A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) do ensino médio transformou as artes em uma disciplina optativa e a integrou no eixo de linguagens, junto com educação física, português e língua estrangeira. Contra o esvaziamento de seu ensino nessa etapa escolar, o Instituto Arte na Escola (IAE) – que há três décadas atua na formação de professores de todo o Brasil – mobilizou o movimento Arte na Escola. O grupo enviou um material com sugestões de alterações nesse documento para o Conselho Nacional de Educação (CNE), que atualmente elabora um parecer para o Ministério da Educação (MEC) com possíveis novas diretrizes a serem incorporadas.

“Defendemos a obrigatoriedade das artes no ensino médio e que o tema seja estruturado na BNCC como área de conhecimento. Além da inclusão do audiovisual, da fotografia e da dança como componente. No caso da dança, atualmente ela se encontra em educação física”, explica o diretor-executivo da Fundação Iochpe, mantenedora do IAE, Cláudio Anjos.

O que é o Movimento Arte na Escola?

Cláudio Anjos: O Conselho Nacional de Educação (CNE) convidou o Instituto Arte na Escola para enviar um parecer sobre o tema. Para compor esse material, a entidade reuniu 39 polos universitários de formação de artes e diversas associações da área, como a Associação Brasileira de Pesquisa e Pós-graduação em Artes Cênicas (Abrace), Associação Brasileira de Educação Musical (Abem), Associação Nacional de Pesquisadores em Dança (Anda), Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (Anped), e Rede de Produtores Culturais da Fotografia no Brasil (RPCFB). Assim foi composto o Movimento Arte na Escola. O documento foi enviado ao CNE, que irá avaliar e aprovar recomendações que poderão ser integradas tanto à BNCC quanto às diretrizes do novo ensino médio.

O que o Movimento Arte na Escola defende?

Anjos: A obrigatoriedade do ensino de artes no ensino médio e que o tema seja estruturado na BNCC como área de conhecimento. Além da inclusão do audiovisual, da fotografia e da dança como componente desse currículo. No caso da dança, atualmente ela se encontra dentro de educação física. Também defendemos que ele seja conduzido por professores especialistas. Atualmente, aproximadamente 6% dos 557 mil educadores que lecionam a matéria na educação básica têm formação na área, o que colabora para que ela seja esvaziada de suas qualidades. Inclusive, achamos que os ataques dessa onda conservadora estão associados a esse processo deficiente. O estudante não tem contato com a potencialidade das artes. Em outras palavras, a desvalorização começa na escola.

Por que é importante a valorização das artes no ensino médio?

Anjos: As artes permeiam de forma interdisciplinar todas as dez competências gerais, já promulgadas, que norteiam a BNCC. Não só do ensino médio mas de toda a educação básica. Elas ajudam a desenvolver valores, o pensamento crítico, a capacidade de resolução de conflitos e a se colocar no lugar do outro. Elas colaboram com a formação integral do ser humano, fomentando valores que serão aproveitados tanto na vida pessoal do aluno quanto em sua atuação no mundo do trabalho. Por isso, é muito importante ser um campo de conhecimento isolado, não aglutinado a outros componentes. Esse é o motivo pelo qual o movimento luta pela valorização das artes em todo o processo educativo, dentro e fora da escola.

Qual o impacto, para o país, de um contingente de estudantes que não tiveram contato com as artes na escola?

Anjos: Diversas instituições, incluindo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), têm percebido a necessidade das artes como eixo estruturante na formação do indivíduo, inclusive profissionalmente. Por exemplo, no Fórum Mundial Econômico de 2015, a criatividade estava entre as 10 competências fundamentais para o profissional do futuro. Em 2018, ela passou a ser a terceira, atrás apenas de inovação e planejamento estratégico. Ou seja, também é importante para a economia do país.

No ensino médio, há um forte índice de evasão escolar e o ensino de artes foi uma das demandas dos secundaristas no movimento de ocupações das escolas, em 2015. Você acha que essa inclusão como disciplina obrigatória no currículo ajudaria a combater a evasão?

Anjos: Com certeza, e respondo isso apoiado na experiência de 30 anos do instituto na formação de professores de artes em todo o país. O estudante do ensino médio não se enxerga no conteúdo ensinado. Na disciplina, trabalhamos o lúdico, o pensamento crítico e o desenvolvimento individual. Ele pode se expressar artisticamente e enxerga a sua voz refletida naquele espaço. A matéria também ajuda a trazer para o debate questões referentes ao universo do jovem, e que ele deseja discutir. Exemplos são o bullying, a sexualidade, e as relações familiares. Tudo isso aflora na experiência das aulas de artes e é uma ferramenta para o aluno manifestar como vê o mundo e propor transformações em sua trajetória e no seu entorno. Tudo isso colabora para ele se enxergar na escola.

Veja mais:
Por que ensinar Artes nas escolas?
BNCC do ensino médio negligencia pensamento crítico dos alunos, apontam educadores

Crédito da imagem: hobo_018 – iStock

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