Conteúdos

– Contexto histórico-filosófico do período em que Schopenhauer elaborou sua obra
– A metafísica da vontade, metafísica do belo e metafísica dos costumes
– Estrutura geral do sistema schopenhaueriano

Objetivos

– Conhecer a estrutura do pensamento de Arthur Schopenhauer
– Compreender a dimensão existencial, estética e ética da filosofia schopenhaueriana
– Pensar os problemas do projeto filosófico de Schopenhauer na atualidade
– Assimilar a intenção do sistema de Schopenhauer, quais os seus objetivos e quais os resultados obtidos pelo esforço da metafísica

1ª Etapa: Introdução geral ao contexto do século XIX

A filosofia no ensino médio geralmente é apresentada de modo cronológico, expondo a sucessão de pensadores e problemas filosóficos em uma sequência histórica. Nesse plano de aula, a intenção é oferecer um estudo introdutório, porém rigoroso, de um dos mais influentes pensadores da história, Arthur Schopenhauer. Mas, antes de adentrar ao núcleo do projeto schopenhaueriano, é fundamental que o (a) professor (a) inicie os trabalhos lançando algumas provocações aos alunos, a fim de introduzi-los na filosofia do século XIX. É possível, por exemplo, perguntar: “Será que a inteligência humana é capaz de alcançar todo o conhecimento do mundo?” ou também “Será que existe limite para o conhecimento do mundo? Há algumas questões que a mente humana não é capaz de conhecer?” A partir daí, caberá ao (a) professor (a) apresentar o modelo de filosofia de sistema, expor, panoramicamente, a influência do romantismo na filosofia e a missão filosófica de desvendar o mundo em sua integralidade. Nessa etapa, algumas obras de arte poderão ser aludidas, como a peça Fausto de J.W.V.Goethe.

2ª Etapa: Provocações quanto ao conceito de metafísica e exposição primeira acerca das intenções da filosofia de Arthur Schopenhauer

Nessa fase, é interessante que o (a) professor (a) instigue a curiosidade dos alunos levantando questões sobre a “essência” das coisas. Perguntas como: “O que é a essência de uma pessoa ou de alguma coisa? Ou ainda, a essência do mundo inteiro?”. Após ouvir as ideias trazidas pelos alunos, o (a) professor (a) irá compartilhar uma das definições mais interessantes desse conceito: “A essência é o que faz com que algo seja exatamente aquilo que é” ou seja, um atributo que, caso seja retirado, descaracteriza o objeto, deixa de ser o que é. A partir daí é possível levantar uma densa reflexão que vai do pessoal (Qual é a sua essência? O que faz você ser exatamente quem você é?), até um questionamento mais cosmológico (Qual a essência do universo? Por que o mundo é da forma como é?).

É importante que o (a) professor (a) organize as respostas, talvez surgirão algumas de cunho religioso, cabe ao (a) professor (a) alocar as reflexões trazidas pelos alunos e explicar a natureza do procedimento filosófico de imersão racional em tais questionamentos. É fundamental apresentar a ideia de metafísica como o seguimento filosófico que ambiciona explicar tais questionamentos, a busca pela ou pelas essências como âmbito próprio da especulação metafísica. Uma vez realizada essa introdução, é possível apresentar que a filosofia de Schopenhauer tem como prioridade o esclarecimento dessas perguntas e a decifração do mistério do mundo. A aula poderá ser finalizada afirmando que todo o projeto schopenhaueriano ambiciona desvelar questões sobre a essência de todas as coisas, ou seja, a natureza mais íntima da realidade, a justificação última dos eventos que compõem a realidade.

3ª Etapa: Apresentação do conceito de vontade e exposição do pessimismo

Nessa etapa, o (a) professor (a) irá apresentar o conceito chave de Schopenhauer na tentativa de desvendar a natureza geral do mundo e da existência. Mantendo o método da provocação, o (a) professor (a) poderá abrir a aula com alguns questionamentos, tais como: “Ao acordar pela manhã, o que te faz sair da cama e começar o seu dia?” ou, de forma mais aguda: “Que tipo de força age sobre nosso corpo quando sentimos fome, sono, desejo sexual ou qualquer outro apetite orgânico?”. Os alunos levantarão diversas hipóteses, caberá ao (a) professor organizar e categorizar cada tipo de sugestão. Uma pergunta basilar poderá direcionar o fluxo da reflexão: “O que movimenta o mundo e faz com que as coisas aconteçam na realidade, é resultado de forças direfentes ou de uma grande força que age sobre todas as coisas?”. Com isso, o terreno estará fértil para apresentar o conceito de Vontade. O (A) professor (a) deverá enfatizar que a Vontade é o núcleo metafísico do pensamento schopenhaueriano. Todas as coisas que existem são decorrência da Vontade e essa não é algo relacionado a um desejo particular, pelo contrário, é um centro de força totalizante que está presente em todos os processos de formação do mundo, tanto nas estruturas orgânicas quanto na matéria inanimada.

A Vontade se manifesta na formação dos minerais, das rochas, nos organismos unicelulares, no corpo humano etc. Duas características desse conceito são importantes no processo de apresentação. A primeira diz que a Vontade não tem nenhum fundamento lógico-racional, ela é completamente sem fundamento, um ímpeto cego e apenas a sua autopreservação e autorrealização norteia sua ação. Com isso, a segunda característica é apresentada: o caráter perpetuamente desejante da Vontade – tudo é desejo na natureza.

O (A) professor (a) poderá suscitar a seguinte reflexão: “Já repararam que a gente sempre quer fazer alguma coisa? Vocês podem estar me ouvindo e, ao mesmo tempo, com vontade de ir ao banheiro ou com sono, também, em um plano amplo, vocês podem estar com vontade de arrumar um emprego, querendo entrar na universidade, de se casarem. O fato é que sempre queremos fazer alguma coisa, há sempre um desejo nos movimentando.” E, para finalizar a aula, o (a) professor (a) levantará o caráter pessimista do pensamento de Schopenhauer e irá expor a ideia de que, para o filósofo, a Vontade é absolutamente insaciável. Nunca estaremos plenamente satisfeitos porque, para cada desejo realizado, outros dez serão gerados automaticamente e, com isso, variamos os estados de tristeza pela não realização de nossa vontade e pelo tédio, no intervalo entre um desejo e outro.

Um bom exemplo para ilustrar essa parte é a seguinte imagem: “Imagine que você tem como objetivo comprar uma casa. Você trabalha por décadas e finalmente adquire o seu imóvel. Uma vez alcançado esse objetivo, surge uma espécie de marasmo, você olha para a sua casa e pensa: E agora? O que vou fazer? Imediatamente a Vontade cria outro objetivo, assim, de um em um, em direção a felicidade que jamais será alcançada.” Recomenda-se que o (a) professor (a) feche a exposição resumindo a característica totalizante da Vontade, que constitui todas as coisas que existem e age no movimento próprio da realidade, expondo, assim, o conceito de metafísica da vontade, ou seja, a Vontade como agente que faz com que cada coisa na natureza seja exatamente da forma como é.

4ª Etapa: Complementos à ideia de Vontade: a metafísica do belo e metafísica dos costumes

Nessa etapa é válido reconsiderar sumariamente as ideias que foram levantadas até então, retomar as intenções iniciais da filosofia schopenhaueriana e reconsiderar as principais características da Vontade, trabalhadas na aula anterior. Como provocação inicial, propõe-se que o (a) professor (a) pergunte aos alunos se alguém consegue pensar em uma solução para o problema proposto por Schopenhauer, afinal, seria possível achar um modo de negar a Vontade? Será que a vida se reduz ao desejo constante e a impossibilidade de nos sentirmos plenamente realizados?

Nesse ponto, muitas respostas ligadas a credos pessoais podem surgir. É importante enfatizar que a reflexão nesse ponto se dá na esfera universal e não particular, então, chaves religiosas pessoais não poderiam ser apresentadas como soluções, uma vez que o debate se dá no âmbito coletivo. Após ouvir as colocações dos alunos e dialogar com a turma, o (a) professor (a) poderá começar apresentando as duas soluções apontadas por Schopenhauer: a primeira delas é o que chamamos de metafísica do belo e está relacionada à contemplação artística.

Segundo o filósofo, cada vez que nos deixamos envolver pelo efeito de uma obra de arte, estamos enganando o fluxo de desejo da Vontade. Começando pela arquitetura, passando pelas artes plásticas, poesia e teatro, até chegar à música que, para Schopenhauer, é a arte suprema. O (A) professor (a) poderá perguntar se alguém já teve a sensação de se “desligar do mundo” enquanto assiste à uma peça ou escuta uma música.

É necessário expor que, na filosofia schopenhaueriana, a arte tem o poder captar a essência das coisas. Por exemplo, um poema de amor não trata o sentimento como algo particular, um amor específico, mas traz a percepção da ideia do próprio Amor, não um amor, mas O Amor. Isso funciona com todos os outros sentimentos, por isso se chama metafísica do belo, porque Schopenhauer defendia que as essências podem ser capturadas por meio da beleza artística, assim, a arte seria a primeira forma de negação da Vontade, uma vez que todo o fluxo de desejos, paixões, sofrimentos, frustrações e tédio se interrompe no processo de intuição estética. Mas a questão é: essa é uma solução permanente? A resposta obviamente é não. Uma música pode ser bela ao ponto de nos abstrair da realidade, mas uma hora ela vai acabar e estaremos novamente jogados na violência do desejar eterno, no domínio da Vontade.

Então, haveria uma solução permanente para esse problema? Segundo Schopenhauer, sim. A negação deliberada da Vontade é uma espécie de santidade ascética que se alcança por meio do exercício programático de domesticação das disposições naturais da Vontade. Nessa fase de conclusão do sistema, o (a) professor (a) poderá expor a ideia de que a vida que se orienta, tendo como base as essências, será melhor vivida do que aquela que se orienta a partir das coisas materiais, ligadas à Vontade imediata. A metafísica dos costumes de Schopenhauer busca atingir um estado de imperturbabilidade absoluta, uma provocação interessante nesse sentido é questionar: “Será que você é capaz de ficar um dia inteiro sem se estressar com nada? Sem se preocupar, sem sofrer por algum desejo que não pode ser realizado… Em outras palavras, será que conseguimos neutralizar a Vontade que age em nós e viver de acordo com grandes orientações essenciais?”. Novamente, respostas heterogêneas aparecerão, mas, nesse momento, os alunos já disporão de elementos teóricos para pensarem no interior da filosofia de Schopenhauer.

Recomenda-se fechar essa aula apresentando a noção de compaixão, apresentada pelo projeto schopenhaueriano. A ideia de que, a partir do momento em que compreendemos a condição trágica a qual estamos submetidos, começamos a entender que não há muita diferença entre a situação do outro e a minha e daí advém a noção de “sofrer junto”, uma vez que somos todos produto da mesma Vontade e posso tomar a dor do outro como se fosse minha porque, na verdade, é exatamente assim.

5ª Etapa: Contextualização da filosofia de Schopenhauer e proposta de redação

Para fechar o módulo, seria interessante que o (a) professor (a) abordasse algumas questões, buscando relacionar o sistema proposto por Schopenhauer com o modo como as pessoas vivem nos tempos atuais. A ideia de felicidade, por exemplo, é uma boa entrada nessa discussão. Como visto, Schopenhauer acredita não ser possível uma felicidade duradoura. Apenas por um procedimento contemplativo poderíamos alcançar uma satisfação efêmera, porém, vemos na publicidade, nos livros de autoajuda, nos manuais de autogestão, equilíbrio e fartura financeira como portais de acesso à uma vida feliz.

A partir desse contraste, o (a) professor (a) poderá fomentar o debate sobre o ideal de vida atual, felicidade e sucesso e o ideal de vida schopenhaueriano – arte e controle dos desejos. Seria possível, nos dias de hoje, negar a satisfação imediata dos desejos? Com isso, o (a) professor (a) irá propor aos alunos que elaborem um texto analisando a condição humana proposta por Schopenhauer e contrastem os ideais de vida calcados na realização material e no hedonismo. Recomenda-se, como texto base de norteamento das aulas e texto de consulta aos alunos, a leitura conjunta do prefácio à Metafísica do Belo, escrito pelo professor e pesquisador Jair Barboza.

Materiais Relacionados

1 – Recomenda-se que o (a) professor (a) tenha o conhecimento básico do livro principal de Arthur Schopenhauer: SCHOPENHAUER, Arthur. O Mundo como Vontade e como Representação. São Paulo: Tradução de Jair Lopez Barbosa. Edunesp, 2005.

2 – Sugere-se adotar como texto base do projeto e leitura compartilhada o prefácio escrito por Jair Lopez Barbosa in: SCHOPENHAUER, Arthur. A Metafísica do Belo. São Paulo: Edunesp, 2003. Além da biografia escrita sobre o filósofo: SAFRANSKI, Rudeger. Schopenhauer e os Anos mais Selvagens da História da Filosofia. São Paulo. Geração Editorial. 2018.

3 – Como trabalhos introdutórios, há duas publicações interessantes:

LEFRANC, Jean. Compreender Schopenhauer. Petrópolis. Tradução de Ephraim Ferreira Alves. 2002. Vozes.

BARBOSA, Jair. A Decifração do Enigma do Mundo. São Paulo. Paulus. 2016.

Arquivos anexados

  1. Plano de aula – Arthur Schopenhauer

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