A reorganização escolar proposta pela Secretaria Estadual de Educação do Estado de São Paulo pauta-se na necessidade de separar os ensinos fundamental II e médio com a justificativa de que cada segmento seria melhor atendido em um local próprio e com a dedicação total por parte dos professores e funcionários. No entanto, alunos, pais ou responsáveis de alunos, funcionários e docentes, em geral, não foram consultados. Também, não foi divulgado nenhum estudo sobre os impactos que essas mudanças vão causar na comunidade escolar. Todos fomos surpreendidos!

Muitas famílias procuram escolas próximas às suas residências. São famílias numerosas, pelo menos nas periferias, que precisam trabalhar muitas horas por dia e em locais muito distantes de seus bairros e por isso tem pouco tempo para participar da vida escolar dos filhos. Assim, buscam escolas que acomodem o maior número de segmentos em um único local para facilitar seu contato com a escola. A separação dos segmentos prejudicaria essa dinâmica e agravaria essa falta de participação da vida escolar dos filhos.
 
Além disso, muitos irmãos menores são levados à escola pelos irmãos mais velhos. Se forem separados, a possibilidade de estudarem em escolas próximas é mínima. E como essas crianças irão para a escola? Os riscos de acidentes aumentarão, colocando-as em uma situação de vulnerabilidade.
 
Ainda, os funcionários e professores escolheram as unidades escolares em que estão como seu local de trabalho e agora terão que acompanhar um dos segmentos para onde forem alocados. A questão é: foi feito um estudo sobre como essa alocação influenciará a dinâmica da comunidade escolar que receber essa nova demanda? Isso resultou na ignorância total por parte dos alunos e funcionários, já que sequer fomos informados ou comunicados. Não haviam avisado nem mesmo os dirigentes de ensino. Pelo menos não na região do grande ABC. Somos questionados por alunos e pais e não temos informações para dar.
Outro fato é que os professores da rede estadual trabalham em outras redes de ensino, municipais e particulares, e há grande possibilidade de não conseguirem conciliar os dois empregos, tão necessários para constituir suas rendas familiares, porque não poderão escolher o horário de trabalho como faziam anteriormente.
 
Até o presente momento, não foi discutido como será a adaptação desse novo contingente – alunos, professores e funcionários – na nova unidade escolar, como será o critério de formação de sala de aulas, os alunos serão totalmente separados e se sentirão perdidos ou permanecerão em grupos e se isolarão do restante. Os alunos do ensino médio, por exemplo, têm a tendência de formarem grupos quase impenetráveis. E com os professores, como será feita a atribuição de aulas dos alocados?
 
Há muitos pontos que devem ser analisados. Um fato inquestionável é que o sistema educacional brasileiro precisa de reestruturação, pois é um sistema antigo para uma sociedade que mudou muito nas últimas décadas. Mas, essas mudanças devem ser discutidas com toda sociedade e quando aprovadas devem ser implantadas gradativamente para que os impactos negativos sejam minimizados.
 
Paulo freire, grande educador, proclamava que a função da educação é auxiliar os alunos a se tornarem sujeitos pensantes, capazes de compreender e apropriar-se criticamente do mundo. Para ele “o homem, ser de relações, e não só de contatos, não apenas está no mundo, mas com o mundo”. A sociedade precisa participar das decisões primordiais que dizem respeito aos seus interesses como a reorganização escolar. Exemplo de atitude oposta é o que está ocorrendo no estado de São Paulo hoje.
 
Herlen Cristina Pires é professora de língua portuguesa da Escola Estadual Professora Marta Teresinha Rosa, localizada em Mauá, região da grande São Paulo
 

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