O professor necessita buscar meios para sair de sua zona de conforto quando o assunto for sanar dúvidas e inquietações trazidas pelos alunos, ainda que estas apresentem um considerável grau de complexidade. Caso contrário, estará prejudicando diretamente o desenvolvimento de uma cultura científica e tecnológica na escola. Essa é a opinião da coordenadora da 15º Edição da Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (FEBRACE), Roseli de Deus Lopes. Promovida anualmente pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), a FEBRACE seleciona projetos de inovação desenvolvidos nas redes pública e particular da educação básica. A edição de 2017 contou com 2.1 mil inscrições e 346 projetos selecionados.

“A maioria dos professores é formada para colocar questões que estão no livro, sob controle, a partir de materiais que já têm na escola. Ao permitir que o aluno escolha o problema que deseja solucionar, o educador sai da sua zona de conforto. Dá medo, mas é quando acontecem as situações de aprendizagem mais ricas”, defende Roseli. Os resultados dessa jornada podem chegar a projetos como os encontrados na Feira, que variam de um dispositivo capaz de identificar pontos de fuga de energia nas residências – responsáveis por deixar a conta de luz mais cara – até um rastreador de bagagem.
“O aluno precisa perceber, por si, que a questão que ele mesmo propõe é complexa. Que talvez ele precise dividi-la em etapas antes de partir para uma solução. Assim, o papel da escola é ensinar esse estudante a fazer boas perguntas e incentivá-lo a acreditar que pode resolver o que quiser”, decreta Roseli.  Já para o aluno, o desafio da cultura científica é aprender a lidar com o erro. “Eu não atinjo objetivos na primeira tentativa, a não ser que seja algo fácil e óbvio. Qualquer proposta com o mínimo de complexidade necessita de estratégia e de observação para ser completada”, orienta Roseli.
Aluno é protagonista
A seleção dos projetos apresentados na FEBRACE é realizada por meio de 120 feiras parceiras ao redor do Brasil e por submissão direta. Todos os projetos recebem uma devolutiva, mesmo quando não selecionados. “Os projetos devem conter um professor orientador, que não precisa ser especializado no problema sugerido. O objetivo é que o educador ajude o estudante a resolver seu problema com segurança e respeitando os princípios éticos da pesquisa científica e tecnológica”, esclarece Roseli.
Desta forma, valoriza-se prioritariamente que a autoria e o protagonismo sejam do aluno, mais do que a complexidade do que ele está propondo. É fundamental que o estudante tenha identificado o problema e traçado suas estratégias para resolvê-lo, criando assim um projeto. “Em comum, todos os estudantes selecionados estavam antenados com o que acontecia ao seu redor”, destaca Roseli.
Para os alunos que desejam começar a colocar a mão na massa, a FEBRACE disponibiliza, em seu site, um curso online e relatos de alunos e professores que já passaram pela feira. “A educação é útil quanto estimula a criatividade, a inventividade e a autoestima. Além disso, os ganhos da pesquisa científica não são só acadêmicos: seus princípios também nos ajudam a resolver problemas em outras esferas da vida”, finaliza Roseli de Deus Lopes.
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