Em 5/6, o Instituto Claro realizou uma nova edição do Diálogos Gigantes. Transmitido via Facebook, o evento trouxe o tema “Bullying: a escola como ambiente para discutir o tema e mediar”, e contou com a presença de dois especialistas: a professora doutora em psicologia escolar e do desenvolvimento humano pela USP e do departamento de psicologia da Unesp-Araraquara Luciene Tognetta e o professor doutor em psicologia escolar e do desenvolvimento humano do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IPUSP) José Leon Crochik, com mediação do jornalista Leonardo Valle.

Foto de três pessoas durante um debate. Ao fundo, há uma tela com o título Diálogos Gigantes
Da esquerda para a direita: o Professor José Leon Crochik, a Professora Luciene Tognetta e o jornalista Leonardo Valle durante a transmissão do Diálogos Gigantes (crédito: Elsa Villon)

 

O debate começou com uma conversa sobre a presença de psicólogos nas escolas como alternativa de coibir a prática do bullying. Tognetta disse que a presença desse profissional é importante, mas que nem sempre ele será o responsável pela mediação dos conflitos entre os alunos. Além disso, destacou que professores e educadores têm um papel fundamental e que precisam tentar entender o comportamento desses jovens. “É preciso entendê-los para descobrir por que eles agem dessa forma.”

Ela ressaltou, ainda, que o autor da violência carece de sensibilidade moral, característica de quem não consegue se colocar no lugar do outro ou se imaginar na mesma situação. Para a professora, isso não representa necessariamente um ato de maldade, mas um indício de que a hierarquia de valores da pessoa pode estar invertida.

Um dos pontos levantados ao longo do encontro foi a necessidade ou não de punição aos agressores. “Punir não é o único caminho. É preciso fortalecer a vítima. O agressor precisa saber como o outro se sente. A melhor pessoa para falar dessa dor, é quem sofre a agressão”, afirmou Tognetta.

Crochik complementou a fala da professora dizendo que quando se trata de alunos, é preciso lembrar que eles estão em período de formação. E que, mesmo sendo um agressor, é fundamental formá-lo. “Responsabilizar o estudante faz parte do processo de constituí-lo como cidadão. Não do ponto de vista vingativo, mas ele precisa entender que seus atos podem ter consequências sérias”, pontuou.

Ele lembrou, também, que a escola tem o papel de auxiliar os alunos e orientá-los a encontrar a forma mais adequada de expressar os sentimentos, sejam eles bons ou não: “a violência existe desde o início da história. É preciso pensar em uma forma de conviver de modo que as agressões não sejam suscitadas”. E completou: “pensar o bullying e suas consequências apenas no ambiente escolar restringe a nossa força de combate contra ele”.

Ao falar sobre a importância da família, Crochik esclareceu que ela tem um papel fundamental, e que a questão é ampla. A escola prolonga o contato social e permite que o aluno tenha outras experiências além do convívio familiar. “Se os responsáveis conversam sobre os conflitos que acontecem na escola, eles estão contribuindo para o desenvolvimento de seus filhos como cidadãos”, afirmou o professor.

A conversa também permeou casos de violência, como estupro, agressões nas universidades e o preparo de estudantes em cursos de licenciatura. De acordo com Tognetta, os estagiários não se sentem prontos para lidar com casos de violência em sala de aula. “Muitas vezes, faltam instrumentos que os ajudem a entender como lidar com a questão. Mas, como esperar isso dos alunos se nem a escola está preparada para mediar esses conflitos?”, questionou.

Os convidados justificaram que as ações para combater essas violências não podem ser pontuais. É preciso ter em mente que professores e educadores nem sempre sabem da realidade pela qual seus alunos estão passando. Ambos acreditam que as agressões acontecem, muitas vezes, longe dos olhos dos professores, e se o bullying é um problema na convivência, é necessário restabelecê-la.

Ao ser questionado sobre as relações humanas, o professor explicou que a fragilidade do “eu” está mais presente nos tempos atuais, e, por esse motivo, as pessoas se desenvolvem com menos consciência e conhecimento de si mesmas.

Para lidar com situações de bullying contra pessoas com deficiência, como por exemplo em casos de Transtorno do Espectro Autista, é preciso paciência e cuidado. E, de acordo com a professora Luciene, é fundamental distinguir integração de inclusão. “Integração é receber determinado aluno e integrá-lo a um grupo, mesmo que ele exija cuidados especiais, independentemente das razões. Inclusão é mudar a realidade existente para que o aluno recém-chegado se sinta incluído naquela realidade. Desde mudanças na disposição da sala de aula até o comportamento de professores e demais pessoas na escola”.

Para encerrar, Tognetta comentou sobre a importância da Lei do Bullying, de 2015, que foi integrada à Lei de Diretrizes e Bases. “A legislação funciona como um alerta para que entendam que isso não pode ser visto como algo pontual, mas que existe na sociedade. É preciso dar conta desse problema. Se acontece, precisa ser resolvido. E quem não tem informações a respeito, precisa se informar para conseguirmos mudar esse cenário”, salientou.

Para ver a transmissão na íntegra, clique nos links da primeira parte e da segunda parte.

Saiba mais sobre bullying:
Lidar com aluno que pratica o bullying exige mais do que uma única intervenção
Bullying: 11 livros sobre essa prática do ponto de vista dos jovens
Programa NET Educação – Bullying: como combater essa prática na escola

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