Gênero literário popular no Brasil, a literatura de cordel pode ser uma forma de trabalhar a escrita criativa em sala de aula. “Ela permite tratar de temas do dia a dia das pessoas. Essa liberdade temática estimula a criatividade na produção de textos”, explica o professor de literatura e língua portuguesa da Escola Técnica Estadual de São Paulo (Etec), Fagner Araújo. O docente foi organizador da coletânea “Também tem Cordel no Helipa”, com textos de alunos.

Segundo ele, a busca pelos versos também ajuda os estudantes a serem criativos. “Como se trata de um gênero ‘rígido’ em relação à métrica, ou seja, tem regrinhas poéticas que devem ser respeitadas, o cordel serve como um tipo de jogo. Só ‘ganha’ quem chega ao fim seguindo as regras de rima, ritmo e métrica”, destaca.

“Dá pra brincar de rima, usar música, fazer contas dos versos, sílabas poéticas, comédia – posto que o humor é um ingrediente importante nessa produção – e inserir simplesmente qualquer assunto ou época, desde que se saiba rimar e que se tenha ritmo”, garante.

Verbos são importantes

Empregar bem os verbos é outra dica importante para a escrita criativa, que o cordel ajuda a desenvolver. “Por se tratar de um gênero poético que aceita a narração, os verbos têm destaque no encadeamento das sentenças. É como se o cordel nos contasse uma história, com sequenciação, conflito e desfecho. Tudo isso em forma de poesia”, conta o docente.

Publicação “Também tem Cordel no Helipa” conta com textos dos alunos da Etec de Heliópolis, São Paulo (SP) (crédito: divulgação)

 

Araújo trabalha com a temática no ensino médio, mas acredita que qualquer série pode escrever a literatura de cordel. “Em cada uma delas é possível enfatizar um determinado aspecto. Seja a ilustração, desenho, xilogravura ou a escrita poética-criativa”, diz.

Nos dois primeiros anos, ele recomenda começar com a poesia em si. “A escansão [forma de divisão de versos feita a partir da sonoridade] de sílabas poéticas, as xilogravuras, oficinas de xilogravura (em parceria com os professores de arte) e utilização de música e instrumentos musicais são possíveis. E, por fim, dá para lançar um desafio: escrever estrofes com determinados números de versos, quantidades de sílabas e uma ordem definida de rimas, por exemplo ABABAB”, explica. “Existem várias possibilidades de estrofes e ordenações rítmicas diferentes”, enfatiza.

Já no 3° ano, o ideal é inserir o cordel a partir da 2° fase do modernismo no Brasil. “É nesse momento que a região nordeste entra em discussão com a temática da seca e das injustiças sociais, representadas na literatura por obras como ‘Vidas Secas’, de Graciliano Ramos; ‘O Quinze’, de Rachel de Queiroz, e ‘Morte e vida Severina’, de J. C. M. Neto; este último já dialogando diretamente com a estética cordelista”, orienta.

Preconceito linguístico

De acordo com Araújo, um desafio para trabalhar a escrita criativa a partir do cordel é o preconceito com a linguagem. “Isso pode ser resolvido com uma aula sobre variação linguística. Este é um momento em que os alunos descobrem as várias ‘línguas’ dentro do português brasileiro. Tento conscientizá-los de que existem muitos sotaques e que isso é um processo natural em todas as línguas do mundo”, ensina.

Sobre a edição, os textos são formatados em uma sequência específica para que a impressão seja feita em papel A4, em forma de livreto. A arte da capa também pode ser realizada e impressa em uma folha colorida. “No final, as folhas A4 são recortadas ao meio, viram A5, e tudo é grampeado e exposto na biblioteca da escola, pendurados em um barbante (cordão/cordel) conforme a tradição manda.”

Veja mais:
Plano de aula: Xilogravura: produção do folheto de cordel brasileiro
Literatura de cordel é recurso para discutir arte popular a preconceitos sociais
Conheça 10 obras em cordel e sobre o cordel
Plano de aula: Literatura de Cordel

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