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Confira a transcrição do áudio

A professora Aretha Braz dá aulas para turmas do 2º ano do ensino fundamental da Escola Municipal Antonio Pietruza, em Curitiba (PR). Para ela, “a inclusão vai além do cumprimento de normas e determinações e a empatia deve ser praticada todos os dias na escola”.

Foi com esse pensamento em mente que a professora notou a falta de participação da família de um de seus alunos. “Asaf me contou que os pais não entendiam os bilhetes, porque são surdos.”

Diante da dificuldade, Braz decidiu enviar os recados utilizando a Língua Brasileira de Sinais (Libras). “Eu traduzia letrinha por letrinha do para eles”, conta. Com isso, os pais começaram a responder as mensagens e a frequentar as reuniões na escola.

O êxito da ação a motivou a oferecer o “Momento Libras” para os alunos. “Eu pego 30/35 minutos do final da aula para ensinar a língua para eles”.

Aretha Braz com o boneco Hugo, confeccionado por ela para o “Momento Libras” (crédito: arquivo pessoal)

 

Para ampliar o repertório, ela, que já tinha noção da língua, pois havia estudado durante a formação universitária, buscou videoaulas e utilizou o aplicativo brasileiro “Hand Talk”. “Ele ajuda muito a aprender as palavras; dá para falar com o intérprete (Hugo) e você pode tanto escrever palavras e frases quanto falar para ele traduzir em Libras.”

A professora diz compreender quando colegas de profissão relutam ao novo aprendizado, mas se esforça para que percebam a importância de se adquirir ao menos uma noção da segunda língua oficial do país. “Futuramente, a gente pode ter um aluno surdo e precisa, realmente, poder acolher essa criança”, enfatiza.

Além da busca pela ampliação do “Momento Libras” para todos os interessados na escola, Braz trabalha pela inclusão do conteúdo no plano curricular. Junto com a irmã, ela apresentou um projeto na Prefeitura de Curitiba. O objetivo é o mesmo que a trouxe até aqui: incluir pais e alunos em todas as atividades escolares. 

Link:
Curso online e gratuito para o aprendizado de Libras, disponibilizado pela Universidade de São Paulo (USP)

Transcrição do áudio:

Aretha Braz:
Digamos que eu receba uma criança surda, essa criança vai poder ter o auxílio tanto da professora quanto do amigo. Futuramente eu gostaria que os profissionais tivessem esta capacidade de dar aula em Libras para as crianças. Por isso que eu estou lutando para entrar no plano curricular.

Meu nome é Aretha. Eu sou professora do ensino fundamental, trabalho há 9 anos já, na rede pública municipal de Curitiba.

Vinheta: “Instituto Claro – Educação”

Música instrumental, de Reynaldo Bessa, de fundo

Marcelo Abud:
Docente da Escola Municipal Professor Antonio Pietruza, Aretha Braz defende que a Língua Brasileira de Sinais seja ensinada a professores e alunos. Neste podcast, ela explica que investiu no aprendizado das Libras, ao saber da dificuldade dos pais de Asaf, aluno do 2º ano do ensino fundamental, em participar da vida acadêmica do filho.

Aretha Braz:
Aí ele veio me contando que os pais deles não entendiam os bilhetes, porque são surdos. Daí eu comecei a conversar com ele e buscar meios para eu poder colocar eles mais no ambiente da escola; que eles pudessem entender o que estava acontecendo na escola com o filho, pra participarem mais das reuniões. Como já gosto de Libras, eu falei: “Ah está aí um ponto chave pra eu poder me aprimorar mais no que eu gosto e poder apresentar para a turma”.

Música: “Seduzir” (Djavan)
“Vou andar, vou voar / Pra ver o mundo / Nem que eu bebesse o mar / Encheria o que eu tenho de fundo”

Aretha Braz:
Eu traduzia mesmo letrinha por letrinha do alfabeto em Libras pra eles. E o primeiro bilhete que eu traduzi, a mãe do Asaf já assinou pra mim. Porque ela é alfabetizada, consegue escrever o nome dela, ela entende algumas coisas. Ela começou a ir na escola, ela não teve mais medo de ir até a porta pra conversar comigo. Depois disso ela começou a se soltar, participou das reuniões; o pai dele ia sempre buscar ele, ia até a sala, pra conversar comigo quando ele podia entrar na escola. Então eles se sentiram mais acolhidos. O pai dele toda vez, mas toda vez que ele ia buscar o Asaf ele chorava, porque eu sempre fazia um painel na porta com alguma atividade em Libras que as crianças tinham feito, foto, e ele ficava muito emocionado.

Música: “Vamos dar as mãos e cantar” (Antônio Marcos)
“Vamos dar as mãos, vamos dar as mãos / Vamos lá, e vamos juntos cantar”

Aretha Braz:
Então, isso me motivou bastante: a inclusão dos pais, não é? Fala muito em inclusão dos alunos, mas eu acho muito importante a inclusão dos pais também, né?

Marcelo Abud:
Para a professora, o aprendizado da Língua Brasileira de Sinais é indicado para toda a comunidade escolar.

Aretha Braz:
Eu acho muito importante, sim, por quê? Hoje, não tem nenhum aluno surdo na minha escola, mas, futuramente, a gente pode ter um aluno surdo e a gente precisa realmente poder acolher essa criança. E não assim, de repente a criança ‘caí de paraquedas’ lá e até ir atrás de uma intérprete ou alguma coisa assim, eu acho interessante as professoras já terem pelo menos a noção básica da língua, para acolher essa criança.

Marcelo Abud:
Aretha Braz percebe e compreende a resistência de alguns colegas de profissão em aprender Libras, mas ressalta a importância de se empenhar nesse sentido.

Aretha Braz:
É muita demanda de conteúdo que a gente precisa dar, uma coisa a mais aprendendo ficaria difícil. Eu não acredito que ficaria difícil. Na verdade, é uma língua que todos deveriam saber, é a segunda língua do Brasil, então, você tem que aprender.

Marcelo Abud:
Com a internet, há recursos que facilitam este aprendizado.

Aretha Braz:
Ele está totalmente à disposição, porque tem aplicativo, tem videoaulas… Vai muito, na verdade, do interesse do profissional.

Música: “E vamos à luta” (Gonzaguinha), com Maria Rita
“Eu vou à luta com essa juventude / Que não corre da raia a troco de nada”

Marcelo Abud:
Aretha já tinha interesse por Libras antes de se tornar professora. Quando sentiu necessidade de aprofundar o nível de conhecimento no assunto, fez uso de um aplicativo gratuito.

Aretha Braz:
Então a dica que eu dou, assim, do básico, do básico mesmo pra começar, é o aplicativo Hand Talk, porque ele ajuda muito a prender as palavras; dá pra você falar com o boneco intérprete, o nome dele é Hugo, e você pode tanto escrever a palavra que você queira (palavra ou frases), quanto falar em áudio e ele traduz em Libras.  É um aplicativo bem fácil de acesso e é fácil de mexer nele, de manipular.

Marcelo Abud:
Apaixonada pelo visual do mocinho de óculos, gravata azul e tênis vermelho, a professora mandou confeccionar um boneco Hugo, de feltro, que a acompanha em atividade que desenvolve como projeto de inclusão na escola desde 2019: o Momento Libras”

Aretha Braz:
É um momento que eu pego 30/35 minutos do final da aula, pra ensinar a Língua Brasileira de Sinais pra eles. Então, eu ensino os cumprimentos básicos e, a partir disso, eu vi o interesse das crianças e fui ensinando mais coisas pra eles. Eu digo que eles estão estão num nível bem bom, assim… (risos)

Marcelo Abud:
O aprendizado da nova língua trouxe ganhos para a motivação e o entendimento também de tópicos das disciplinas tradicionais.

Aretha Braz:
Eu comecei bem do básico mesmo com eles, assim, colocando o alfabeto na parede, daí já instigou. E tem um aluno específico da minha sala que ele não reconhecia as letras e depois que eu coloquei o alfabeto pra ele, eu acho que ele foi ligando, de tanto ele fazer o sinal ele já foi entendendo e aprendendo e isso foi muito gratificante. Eu achei um ponto bem positivo, assim.

Música: “Bê-a-bá” (Toquinho / Elifas Andreato), com Toquinho
“Com A escrevo amor, com B bola de cor, / Com C eu tenho corpo, cara e coração. / Com D ao meu dispor escrevo dado e dor, / Com E eu sinto emoção!”

Aretha Braz:
E contagiar as crianças, porque não foi uma coisa forçada, as crianças começaram a gostar da Libras, então eu fui mostrando pra eles. Então, eles, nossa eu amo de paixão; muitos pais na reunião falaram que baixaram o aplicativo, que estavam procurando cursos também pra fazer, para conversar com os pais do Asaf. Porque são vizinhos, muitos pais moram muito perto um do outro, então eles ficam meio acanhados de conversar porque eles não sabem, né?

Marcelo Abud:
O objetivo de Aretha Braz é ampliar o Momento Libras para outros segmentos da escola e também para além dos muros da instituição.

Aretha Braz:
Todo mês nós temos cursos dentro da prefeitura. E a prefeitura ofertava e, em 2009/2010, cortaram. Então, eu quero que volte isso para as professoras. E a gente tem que cumprir horários de cursos dentro da prefeitura e ter incluindo o curso das Libras, né?

Música instrumental, de Reynaldo Bessa, de fundo

Marcelo Abud:
Depois de conquistar alunos e pais, Aretha tem proposto a inclusão da Língua Brasileira de Sinais no plano curricular das escolas municipais de Curitiba.

Aretha Braz:
Tanto os profissionais quanto as outras pessoas que não trabalham na área da educação, elas devem se permitir aprender Libras. Gente, é maravilhoso e está em todo lugar, né, tanto na área da educação, na área da saúde, na área administrativa… A minha palavra para isso é: permitir-se, permitir-se a aprender Libras.

Marcelo Abud:
Com apoio de produção de Daniel Grecco, Marcelo Abud para o Instituto Claro.

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