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O Instituto Pró-Livro (IPL) apresenta, em 23 de setembro, os resultados de um estudo inédito que avalia o impacto da presença de bibliotecas escolares na aprendizagem dos alunos da educação básica. O evento acontece no Itaú Cultural, em São Paulo (SP).

Neste podcast, a coordenadora dessa pesquisa, intitulada “Retratos da Leitura – Bibliotecas Escolares”, Zoara Failla, analisa com exclusividade alguns dados do levantamento para o Instituto Claro.

Zoara Failla na Bienal Internacional do Livro, no Rio (crédito: divulgação Pró-Livro)

 

Realizado em parceria com o Insper, o estudo tem como objetivo contribuir com a formulação de políticas públicas voltadas à instalação de bibliotecas nas escolas. Segundo Failla, “foram entrevistados três atores que tem uma melhor percepção e avaliação sobre o funcionamento da escola: o diretor, um professor de português e o responsável pela biblioteca”.

A pesquisa deixa claro que esses espaços escolares são fundamentais no processo educativo dos alunos do ensino básico. “É interessante que, nas escolas com alunos que vêm de uma família – ou de um estrato socioeconômico – mais vulnerável, essas bibliotecas acabaram tendo um impacto muito mais positivo na avaliação desses alunos em Ideb e Saeb do que naquelas escolas menos vulneráveis”, atesta a entrevistada.

Foram avaliadas quase 500 escolas, distribuídas em 17 estados e em todas as regiões brasileiras. Cerca de 60 questões fizeram parte das entrevistas pessoais feitas com gestores/diretores, bibliotecários, responsáveis pelas bibliotecas ou salas de leitura e professores de língua portuguesa.

Para a análise dos dados e correlação com o desempenho dos alunos em português ou matemática no ensino fundamental I, segundo Ideb e Saeb, foram elaborados cinco indicadores que agregam os diferentes atributos das bibliotecas. São eles: espaço físico/instalações; recursos eletrônicos; atendimento e perfil dos profissionais; acervo; e serviços e atividades curriculares e extracurriculares de promoção da leitura e da pesquisa.

Além da diferença considerável para a compreensão das aulas de português, as escolas que possuem bibliotecas com instalações adequadas e profissionais bem preparados também renderam melhora no desempenho dos alunos em matemática.

“É uma prova de que, quando você pensa nessa disciplina, ela começa no enunciado dos problemas. Então aquele que tem essa compreensão leitora, aquele que tem esse hábito de leitura, de ler com frequência, ele tem uma capacidade analítica muito maior”, ressalta Failla.

No áudio, a coordenadora da pesquisa destaca ainda o papel fundamental na formação de professores comprometidos com a prática leitora e sobre a necessidade de indicar livros que conquistem os alunos, a fim de que sejam encantados pela leitura e, mais tarde, busquem obras clássicas. Aliás, foi isso o que aconteceu, por exemplo, com o poeta Sérgio Vaz, de quem resgatamos um trecho de depoimento dado a este portal em 2013.

Créditos:
Os trechos de músicas e poesias utilizados na edição do podcast, por ordem de entrada, são “O poeta aprendiz”, (Toquinho / Vinicius de Moraes), com Adriana Calcanhotto; “A procura da poesia” (Carlos Drummond de Andrade), por Paulo Autran; “Teorema de Pitágoras” (Músicas de Matemática); e “Mensagem de amor” (Léo Jaime).

Crédito da imagem: Chinnapong – iStock

Transcrição do áudio:

Vinheta “Instituto Claro”

Trilha Reynaldo Bessa de fundo

Marcelo Abud:
Bibliotecas na escola fazem diferença na aprendizagem dos alunos em pleno século 21?

Para responder a esta questão o Instituto Pró-Livro apresenta um estudo inédito que avalia o impacto da presença de bibliotecas na aprendizagem dos alunos da educação básica.

A pesquisa Retratos da Leitura – Bibliotecas Escolares é coordenada por Zoara Failla.

Zoara Failla:
Você tem que ser criativo pra levar o livro. O que a gente não pode é deixar essas crianças sem a possibilidade de acesso, de escolha a um livro. E a gente tem que pensar em alternativas que garantam esse direito a todas as crianças e a todos os alunos.

Música: “O Poeta Aprendiz”, Vinicius de Moraes e Toquinho
“Por isso fazia seu grão de poesia / E achava bonita / A palavra escrita”

Marcelo Abud:
O estudo foi conduzido pelo Insper – Instituto de Ensino e Pesquisa, com o objetivo de contribuir com a formulação de políticas públicas destinadas à instalação adequada de bibliotecas nas escolas.

Zoara Failla:
A ideia era que fosse representativa de Brasil. Foram quase 500 escolas em todas as regiões. Pra a escolha da mostra, o Insper olhou para os resultados da Prova Brasil, porque a gente queria saber, naquelas escolas onde os alunos têm melhor resultado, se existia uma biblioteca, e como é que esta biblioteca estava funcionando. E foram entrevistados acho que os três atores que têm uma melhor percepção e avaliação sobre o funcionamento da escola: que é o diretor, um professor de português e o responsável pela biblioteca. O questionário é bem abrangente, ele tem mais de 60 questões fechadas e abertas e a gente tentou olhar pra todas as dimensões da biblioteca.

Marcelo Abud:
Instalações, funcionamento, perfil dos profissionais, atividades e integração ao projeto e currículo escolar foram levados em conta na pesquisa Retratos da Leitura – Bibliotecas Escolares.

Zoara Failla:
Nessa mostra foram contempladas tanto escolas que estão numa região mais privilegiada, menos vulnerável, e aquelas mais vulneráveis. E é interessante que aquelas escolas que têm alunos que vêm de uma família ou de um estrato socioeconômico mais vulnerável, essas bibliotecas elas acabaram tendo um impacto muito mais positivo no resultado de avaliação desses alunos em Ideb e Saeb do que naquelas escolas menos vulneráveis.

Trilha de fundo de Reynaldo Bessa

Paulo Autran interpreta “Procura da Poesia”, de Carlos Drummond de Andrade
“Penetra surdamente no reino das palavras / Lá estão os poemas que esperam ser escritos”

Zoara Failla:
Uma conclusão que a gente chegou foi a de que, realmente, quando você tem uma família leitora, que tem livros em casa, participa de feiras literárias, de visitas a livrarias, a biblioteca ela não é tão impactante quanto naquelas famílias e naqueles alunos que não têm livro em casa, que a família tem baixa renda, que não é uma família leitora, que é uma família com pouca escolaridade. Nessas famílias e nesses alunos que vêm dessas famílias mais vulneráveis a biblioteca tem um papel fundamental. Interessante como a possibilidade de acesso ao livro, à pesquisa, acabam tendo um resultado muito positivo nas avaliações desses alunos.

Marcelo Abud:
A coordenadora da pesquisa comenta um resultado que considera surpreendente.

Zoara Failla:
A gente olhou pra português, porque achou que seria mais visível qualquer resultado – afinal de contas a gente está falando de bibliotecas, de literatura. Mas foi interessante que a gente encontrou resultados positivos também em matemática, o que mostra o quanto a leitura é importante não só de literatura, de livros, mas para compreensão leitora. É uma prova de que quando você pensa na matemática, ela começa no enunciado dos problemas. Então, aquele que tem essa compreensão leitora, aquele que tem esse hábito de leitura, que lê com frequência, tem uma capacidade analítica muito maior. A conclusão que a gente chegou quando identificou esse resultado foi exatamente essa: que a matemática depende da sua capacidade de ler e de entender o enunciado.

Música “Teorema de Pitágoras”, Músicas de Matemática
“Entre de cabeça nessa / Temos que perder o medo / O quadrado da hipotenusa é igual / A soma dos quadrados dos catetos”

Marcelo Abud:
O estudo deixa claro que todos os aspectos somam para o bom resultado que a leitura pode gerar.

Zoara Failla:
A gente elencou cinco grandes dimensões: estrutura física e manutenção; acervo; perfil desses profissionais e a atuação do professor e do bibliotecário; recursos tecnológicos – informática –; e o funcionamento – ela tá aberta, não tá aberta, quantos dias ela fica aberta. A gente tem que investir em todas essas dimensões, mas eu acho que a gente deve começar pela formação do professor. Se você não tiver um professor leitor, você pode ter uma biblioteca super equipada – ela pode estar com o acervo atualizado, ela pode tá aberta –, mas, se você dentro da sala de aula, você não está despertando esse interesse, você não desenvolveu atividades que levem esse aluno pra dentro da biblioteca, não adianta. Você pode ter uma biblioteca maravilhosa, assinada lá pelo Oscar Niemeyer, da arquitetura, não adianta.

Marcelo Abud:
Ainda neste sentido, a pesquisa aponta que um professor leitor faz toda a diferença no estímulo ao bom uso das bibliotecas.

Zoara Failla:
O que é imprescindível é um professor comprometido com essa prática leitora, que seja um mediador; um bibliotecário ou um responsável pela biblioteca que facilite esse encontro do livro com essas atividades que o professor tá propondo; e acervos – materiais, que sejam atualizados e que estejam ‘linkados’ às atividades que eles estão desenvolvendo. Isso é fundamental.

Música “Mensagem de Amor”, Léo Jaime
“Os livros na estante / Já não têm mais tanta importância / Do muito que eu li, do pouco que eu sei, nada me resta”

Zoara Failla:
Na “Retratos da Leitura”, a gente perguntou para os professores o que eles estavam lendo, o que eles gostavam de ler. E, infelizmente, o perfil leitor dele é muito parecido com o perfil leitor do brasileiro. Menos de 50% dos professores estavam lendo algum livro nos três meses anteriores da pesquisa. E quando você pergunta o que ele está lendo é autoajuda, é livro religioso. Então, ele não é um professor leitor. Dificilmente, ele vai conseguir desenvolver atividades ou práticas leitoras que sejam mobilizadoras, que sejam sedutoras pra conquistar esses alunos, que hoje tão nas redes sociais. Então, se você não desenvolver atividades que sejam envolventes, que sejam significativas pra essa garotada, vai ser difícil você despertar o interesse deles pelo livro e pela leitura.

Marcelo Abud:
O que pode transformar uma pessoa que lê por obrigação em uma que tem seu interesse despertado para a leitura por paixão?

Zoara Failla:
A gente precisa achar o livro que nos conquiste. E aí, a gente fala no mediador de leitura, porque esse ‘achar’, a gente não pode deixar isso por conta do acaso. Mediadores de leitura são fundamentais hoje, por conta desse grande apelo da tecnologia, das redes, de mil linguagens eletrônicas. Aí essa mediação é muito importante. Primeiro, porque eu acho que uma boa mediação carece do olhar pro outro. Quando eu vou oferecer um livro pra alguém eu tenho que conhecer quais são os interesses dessa pessoa, qual é o momento dessa pessoa, que tipo de assunto pode estar interessando. E não adianta eu ficar indicando clássicos e canônicos pra uma pessoa que nunca leu. Eu acho que ele tem que desenvolver esse interesse, esse hábito e essa frequência a partir de leituras que sejam envolventes, interessantes e significativas para ele.

Marcelo Abud:
Este é o “caminho das pedras” de muitos leitores e escritores, como o criador dos saraus da Cooperifa, Sérgio Vaz.

Sérgio Vaz:
Tentei ler um livro chamado “Eram os deuses astronautas”, não entendi nada, e meu pai teve a sensibilidade de comprar os livros infantis. Eu praticamente fui introduzido à literatura pelo meu pai, passei pros infanto-juvenis, até chegar nos clássicos, essas coisas todas. Então fui muito influenciado pelo meu pai, pela leitura. E assim sempre gostei de ler. Eu me sentia meio estranho de morar na periferia nos anos 70, adolescente, gostar de literatura, enquanto os meus amigos não gostavam, né?

Marcelo Abud:
Zoara Failla acredita que, ao se despertar o interesse para um livro, o hábito se torna um capítulo natural desta narrativa. E a história prossegue rumo a uma leitura mais elaborada até que os clássicos sejam finalmente alcançados.

Com apoio de produção de Daniel Grecco, Marcelo Abud para o Instituto Claro.

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