integrantes, Raissa Alves.
 
Quando perguntado o que mais gosta de fazer no grupo, ela responde enfaticamente: “Tudo. Porque tudo envolve tudo. Então, gosto de tudo. Não é só uma coisa específica. Aqui aprendemos a lidar um com o outro. As limitações de cada um. A respeitar o próximo. Aprendemos a gostar de coisas que a gente não tem contato.”
 

Parte do coletivo T’amo Vivo durante o Festival Percurso, em junho
 
União, resistência, cangaço, Maria Bonita e Lampião, Panteras Negras, luta, amizade, família e conhecimento. As palavras foram elencadas pelos participantes do T’amo Vivo como definidoras do próprio coletivo, que surgiu de uma roda de conversa entre três dos membros do grupo. “Falamos sobre a importância de ter um movimento cultural na quebrada, um lugar que a gente pudesse colar, trocar ideia e se sentir mais a vontade”, conta Willian Bastos. Mas qual será o nome do coletivo? Pensaram em T’amo Vivo. “Para mostrar que realmente a gente está vivo”, diz o jovem Harrys.
 
Uma das iniciativas recentes do grupo foi chamada de “escadão cultural”. Após reunir grafiteiros e realizar atividades, um escadão do Jardim Ibirapuera ganhou mais cor. “Estava meio cinza e abandonado, e colorido temos mais ânimo de andar na quebrada”, avalia Douglas Neves. Outro evento que acontece todo último sábado do mês que conta com a organização do grupo é o Sarau Preto no Branco. “Diversidade. Ela faz o circo ou ele. Ele vai no curso de direitos humanos, o outro dança um break, ele faz um grafite e traz o conhecimento para a nossa base. Assim, vamos nos fortalecendo”, diz Thiago Dantas, também do coletivo.
 

Jovens assistem poemas declamados durante o Sarau
Preto no Branco (Crédito: Loredana de Oliveira)

 
Ainda, alguns dos integrantes passaram a fazer um curso para edição de vídeo no Centro de Direitos Humanos e Educação Popular (Cedehep). “Estamos produzindo um sobre porque o menor de idade está no tráfico? Ele sai da porta de casa e ele já tem a visão do tráfico. Tem mãe que não consegue dar condição e ele vai a luta como, sem trabalho digno? Às vezes começa a se envolver com pessoas erradas”, Thiago faz a reflexão.
 
No final de junho, o coletivo foi mestre de cerimônia do Percurso, o primeiro festival de economia solidária que aconteceu no Capão Redondo, também periferia de São Paulo, com o tema: "Juventude periférica gerando renda, trabalho e desenvolvimento local". “Nenhum de nós tinha feito isso, foi uma experiência nova, mó responsa (sic)”, contam os jovens, que nos intervalos da programação, recitaram poesias.
 
Educação formal
Dois dos jovens do coletivo já se formaram no ensino médio, mas garantiram que foi difícil a missão. “Eu reprovei dois anos”, lembra Raissa. Os demais ainda estão na escola. Thiago parou quatro anos, após ser pai e conseguiu voltar. “O professor passa o que ele sabe e muitos alunos não querem saber só isso, mas também o que os outros alunos sabem. Ter uma conectividade, troca de ideia, diálogo na sala de aula, isso não tem. Então alguns acabam se desinteressando”, diz. Os jovens já estão pensando em como levar os saraus para dentro da escola, para movimentar culturalmente também próximos às salas de aula.
 
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