As festas do Dia das Mães e do Dia dos Pais na escola estadual Prof. Alvino Bittencourt, em São Paulo (SP), eram para ser momentos de celebração e alegria. Contudo, os diretores notavam tristeza por parte dos alunos que não tinham ou não podiam conviver com uma das figuras. Foi quando a gestão substituiu tais comemorações por duas edições anuais do Dia da Família, que foi batizado como “O Dia de Quem Cuida de Mim”.

“O objetivo do projeto é acolher as diferentes constituições familiares. A festa é comemorada no Dia das Mães e dos Pais para contemplar todas as diversidades que a nossa comunidade apresenta”, resume a vice-diretora, Simone Lopes Guidorizzi. “A festa é aberta a todos: pais, mães, avós, irmãos, tios ou quem a criança desejar convidar. Há apresentações de danças, poemas, teatro e outros”, completa.

Três anos depois, a data está bem consolidada no calendário da escola e é aguardada com ansiedade pelas crianças e jovens. “Uma situação emocionante foi de uma avó que cuida de quatro netos que estudam juntos na escola. Para estas crianças, a avó representa a figura do pai ou mãe”, assinala Guidorizzi.

Novas configurações

A opção por comemorar o Dia da Família está de acordo com os novos arranjos das estruturas familiares brasileiras. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), de 2015, revelam que o perfil familiar composto por pai, mãe e filhos representa 42,3% dos lares no país. Uma queda de 7,8 pontos percentuais em relação a pesquisa de 2005, quando tal perfil abrangia 50,1% das moradias. Em contrapartida, os lares chefiados por mães solteiras saltaram de 10,5 milhões para 11,6 milhões no mesmo período. Apesar do aumento no número absoluto, a representatividade caiu de 18,2% para 16,3% entre 2005 e 2015. Isso porque outros tipos de família cresceram mais proporcionalmente.

Apesar dos alunos das escolas públicas refletirem essa nova realidade, a substituição do Dia das Mães e dos Pais pelo Dia da Família ainda provoca estranhamento. Foi o que aconteceu com Elenilda Peres, em 2013, quando era diretora-adjunta da escola municipal Prof. Ilza Junger Pacheco, em Guapimirim (RJ).

“Quando fiz a proposta, a diretora-geral não gostou da ideia. Disse que estávamos excluindo as mães. Porém, a lógica é exatamente a oposta: ninguém é excluído. Outras pessoas que fazem parte da estrutura familiar podem entrar”, desmistifica. “O fato é que estamos em uma comunidade vulnerável, na qual o tráfico é uma realidade. Penso que havia um receio de abrir a escola para toda a comunidade, enquanto isso deveria ser algo natural”, acrescenta. O Dia da Família foi realizado com o apoio de colegas e acontece desde então. Atualmente, Peres é a diretora-geral da escola e reforça a importância da festa.

 

“Envolve a família na escola e as crianças ficam extremamente felizes de se verem incluídas na celebração”, pontua. “Nossos desafios, agora, são outros. A quadra é descoberta e contamos com a sorte de não chover. E nos anos em que conseguimos montar um palco, é uma felicidade geral”, comemora.

Canal de comunicação

Para os professores e gestores que desejam adotar o Dia da Família, as diretoras transmitem algumas dicas. A primeira delas é conversar com a comunidade para sensibilizá-la sobre a importância da data. “A comunicação foi por meio de um convite, que explicou sobre o evento e seu significado para todas as crianças. No nosso caso, a aceitação foi unânime”, orienta Guidorizzi.

Já Peres recomenda que a gestão busque a ajuda dos professores. “Eles terão boas ideias sobre as atividades a serem realizadas. Na nossa escola, o Dia da Família é só o ápice de uma programação que acontece durante a semana. Há rodas de debates sobre temas diversos e os alunos ensaiam peças e apresentações musicais com o apoio dos docentes”, conta. “Além disso, quando temos uma equipe unida, os desafios que surgem ficam minimizados”, decreta.

Por fim, a própria escola pode escolher o melhor momento para celebrar a data. “Optamos por fazer uma única festa, em março, quando há menos atividades programadas na escola”, justifica Peres.

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