O volume de informações produzido no planeta em meios digitais já é de 1,8 zettabyte (para se ter ideia, 1 zettabyte é igual a 1.000.000.000.000.000.000.000 bytes). Para lidar com tanta informação, foi preciso criar uma série de soluções tecnológicas como o Big Data, que permite analisar e fazer relações entre quaisquer informações digitais e em tempo real.

Um estudo da University of Southern California, divulgado em 2011, indica que cada um de nós recebe, por dia, uma quantidade de informações equivalente a 174 jornais – cinco vezes mais informações do que recebíamos em 1986.

E foi justamente nos anos 1980 que o filósofo Pierre Lévy concluiu seu mestrado em História da Ciência na Universidade de Sorbonne, em Paris, e lançou sua primeira obra, A Máquina Universo – Criação, Cognição e Cultura Informática (1987), que falava sobre o computador e os desdobramentos da informatização do mundo, no contexto das culturas ocidentais.

De lá para cá, Lévy, um dos nomes mais influentes quando o assunto é o uso da tecnologia na educação e no desenvolvimento humano, encontrou seu campo de estudo. Lançou Inteligência Coletiva: Por uma Antropologia do Ciberespaço em 1994; O que é o Virtual? em 1995; e Cibercultura em 1997 – item essencial na biblioteca, a obra ainda é atual para refletirmos sobre as relações sociais e o universo virtual.

Para o filósofo tunisiano e naturalizado francês, vivemos, hoje, a “quarta revolução da comunicação” (as três anteriores para Lévy foram a invenção da escrita, do alfabeto e da imprensa), que nos permite o amplo acesso às informações graças à cultura digital instaurada nas últimas décadas. Não à toa, iniciativas como o crowdlearning, o crowdsourcing e o crowdfunding – focadas na ação coletiva – têm ganhado força com o advento das redes sociais. Aprender a produzir conhecimento coletivamente é, aliás, uma habilidade que deve ser ensinada na escola em tempos de cultura digital, assim como orientar os alunos para que saibam selecionar as informações que têm ou não qualidade em meio à avalanche de dados que recebemos diariamente. “É diferente você acessar uma informação ou ser capaz de resolver um problema a partir desta informação. E é este um dos papeis dos educadores hoje, possibilitar que os alunos pensem criticamente e estrategicamente com o que a internet oferece”, pontua César Nunes, professor de Filosofia na Educação na Universidade de Campinas (UNICAMP).

Como se vê, a obra de Lévy provoca reflexões sobre as mudanças irreversíveis na cultura e na comunicação que impactam a educação ocidental. Se aprofundarmos a discussão, ela nos ajuda a pensar como o acesso às tecnologias impacta a sala de aula contemporânea – a sua sala de aula.

Por isso, esta é a primeira de uma série de reportagens sobre cada um dos pensadores da Tecnologia e da Educação. Depois de entender os principais conceitos desenvolvidos por Pierre Lévy, vamos explicar, ainda, o que pensam profissionais como Howard Gardner, Edgar Morin, Manuel Castells, Philippe Perrenoud, a brasileira Martha Gabriel, entre outros. A ideia é aproximar a visão dos grandes pensadores ao cenário educacional brasileiro e às principais tendências de ensino e de aprendizagem.

Assista aos documentários produzidos pelo SESC TV sobre o filósofo:

https://youtu.be/3PoGmCuG_kc

Entenda as principais ideias de Pierre Lévy

CIBERNÉTICA E CIBERCULTURA

O estudo da cibernética está presente nas obras de Pierre Lévy desde o começo de sua trajetória profissional, na década de 1980, quando ele se dedicava a entender o impacto da invenção do computador na sociedade. Anos depois, ainda nos primórdios da internet, o filósofo passou a analisar como a ação humana nos meios digitais pode se converter em uma forma de empoderamento e desenvolvimento humano.

Em mais de dez livros publicados, o autor defende a “revolução virtual” como a sequência da escrita e da linguagem e afirma que a cultura digital deve demorar para se posicionar tanto quanto suas predecessoras. “Não podemos esquecer que a escrita foi inventada há cerca de três mil anos, o alfabeto há mil e não é a totalidade do mundo que sabe ler e escrever”, explica ele mesmo em uma palestra no Brasil, em 2002, no SESC Vila Mariana.

INTELIGÊNCIA COLETIVA

Para Pierre Lévy, o conceito de inteligência coletiva baseia-se no compartilhamento de nossas funções cognitivas – como o raciocínio e a capacidade de pensamento –, com a aptidão que temos para a competição. A ideia de inteligência coletiva, para o filósofo, nasceu junto com a linguagem e não com as tecnologias contemporâneas, mas é evidente que a revolução impulsionada pela vida digital – com cada vez mais recursos que permitem a cooperação – contribui para o exercício do desenvolvimento coletivo.

“É importante que o professor dê um significado real ao que os alunos estão construindo para fazer com que eles acreditem na aprendizagem”, aponta César. Ele exemplifica que, com um dispositivo móvel como um tablet, é possível registrar em tempo real o trabalho da turma em blog, por exemplo, e deixar os alunos alimentarem colaborativamente aquele espaço e assim torná-lo protagonista de uma experiência real. “Neste quesito a tecnologia contribui muito para o aprendizado, pois ela se torna uma coisa natural na sala de aula”, defende.

VIRTUAL

As reflexões sobre o virtual são mais um dos cernes da obra de Pierre Lévy. O filósofo vai contra o pensamento de que os mundos virtual e real “caminham paralelamente” e afirma que as manifestações que ocorrem na rede são concretas e desterritorializadas. A existência do virtual potencializa a inteligência coletiva e possibilita a cibercultura, uma revolução no modo como as pessoas aprendem, trabalham e se relacionam.

No universo educacional, o projeto “Schools That Work”, do Edutopia, prova como o virtual pode proporcionar experiências reais a partir da rede. No site, é disponibilizado um mapeamento de escolas pelo mundo com projetos que deram certo, acompanhado de vídeos e textos sobre cada um, com dicas para que educadores sigam as ideias desenvolvidas. Quem quiser ir mais a fundo ainda pode entrar em contato com os coordenadores destes projetos, que também compartilham planos de aulas e ferramentas.

“A conectividade que temos hoje deixou a tecnologia tão transparente que não vivemos mais uma cibercultura. Vivemos uma cultura! Não existe mais uma separação”, explica César.

Leia uma entrevista concedida por Pierre Lévy ao Instituto Claro

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