Mais que um continente, a África é uma constelação de escritores. A literatura do país não fica a dever nada para a Europa em termos de criatividade, ou à dos Estados Unidos em termos de volume de lançamentos.
Muitos de seus expoentes ainda estão vivos, ou viram suas obras serem redescobertas pelas novas gerações, dada a atualidade dos temas que abordam – relações de poder, a importância de uma cultura local, o impacto da guerra, a construção de uma nação, entre outros. Confira abaixo oito obras de autores africanos contemporâneos que merecem ser conhecidos! Também saiba um pouco mais de cada autor.
Terra Sonâmbula, de Mia Couto
Editora Cia das Letras, 2007
No romance “Terra Sonâmbula”, Mia Couto conta duas histórias simultâneas. Durante a sangrenta guerra civil que devastou o país durante os anos de 1976 e 1992, um ônibus carbonizado serve de refúgio para o velho Tuahir e ao menino Muidinga. Rodeados de cadáveres, um corpo os chama a atenção. Junto dele, um diário, “cadernos de Kindzu”. A partir daí, a narrativa se alterna entre a viagem de Tuahir e Muidinga e flashbacks do diário de Kindzu em busca dos guerreiros tradicionais – os naparamas – que, abençoados pelos feiticeiros, são a esperança do fim da guerra. O livro ganhou o Prêmio Nacional de Ficção da Associação dos Escritores Moçambicanos e foi considerado um dos de melhores livros da literatura africana do século XX.
Mia Couto
“Os da Minha Rua”, de Ondjaki
Editora língua geral, 2007
Nesse livro de contos curtos, o autor Ondjaki transita entre memórias de infância e questões sócio-políticas de um país em guerra. Num passeio pela década de 1980, convida os leitores a escutar músicas, a visitar lugares, sentir com ele cheiros e partilhar lembranças. A perspectiva histórica se mistura com a narrativa intimista, deixando o leitor em dúvida se a obra trata de um relato autobiográfico. A obra foi premiada como o Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco
Ondjaki
O Vendedor de Passados, José Eduardo Agualusa
Editora Gryphus, 2004
Obra de ficção sobre um vendedor de passados falsos (Félix Ventura). Os narradores, entre eles uma osga (espécie de lagartixa), contam como Ventura se esmera em limpar o passado de sua clientela, formada por emergentes burgueses de Angola, políticos e generais. Um dia, aparece à sua porta um estrangeiro à procura de uma identidade. O resultado do encontro é uma sátira à sociedade angolana da época. O filme de mesmo nome, estrelado por Lázaro Ramos, chegou às telas em 2015.
José Eduardo Agualusa
Jornalista e agrônomo, lançou-se como escritor na década de 80 e é tido, atualmente, como um dos mais importantes escritores africanos dos últimos tempos. Em 2007, ganhou o Independent Foreign Fiction Prize pelo livro.
Mornas Eram as Noites, Dina Salústio
Editora Instituto da Biblioteca Nacional, 2002
Nos 35 contos que compõem o livro, as protagonistas – todas mulheres – ganham voz e, consequentemente, poder. O ponto de vista feminino dos “contos-crônicas” preocupa-se em dar liberdade às mulheres para partilhar seus anseios, medos, dificuldades, conquistas e inquietações. Apesar de ter como pano de fundo o cotidiano cabo-verdiano, poderiam se passar em qualquer lugar do mundo, trazendo à luz a universalidade da condição da mulher na sociedade moderna.
Dina Salústio
Os Flagelados do Vento Leste, Manuel Lopes
Vega Editora, 1991
Romance neorrealista, é uma espécie de “Vidas Secas” africano, abordando a seca em Cabo Verde e seus efeitos sobre o camponês, com foco na denúncia da opressão burguesa da época. Também mostra como, na desesperança, o povo não se solidariza. Pelo contrário, cada um cuida do que é seu para não perder o pouco que tem. Obra foi adaptada para o cinema em 1987.
Manuel Lopes
Ficcionista, cronista e ensaísta, é um dos expoentes do chamado movimento Claridade, inspirado na revista homônima de cultura e literatura criada em 1936 em Mindelo (Cabo Verde) e fundamental na campanha pela emancipação sócio-cultural e política cabo-verdiana. Escreveu dezenas de obras, notadamente de poesia, prosa e ficção.
Mayombe, Pepetela
Editora Leya, 1980
Pepetela
O Testamento do Senhor Nepomuceno, Germano Almeida
Editora Companhia das Letras, 1996
Uma crônica da vida em Cabo Verde, na época da colonização portuguesa. O Nepomuceno, que dá nome ao livro, é um dos homens mais ricos de Cabo Verde. Um sobrinho, que julgava ser seu único herdeiro, deve disputar com uma filha de Nepomuceno, que surge após a sua morte, para reivindicar a herança. É ela que ficará de posse de uma série de fitas K-7 em que o magnata narra sua vida.
Germano Almeida
Nikeche: Uma História de Poligamia, Paulina Chiziani
Editora Companhia das Letras, 2004
A obra é um dos livros de maior sucesso de Paulina e tem por foco um costume ainda arraigado na cultura de Moçambique: a poligamia. O romance foca o olhar e as vivências de Rami, a mulher de Tony, que descobre as várias mulheres de seu marido. A obra recebeu em 2003 o prêmio literário moçambicano José Craveirinha.
Paulina Chiziani