Uma nova geração de professores mais adaptados à tecnologia já chegou às escolas. Contudo, para a professora da pós-graduação em educação da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), Martha Kaschny Borges, os educadores mais jovens possuem mais dificuldade em transpor a tecnologia do dia a dia para a prática pedagógica.

“Uma hipótese é que o professor novato, por ainda não ter tanta experiência, apoia-se em práticas tradicionais, que ele conheceu. Os profissionais com mais experiência, por segurança, conseguem ousar mais e propor práticas pedagógicas mais inovadoras, o que é paradoxal”, analisa a docente da linha de pesquisa educação, comunicação e tecnologia.

Borges é uma das palestrantes do Congresso de Educação Básica 2018, onde falará sobre “Cultura digital e novas aprendizagens: desafios para a prática docente”.

O que você destacaria como desafios para o professor na relação entre cultura digital e aprendizagem?

Martha Kaschny Borges: Um desafio é conseguir compreender como se dão essas novas formas de aprendizagem usando a tecnologia. Temos algumas contribuições da área da neurociência, sobre funcionamento cerebral, mais poucos estudos no campo da psicologia. Isso ajudaria a entender melhor o processo. Como o aluno apreende? A partir disso, é possível pensar novas formas de ensino. Um exemplo: sabemos que os jovens são multitarefas e que há um prejuízo cognitivo nisso: eles não conseguem se concentrar em todas as atividades simultaneamente, manifestando uma atenção fragmentada. Um desafio, então, é a escola instrumentalizar esse jovem para o desenvolvimento de uma atenção focada, que influencia na aprendizagem.

Qual deve ser o olhar do professor para a tecnologia?

Martha Kaschny Borges: Dizemos que os alunos precisam desenvolver uma leitura mais crítica dessa tecnologia posta, mas o professor deve ser o primeiro a fazer isso, a passar por esse processo, para ensinar. Houve uma mudança, nos últimos cinco anos, do aluno dos cursos de pedagogia e licenciaturas. Ele não precisa mais passar por uma formação de informática, como no passado. A tecnologia já está incorporada na forma como ele se comunica, relaciona, no seu lazer, na forma como estrutura sua aula, entre outras. Porém, este professor novato apresenta dificuldade para transpor essas novidades para a prática pedagógica.

Por que isso acontece?

Martha Kaschny Borges: Uma hipótese é que o docente novato, por ainda não ter tanta experiência, apoia-se mais em práticas tradicionais, que ele conheceu. Os profissionais com mais experiência, por segurança, conseguem ousar mais e propor práticas pedagógicas mais inovadoras, mesmo que não usem tecnologia. Nesse sentido, é paradoxal: o professor mais novo que tem mais facilidade para tecnologia, apresenta dificuldade na hora de propor práticas inovadoras.

Quais caminhos ajudariam o professor novato a incorporar a tecnologia nas suas práticas pedagógicas?

Martha Kaschny Borges: Penso que a gestão tem um papel importante aqui, principalmente para buscar formação para esses professores e para promover espaços de troca entre eles. Esse intercâmbio entre o colegiado beneficia a todos e torna mais rápido e fácil o desenvolvimento do docente novato. Irá estimulá-lo a pensar outras práticas e ousar. Já quando a gestão, por exemplo, dificulta o acesso do professor e dos alunos aos laboratórios de informática, não promove trocas, esse desenvolvimento fica prejudicado.

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