Gênero e sexualidade são assuntos que atravessam a disciplina de Geografia sem que muitos percebam. A professora Gislaine Carla Waltrik, de União da Vitória (PR) resolveu abordar a questão em duas turmas de Ensino Médio, de colégios diferentes. Na primeira classe, o objetivo era investigar como a sexualidade se expressava no espaço geográfico escolar, e se as questões de gênero provocam segregações espaciais.
“Foram propostas atividades de acordo com o conteúdo estudado. Em um dos colégios, após uma situação de desenho de órgãos sexuais na carteira, o diretor pediu para eu conversar com a turma. Naquele momento, estudávamos cartografia temática. Então, solicitei que eles pensassem um pouco sobre sexualidade e fizessem um mapeamento do colégio. A proposta era fotografar os espaços escolares onde observassem situações, desenhos, frases que lembrassem a sexualidade humana”, revela.
Os alunos fotografaram carteiras, portas de banheiro, muros e criaram desenhos a partir do que viram. Após o mapeamento, discutiram a construção da masculinidade, da feminilidade, e se havia espaços marginais para determinados gêneros.
“O espaço geográfico é objeto de estudo da Geografia. É preciso pensar sobre os corpos sujeitos que ocupam os espaços. Pensando nessa questão, os alunos também fizeram coletivamente um ensaio poético sobre como a questão espacial atravessa as relações de gênero”, assinala.
Violência presente
No segundo colégio, o assunto surgiu quando a classe estudava demografia e controle de natalidade. “Perguntei se os alunos eram favoráveis a aprender educação sexual na escola. A mesma questão seria respondida pelos pais, que também deveriam autorizar a participação do aluno nas discussões. Dos 60 alunos, apenas um aluno declarou que não queria participar. Os demais concordaram e elaboraram textos, desenhos e linhas do tempo relatando as experiências sobre sexualidade em suas famílias”, resume.
A professora, contudo, assustou-se com a quantidade de relatos de violência sexual. Assim, as discussões foram direcionadas para o enfrentamento dessa violência. “A questão é difícil de trabalhar. Queria encontrar uma saída para que os alunos e alunas não se fixassem na ideia de sexualidade e violência. O apoio dos pais foi fundamental. Além disso, usamos poesias diversas em sala de aula, que ofereceram crítica e leveza aos temas discutidos”, aponta.
Wellerson, de 16 anos, foi um dos alunos tocados pela atividade. “Depois desse projeto, eu vejo que sexualidade é um assunto que deve ser discutido na escola. Há vários casos de estupro, abuso e violência contra a mulher. É importante termos essa conscientização na escola porque, se queremos mudar essa situação no mundo, temos que começar a mudar em nós mesmos”, reflete.
Mesma opinião possui Bruna, de 16 anos. “Penso que muitos pais não discutem esse assunto dentro de suas casas e que os jovens acabam aprendendo apenas na escola. Muitos acabam conversando apenas com os colegas e aprendem de forma errada sobre o tema. Sexualidade não se refere apenas à relação sexual, mas sim a afetividade e a escolhas”, pondera.
O projeto de Gislaine foi um dos dez finalistas da 20ª edição do Prêmio Educador Nota 10. “Fica a certeza de que precisamos conversar sobre sexualidade e relações de gênero em todos os espaços sociais e que família e escola podem trabalhar unidas para construir um mundo melhor”, conclui.
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