O Brasil conta com 306 milhões de dispositivos conectados a internet, a maioria (154 milhões) telefones inteligentes, segundo estudo da FGV, divulgado em 2015. Será impossível deixá-lo fora da sala de aula?

José Carlos Antonio
 – Desde que o smartphone se popularizou nunca foi verdadeiramente possível deixá-lo fora da sala de aula, salvo raras exceções onde as escolas gastam esforços e tempo demasiado na vigilância e repressão ao seu uso. Tempo esse que deveria ser gasto no ensino propriamente dito.

Os smartphones estão tão incorporados ao cotidiano das pessoas, das mais jovens até as mais velhas, que simplesmente já não podem ser descartados. Usamos smartphones como relógios, calendários, rede social, acesso aos bancos, plataforma de jogos, meios de informação e, até mesmo, como telefones.

Como se pode potencializar sua utilização para o ensino e aprendizagem?

Antonio – Na escola os smartphones têm uma infinidade de usos potencialmente pedagógicos e todos deveriam refletir sobre uma frase bem antiga que diz: “se não podemos vencê-los, porque não nos juntamos a eles?”. Por que não utilizá-los para compartilhar informações (textos, livros, dicionários), fazer registros (documentação da lousa, dos trabalhos, dos projetos), manter contato com outras pessoas, para colaborar a distância ou promover um ensino híbrido? Por que não explorar seus aplicativos (da calculadora e do calendário até aplicativos sofisticados que oferecem cursos completos na forma de games), por exemplo?

Claro que falta entendimento sobre como fazer e isso está intimamente ligado a necessidade de formação inicial e continuada de professores e gestores das escolas. É preciso compreender as mudanças de paradigmas que estão ocorrendo para poder compreender o potencial dos smartphones que está sendo desperdiçado em muitos locais. Essa compreensão não é simples e nem acontece “espontaneamente” na maioria dos casos, mas pode ser alcançada a partir da formação continuada dos professores e gestores.

Os professores tem dificuldade com smartphone em sala de aula. Essa frase é uma verdade ou é um mito?

Antonio – É uma frase totalmente verdadeira. Primeiro, porque a metodologia de ensino utilizada por muitos professores ainda segue pressupostos didáticos do século XX, elaborados para um modelo de escola do século XIX. Os professores foram educados nessa metodologia e muitas vezes desconhecem metodologias alternativas e mais modernas.

Segundo, porque muitos professores nunca tiveram a oportunidade de refletir sobre o potencial de uso pedagógico dos smartphones e, assim, “não sabem o que fazer com eles”. Não se pode querer que eles e gestores façam isso por conta própria. É preciso ajudar a escola a se inserir.

E, finalmente, muitos professores atualmente encontram enormes dificuldades em gerir suas salas de aula. Há desatenção, indisciplina, desinteresse, salas heterogêneas, e imaginam que o smartphone seria um problema a mais para esse quadro já caótico. O que falta, talvez, seja uma visão de que parte da solução desse problema esteja justamente no uso dos smartphones.


José Carlos Antonio
 é bacharel em física pela Unesp. Atua em programas de formação de professores, na área de EAD, novas tecnologias aplicadas à educação e leciona no ensino médio.

O “Smartphones” é um dos módulos de formação que faz parte do programa Educonex@o

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