Introdução

Quem não se lembra das histórias infantis Chapeuzinho Vermelho e Os três porquinhos? Em ambas, o cenário é o mesmo: a Floresta, com seus perigos e incertezas, representados pelo Lobo Mau. Em “Chapeuzinho Vermelho”, a protagonista desobedece a sua mãe, vai levar doces para sua avó e acaba  surpreendida na Floresta pelo Lobo Mau. “Os três porquinhos” são flagrados pelo Lobo Mau, na Floresta, e só escapam graças à astúcia de um deles que construiu sua casinha de tijolos e cimento.

Mas o que são florestas? São simplesmente ambientes nos quais se passam estas histórias infantis que nos ensinam quando somos pequenos e que, muitas vezes, nos causam medo? Para a Ciência, as florestas são consideradas biomas, ou seja, ambientes uniformes, os quais são definidos de acordo com a zona climática a qual se encontram.  Além do clima, outros fatores como o solo e a altitude são importantes para a caracterização destas unidades biológicas. Os biomas apresentam uniformidade fitofisionômica e climática. No planeta, existem vários biomas florestais, como a Mata Atlântica e a Floresta Amazônica, no Brasil e as Florestas Temperadas, na Europa e EUA.

Estima-se que as florestas ocupem aproximadamente 30% da área total do planeta. Esses biomas, além de abrigar mais da metade das espécies terrestres viventes no planeta, concentrando, desta forma, a maior parte da biodiversidade desse ambiente, também são importantes para a proteção do solo contra a erosão, para o controle do ciclo e da qualidade da água. Sem falar, é claro, do elevado valor paisagístico e recreativo. E, mais diretamente ligado ao bem estar humano, as florestas são fontes de bens como madeiras, combustíveis, alimentos e matérias-primas. A utilização dos recursos das florestas pelo ser humano é antiga. Durante a Idade Média, na Europa, as florestas eram substituídas pela agricultura que estava em crescimento. Nos séculos XVI e XVII, portugueses, espanhóis, ingleses, franceses e holandeses utilizavam a madeira das florestas para a construção de navios visando a conquista de novos continentes, as guerras marítimas e o transporte de mercadorias. No Brasil, o início do desmatamento da Mata Atlântica está associado à chegada dos portugueses e a extração do Pau-Brasil.

A extração de bens das florestas, de uma forma descontrolada, em função de um consumismo exagerado, tem sido considerada a principal causa do desaparecimento de importantes formações florestais, ameaçando, desta forma, a biodiversidade do planeta. Devido a essa ação antrópica desordenada, a preservação da biodiversidade é um dos grandes desafios deste século.
Dada a importância desse desafio, a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) instituiu 2011 como o Ano Internacional das Florestas, cujo objetivo principal é “promover uma gestão florestal sustentável e unir esforços, encorajando, desta forma, a participação de todos os povos para o Setor Florestal”. O logotipo do Ano Internacional das Florestas reforça a ideia de que as florestas são fundamentais para a sobrevivência e o bem estar de toda a população do planeta. Biodiversidade ou diversidade da vida pode apresentar diferentes significados, a saber: a variedade genética presente nos indivíduos de uma mesma espécie, a variedade de espécies animais, vegetais ou de outros organismos presentes na natureza e a diversidade de ecossistemas (seres vivos e não vivos interagindo) presentes na Terra. O termo biodiversidade passou a ser usado amplamente na década de 80 do século passado, em função da extinção acelerada das espécies devido à ação humana.
Como as plantas são a base da maioria dos ecossistemas, é nas florestas que se encontra a maior biodiversidade. Sendo assim, a preservação destes biomas é fundamental.
São várias as causas da perda da biodiversidade nas florestas. Entre estas, podem-se destacar a expansão urbana, industrial e das fronteiras agropecuárias.
Esta última vem sendo amplamente debatida no Brasil em função da aprovação do Novo Código Florestal Brasileiro pela Câmara dos Deputados no dia 25 de Maio DE 2011 e que divide opiniões, principalmente entre ambientalistas e ruralistas. O Código Florestal é justamente o documento que legisla e estipula as regras para a preservação ambiental em propriedades rurais. Em outras palavras, define o quanto os proprietários de terras devem preservar das matas nativas. Segundo os ambientalistas, a aprovação do Novo Código abre precedentes para o desmatamento. Para os ruralistas, o Código vigente é rigoroso e prejudica a produção.
Porém, uma das maiores ameaças à biodiversidade, principalmente das Florestas tropicais brasileiras, e que é praticada há bastante tempo e só recentemente começou a ser discutida, é a biopirataria. A biopirataria é exercida por algumas indústrias estrangeiras que retiram ilegalmente plantas e animais destes biomas para estudá-los e utilizá-los na fabricação de medicamentos, cosméticos e alimentos. Outra forma de biopirataria é o roubo do conhecimento popular, como por exemplo, dos índios, para fins que não sejam autorizados pelo IBAMA ou do Ministério do Meio Ambiente. As questões relacionadas à preservação das florestas apresentam-se como um assunto de relevância social. É emergencial uma reflexão e uma nova consciência sobre a utilização dos recursos naturais destes biomas e, principalmente, um comprometimento de todos os setores da sociedade com a sua preservação. Para nós educadores, resta colocar em pauta e debater com nossos alunos estes assuntos, contribuindo para a construção de uma nova geração mais engajada e atuante com o futuro ambiental do planeta.
E por que não valorizar também os personagens lendários de nossa rica cultura popular, o Caipora e o Curupira, que têm como ofício a proteção de nossas matas?
Bibliografia:
COUTINHO, L.M. O conceito de bioma. In: Acta Botanica Brasilica. vol.20 no.1. São Paulo, Jan./Mar. 2006. Disponível aqui.
HATHAWAY, D. A biopirataria no Brasil. In: Reflexões no Brasil. Vol I. Rio de Janeiro: E-papers, 2004. Disponível aqui.

Porque abordar o tema em sala de aula

 A proposta apresentada a seguir foi baseada nos dois documentos oficiais do MEC, os PCNEM (Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio), notadamente o fascículo destinado à área de Ciências da Natureza e suas Tecnologias, e do PCN do Ensino Fundamental, na área de Ciências. Em ambos os documentos, observou-se possibilidades para a inserção deste tema.

Ensino Médio:
A disciplina Biologia é apresentada nos PCNEM dividida em seis temas estruturadores que contemplam as suas principais áreas de interesse, a saber: Interação entre os seres vivos, Qualidade de vida das populações humanas, Identidade dos seres vivos, Diversidade da vida, Transmissão da vida, ética e manipulação gênica e Origem e evolução da vida. Estes temas estruturadores são, por sua vez, divididos em unidades temáticas. Para cada uma das unidades temáticas são feitas propostas de conteúdos específicos e sugestões de dinâmicas (estratégias) para o seu desenvolvimento.

Neste texto, optamos por apresentar as possibilidades de inserção do tema florestas nos temas estruturadores Interação entre os seres vivos e Diversidade da Vida, seguindo o padrão estabelecido no documento oficial PCNEM.

O tema estruturador Interação entre os seres vivos tem como objetivo desenvolver a concepção de que os seres vivos e o ambiente são interdependentes, formando um sistema que está em equilíbrio dinâmico e que qualquer alteração em um dos componentes desse sistema provoca desequilíbrios.

Na unidade temática Interdependência da vida, é razoável discutir o conceito de ecossistema utilizando o bioma das florestas como exemplo. Apesar de não ser fácil a distinção entre o conceito de bioma e ecossistema, adota-se aqui a ideia de que os biomas são formados por vários ecossistemas. Uma poça de água em uma bromélia da Mata Atlântica pode ser considerada um ecossistema, já que abriga diferentes espécies, interagindo entre si e com o ambiente físico-químico. Como dinâmica para esta unidade, o professor poderá solicitar aos alunos um estudo comparativo entre dois ecossistemas diferentes, ressaltando características, como por exemplo, a variedade de espécies animais e vegetais, clima, solo, relevo, entre outros.

A unidade temática Desorganizando os fluxos de matéria e energia permite ao professor propor pesquisas, em diferentes fontes de informação (jornais, revistas, internet), sobre a interferência do ser humano no bioma das florestas. É possível, desta forma, trabalhar questões como desmatamento, extração de recursos naturais das florestas de forma descontrolada, biopirataria, entre outros. O plano de aula “Preservando o patrimônio genético de nossas florestas-Biopirataria” é um exemplo de dinâmica para a abordagem dos conteúdos desta unidade.

Na unidade temática Problemas ambientais brasileiros e desenvolvimento sustentável: uma relação possível? as aulas podem se transformar em um fórum de discussão sobre as propostas elaboradas por cientistas, ambientalistas, representantes do poder público referentes à preservação e recuperação das florestas brasileiras. É uma excelente oportunidade para discutir com os alunos a aprovação do Novo Código Florestal, apontando as contradições entre a expansão das fronteiras agrícolas e a conservação da biodiversidade. É viável também discutir o significado do conceito de desenvolvimento sustentável em relação às florestas. O plano de aula “Discutindo o Novo Código Florestal” é uma sugestão de trabalho para esta unidade.

O eixo estruturador Diversidade da vida tem como objetivo possibilitar que os alunos percebam que a ação antrópica no ambiente tem sido a principal causa para a diminuição da biodiversidade do planeta. A unidade temática A diversidade ameaçada permite ao professor trabalhar com seus alunos vários aspectos relacionados ao tema florestas. Em sala de aula, o professor poderá apresentar um mapa, com as diversas regiões nas quais se encontram as florestas, caracterizando cada uma em relação ao clima, vegetação, espécies animais, ocupação, entre outros. Poderá, dessa forma, localizar as regiões do planeta onde se encontra a maior diversidade de espécies. Especificamente em relação aos biomas brasileiros, após caracterizá-los da forma sugerida acima, os alunos poderão discutir as principais causas da destruição da Floresta Amazônica ou da Mata Atlântica. Um recurso para estimular esta discussão é apresentar o mapa da distribuição da Floresta Amazônica ou da Mata Atlântica à época do descobrimento e compará-lo com a distribuição atual. Um debate sobre o significado do uso sustentável da biodiversidade também tem uma importância neste contexto.

Ensino Fundamental:
A área de Ciências Naturais é dividida, nos PCN do ensino fundamental II, em eixos temáticos: Terra e Universo, Vida e Ambiente, Ser Humano e Saúde, Tecnologia e Sociedade. A indicação é que cada um desses eixos compareçam nos quatro anos do ensino fundamental II, com níveis de aprofundamento específicos para cada faixa etária, propiciando, dessa forma, a aprendizagem significativa. Além dos eixos, é sugerido também um trabalho interdisciplinar com os temas transversais (Ética, Saúde, Meio Ambiente, Orientação Sexual, Pluralidade Cultural, Trabalho e Consumo).

Pelas múltiplas possibilidades de trabalho em sala de aula que são apresentadas nesse documento, optou-se em apresentar a inserção do tema florestas no Ensino Fundamental II no tema transversal Meio Ambiente, mais especificamente no bloco de conteúdos A natureza “cíclica” da natureza.

Segundo o PCN, “trabalhar de forma transversal significa buscar a transformação dos conceitos, a explicitação de valores e a inclusão de procedimentos, sempre vinculados à realidade cotidiana da sociedade, de modo que obtenha cidadãos mais participantes”.

Um dos conteúdos explicitados no bloco A natureza “cíclica” da natureza é a compreensão da vida nas escalas geológicas de tempo e espaço. O objetivo é que o aluno compreenda que a presença de seres vivos em determinados ambientes depende das condições do clima, do relevo e do solo. Estas, por sua vez, se transformam ao longo do tempo. Sendo assim, tanto a diversidade dos ecossistemas como a diversidade das espécies presentes atualmente no planeta é resultado de bilhões de anos de interação entre o meio e os seres vivos. Esse conteúdo poderá ser trabalhado por meio das dinâmicas sugeridas a seguir, em qualquer uma das séries do ensino fundamental II, desde que seja respeitado o desenvolvimento cognitivo de cada uma das faixas etárias.

Uma dinâmica sugerida para o trabalho com este conteúdo e que envolve tanto a disciplina de Ciências como Geografia, possibilitando um trabalho interdisciplinar, é a elaboração de uma linha do tempo com os alunos, na qual serão apresentadas as condições físico-químicas, bem como a diversidade das espécies em cada uma das eras geológicas. Nesta dinâmica, é fundamental que os alunos percebam que o surgimento das formações florestais foi um processo lento e contínuo e, principalmente, que qualquer alteração nestes ambientes poderá acarretar consequências desastrosas, a curto e médio prazo.   A continuidade deste trabalho poderá se dar por meio de uma pesquisa que tenha como objetivo identificar as diferenças entre as florestas tropicais e as florestas temperadas, tanto em relação à localização geográfica, clima, relevo e solo, como também à diversidade de espécies presentes em cada uma delas. O plano de aula “Comparando uma floresta tropical e uma floresta temperada” é uma boa alternativa de dinâmica para este trabalho. O interessante é que os alunos cheguem à conclusão de que as florestas tropicais são o reduto da maior biodiversidade do planeta e que devem ser preservadas. Para trabalhar com os alunos a necessidade emergente de políticas relacionadas à preservação da biodiversidade das florestas tropicais, um trabalho conjunto com o professor de História se torna bastante interessante.

Esse trabalho pode ter como tema central a Mata Atlântica e sua ocupação desde a chegada dos portugueses. Enquanto o professor de História trabalha como os ciclos econômicos do país (açúcar, pecuária, ouro, café, industrialização) contribuíram para o desmatamento deste importante bioma brasileiro, o professor de Ciências elabora um dossiê com as espécies da Mata Atlântica que estão em extinção. Nesse dossiê os alunos fariam um levantamento das causas e conseqüências da extinção dessas espécies, tanto para o bioma como para o planeta de um modo geral. Desta forma, os alunos estarão aptos a não só compreender a gravidade da extinção das espécies e da alteração muitas vezes irreversível dos ecossistemas, como também de propor alternativas para o problema.

Bibliografia:
BRASIL, MEC, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do Ensino Fundamental: Ciências Naturais. Brasília: MEC/SEF, 1998.

_____. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do Ensino
Fundamental: temas transversais. Brasília, MEC/SEF, 1998.
______. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros curriculares nacionais: ensino médio. Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias. Brasília: MEC/SEMTEC, 1999.
1 Comentário
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ROBSON DE ANDRADE
4 anos atrás

Parabéns pelo excelente material!!!

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