O corpo é o primeiro instrumento de compreensão do mundo pelos bebês e crianças pequenas.  Mas se o movimento, a postura correta e o estímulo aos sentidos são preocupações presentes dentro da Educação Infantil, esses princípios são praticamente esquecidos após a transição para o Ensino Fundamental.  

“Existe um pensamento cientifico, baseado em René Descartes, no qual as emoções e funções do corpo são consideradas menores que as funções intelectuais. Isso, de alguma maneira, ainda está presente na nossa sociedade.  Porém, com a neurociência, observamos que mente e corpo não estão dissociados. Sabemos hoje que o cérebro está expandido para todo o corpo”, destaca o psicomotrista e psicólogo André Trindade, autor do livro “Mapas do Corpo – Educação Postural de Crianças e Adolescentes”.
 
Devido à grande quantidade de conteúdo que as escolas precisam passar – e levando em conta o método que em geral utiliza a escuta, a fala e a escrita, sem observar demais aspectos corporais –  a atenção ao corpo acaba por ficar restrita apenas às aulas de educação física. Contudo, nem sempre a disciplina consegue dar vazão às necessidades de crianças e jovens que ficaram sentados e imóveis por horas. “A questão, então, é como trazer essa preocupação com o corpo também para dentro da sala de aula”, complementa. 

Postura inadequada = perda de foco
Segundo André, uma postura inadequada e problemas de coordenação motora – como a dificuldade em organizar e entender o próprio corpo no espaço físico – podem refletir em problemas de atenção e em dificuldades cognitivas de crianças e adolescentes. 
 
“Podemos observar esta desorganização na postura sentada, que é a mais usada na sala de aula. Vencidos pelo cansaço, em razão de terem que manter essa postura por tantas horas, as crianças e os adolescentes perdem o eixo vertical do corpo e se esparramam nas cadeiras”, descreve. “Nesta situação, perdem a capacidade de manutenção da atenção e do foco, ficando menos seletivos em relação aos estímulos externos e internos, como os sons vindos de fora da sala, o próprio cansaço, pensamentos e devaneios”, ressalta. 
 
Outra consequência do expediente de até cinco horas sentado na mesma cadeira é a agitação, que pode vir a ser considerada como indisciplina.. 
 
Por fim, ele destaca que é importante o professor também conhecer o seu corpo e a sua postura antes de orientar os alunos. “Observando que os professores não recebem essa formação, reuni no livro ‘Mapas do Corpo’ as minhas pesquisas e observações clínicas sobre o tema”, explica. 
 
Driblando o problema
Para despertar o corpo e a circulação das pernas, o ideal seria que as crianças e jovens experimentassem alongamentos coletivos, pequenas caminhadas pelo espaço e mesmo o contato com ritmos a cada final de aula. Além disso, claro, a postura é importante. 
 
“Há a questão do mobiliário da escola, que segue padrões. Contudo, vemos crianças e jovens de diversos tamanhos numa mesma classe. Isso ocorre em todas as etapas de ensino. Assim, o jeito é criar adaptações”, explica. Um banquinho sob os pés, por exemplo, ajuda as crianças menores a terem apoio – algo importante para a postura. “Podem ser utilizadas, ainda, almofadas – para que elas tenham o encosto da coluna – e tapetes de borracha, que evitam que as cadeiras fiquem lisas e elas ‘escorreguem’, prejudicando a postura”, assinala. 
 
Um terceiro aspecto é a noção corporal. Como os estudantes passam muito tempo de frente para a lousa, é importante atividades que trabalhem a lateralidade. “Se você não estimula os lados, a noção de direita e esquerda é perdida. Estudos relacionam a falta de uso da lateralidade a problemas cognitivos”, adverte. 
 
André destaca ainda a importância dos recreios – hoje conhecidos como intervalos. “O recreio, antigamente, era esse espaço do movimento livre do corpo. Hoje temos intervalos cada vez mais curtos, pouco espaço e liberdade para as crianças se movimentarem”, reforça.  “O brincar não deveria ser perdido em nenhuma etapa”, finaliza.  
 
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